Além da pandemia

‘Estamos vendo uma destruição programada, é um método’, diz Antonio Fagundes

Ator, convidado do Sempre um Papo desta segunda-feira (20), critica o governo Bolsonaro e diz que teme pelo futuro do país

Por Bruno Mateus
Publicado em 20 de julho de 2020 | 13:31
 
 
Apaixonado por literatura, Antonio Fagundes usa as redes sociais para incentivar o hábito da leitura @antoniofagundes/Reprodução

Um assunto em específico deixa Antonio Fagundes angustiado, não bastasse ter que ler notícias cotidianas sobre a pandemia do novo coronavírus, que mata milhares de brasileiros dia após dia. “Na área da saúde a gente vê saídas, embora nosso governo não ligue muito para isso. Mas o resto do mundo liga e, bem ou mal, vamos acabar aproveitando uma vacina, um avanço científico”, pondera. O que mais aflige o ator é a situação política do país: para Fagundes, o projeto do governo Bolsonaro é motivo de preocupação maior.

Ele diz que a gestão federal, desde que assumiu o país em janeiro de 2019, vem mostrando claramente seu propósito – e é justamente isso que tira o sono do ator. “O que estamos vendo é uma destruição programada de tudo que a gente conquistou a duras penas até agora, sem nenhuma proposta de futuro. Vamos ter que trabalhar muito durante décadas para resgatar aquilo que tínhamos conquistado, não digo nem para avançar”, opina. “A destruição é um método”, ele acrescenta.

É bem possível que o ator volte a falar sobre isso nesta segunda-feira (20). Antonio Fagundes é o convidado da edição virtual do Sempre um Papo, que também recebe o ator Rodolfo Vaz em um bate-papo mediado pelo gestor cultural e escritor Afonso Borges. Na roda da conversa online, que acontece às 18h e será transmitida ao vivo no YouTube e no Facebook do projeto, o tema “A Vida Como Ela É/Será” seguramente deixará portas abertas para reflexões a respeito da pandemia e dos acontecimentos sociais e políticos no país.

Sobre o tema, Fagundes diz logo que fazer previsões e exercícios de futurologia nunca dá certo, mas admite, destacando seu lado realista: ele não acredita em mudanças para melhor. “Acho que o que existia antes da pandemia vai continuar exacerbado depois: as coisas boas e as coisas ruins”, observa o ator.

Sinônimo de uma trajetória premiada e respeitada em mais de 50 anos na TV, no cinema e no teatro, é com este último que Fagundes se mostra mais aflito e apreensivo. Segundo ele, a TV e o cinema vão encontrar meios para continuar suas produções, mas o teatro, que ele chama de “pátria do ator”, tem um futuro incerto com a pandemia, já que pressupõe o encontro dos artistas com o público.

“O teatro é um fenômeno social inigualável, é lá que o ator exercita, erra, ousa, alça voo, se comunica. Sinto muito que a pandemia tenha vindo para estragar essa nossa relação, será outra coisa que vamos custar a retomar. O teatro precisa do público. A aglomeração do teatro é a revolução”, ressalta.

Paixão pelos livros

Fagundes é apaixonado por literatura, um dos temas que também deve aparecer na live desta segunda. Durante a quarentena, o ator, que mora no Rio de Janeiro, tem conseguido ainda mais tempo para se dedicar aos livros: “Tenho lido três por semana”. O ator comanda o podcast “Clube do Livro”, que mergulha no universo literário e estreou em setembro de 2019 no Gshow, dentro do portal da Globo. Quando ele ia dar início a segunda temporada, a pandemia interrompeu seus planos. “Estou me organizando e vou ver se faço de casa. Se der certo, lançamos daqui a um mês”, comenta.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

E hoje são livros completamente diferentes uns dos outros 😅 #fafadigital

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Por falar em redes sociais, Antonio Fagundes criou um perfil no Instagram em janeiro. Desde então, usa o espaço virtual para incentivar a prática da leitura ou postar fotos de seus trabalhos – como do espetáculo teatral “Hair”, de 1969, ou da série “Carga Pesada”. Bem-humorado, às vezes usa gírias como “sextou” e “eles que lutem” nas legendas de postagens mais divertidas. “Está sendo muito interessante, uma descoberta de um canal de comunicação que eu tinha ignorado, mas continuo ‘analfabyte, continuo não sabendo nada”, diverte-se o ator.