Pode parecer "coisa de novela" afirmar que uma pessoa tem dois tipos distintos de DNA, mas não é. A condição genética chamada de quimerismo foi abordada em "Travessia" é real e raríssima: há apenas 40 casos comprovados em todo o mundo.
No folhetim da Rede Globo, Brisa (Lucy Alves) é uma personagem que correu o risco de perder a guarda dos filhos após o exame de DNA realizado ter dado negativo. Mais tarde, descobre que ela pode ter sido fruto de uma gestão de gêmeos, mas apenas ela teria nascido. No entanto, ele teria herdado o material genético do irmão, que não nasceu.
Embora não seja nada comum, é possível que uma pessoa tenha dois DNA. “O quimerismo é uma condição genética extremamente rara, com poucos casos registrados em humanos. Ela se caracteriza pela presença de duas sequências genéticas distintas, presentes em populações de células diferentes. Isso significa que o indivíduo quimera possui duas informações genéticas diferentes, como se fosse duas pessoas em um único corpo”, explica o Ricardo Di Lazzaro, mestre em genômica humana e CEO do laboratório Genera.
Para o especialista, a forma com que Gloria Perez abordou bem o assunto na novela, principalmente ao mostrar que exames de DNA em pessoas com quimerismo podem apresentar resultados divergentes. “O material coletado no teste (da saliva ou sangue) pode ser diferente do material presente no ovário. Isso pode explicar a incompatibilidade do material analisado, da Brisa, com o de seu filho”, explicou.
Devido à raridade da condição, há poucos estudos relacionados ao tema. Com relação à saúde das pessoas, Ricardo explica que “não há nada comprovado sobre complicações no desenvolvimento da pessoa com quimerismo, porém há alguns estudos que apontam uma maior predisposição a doenças autoimunes, como lúpus e esclerose sistêmica”.
Atualmente, é possível identificar a situação com testes que identificam e mapeiam o material genético que ajudam a descobrir detalhes sobre ancestralidade e sobre a própria saúde. No entanto, Ricardo alerta ressalta que não é preciso fazer exames apenas para descobrir ou não a condição. O quimerismo pode não apresentar nenhum sintoma ou complicação ao longo da vida e o indivíduo nunca ter conhecimento da condição, então salvo alguns casos com suspeita não é necessário investigação”, finaliza.