Luto

Escritor, cientista e dramaturgo Angelo Machado morre aos 85 anos

Autor de quase 50 livros, alguns deles transformados em grandes sucessos do teatro mineiro, ele sofreu uma parada cardíaca; velório acontece nesta terça (7) só para familiares

Seg, 06/04/20 - 15h09

Ele costumava dizer que a libélula era o "bicho mais bonito do mundo depois da sua mulher." O inseto causou tanto impacto no então adolescente Angelo Machado que acabou sendo não só uma de suas paixões, como também alvo de suas pesquisas. Considerado uma das figuras mais queridas e respeitadas de Belo Horizonte, o premiado escritor, dramaturgo, professor, cientista, ambientalista e entomólogo (especialista em insetos) mineiro morreu na manhã desta segunda-feira (6), aos 85 anos. Ele sofreu uma parada cardíaca. O velório e o enterro estão marcados para hoje, no Parque da Colina, mas, devido às medidas para evitar aglomerações, serão restritos aos familiares. Angelo Machado foi casado com a pesquisadora Conceição Ribeiro da Silva Machado, que morreu em 2007. Ele deixa quatro filhos (Lúcia, Flávia, Paulo Augusto e Eduardo) e sete netos.

Paulo, um dos filhos, informou que Angelo estava internado desde sexta (3) no Hospital Biocor. O pesquisador estava finalizando um livro de memórias em sua casa na Pampulha quando teve um problema de aspiração do próprio refluxo. "O papai estava com uma degeneração muscular muito séria há um tempo e estava sendo assistido 24 horas. Por conta disso, estava tendo dificuldades de de se locomover, além de deglutir, de respirar. Na sexta, ele aspirou o próprio refluxo e acabou sendo internado", explicou o filho. Ele acrescentou que o pai estava se recuperando bem, mas acabou sofrendo uma parada cardíaca na manhã de ontem. "Esse livro de memórias dele já estava quase no final. Vou reunir com meus irmãos e, quem sabe, concluí-lo, até como uma forma de homenageá-lo", revelou.

Nascido em 22 de maio de 1934 em Belo Horizonte, Angelo pertencia a uma família ligada às letras - era filho do escritor Paulo Machado, sobrinho dos escritores Aníbal e Lúcia Machado e primo da dramaturga Maria Clara Machado, fundadora da escola de teatro O Tablado, do Rio de Janeiro.

Autor de quase 50 livros, sobretudo para crianças e adolescentes, Angelo teve sete deles transformados em peças de teatro, como a comédia "Como Sobreviver em Festas com Buffet Escasso", com Carlos Nunes, um dos maiores sucessos de público dos palcos mineiros, tendo sido assistida por aproximadamente 800 mil pessoas. Em outubro do ano passado, ele estreou seu último espetáculo, “A Comédia dos Defuntos sem Cova”, encenada no Teatro da Cidade. 

Ao longo de sua trajetória, Angelo recebeu, entre outros, os prêmios Jabuti de literatura infantil (1993), com o livro “O Velho da Montanha, uma Aventura Amazônica” (Ed. Melhoramentos), e Sesc-Sated de melhor texto de teatro infantil (1996), pela peça “O Casamento da Ararinha-Azul”, que também virou um curta de animação em 2012. Na produção, é possível conferir um outro talento de Angelo Machado, o de compositor. A canção”Não Sei Viver Sem Seu Amor” foi composta pelo professor em homenagem à mulher, dona Conceição, e entrou na trilha-sonora do filme.

Médico sem exercer

Formado em Medicina em 1958 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele mesmo costumava brincar que, para a sorte dos doentes, acabou não exercendo a profissão. Criou o Laboratório de Neurobiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais e o Centro de Microscopia Eletrônica. 

Como entomólogo, descreveu 48 novas espécies e quatro gêneros de libélula. Seu nome foi incorporado a 27 seres vivos, entre libélulas, borboletas, besouros, aranhas e até um fungo, como homenagem de outros pesquisadores a ele. Em 2015, Angelo doou sua coleção de libélulas, a maior da América do Sul, para a UFMG. A coleção pessoal com mais de 35 mil exemplares era composta por 1.052 espécies reunidas ao longo de 65 anos de pesquisa. 

Angelo ocupava a cadeira de número 26 da Academia Mineira de Letras, cujo patrono é Evaristo da Veiga. Fundada por José Eduardo da Fonseca, a cadeira 26 também foi ocupada por Mário Casassanta, Henriqueta Lisboa, Lacyr Schettino, João Batista Megale e Bartolomeu Campos de Queiroz. Ele também era membro das Academias Brasileira de Ciências e Mineira de Medicina.

 

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