Aos 54 anos, Fernanda Torres construiu uma carreira diversificada, transitando pela TV, pelo cinema, pelo teatro e também pela literatura.

Com a imagem mais atrelada ao humor – onde ela nada de braçada – , ela retorna à telinha nesta terça-feira (8) na segunda temporada da série “Filhos da Pátria”, da Globo.

Em conversa com O Tempo, a filha de Fernanda Montenegro garantiu que o humor – que permeia toda a série escrita por Bruno Mazzeo – não se presta apenas a criticar, mas também é uma boa maneira de abrir discussão sobre diversos temas.

“Estamos vivendo um momento muito complicado”, disse. “Hoje em dia, temos fatias da sociedade que não conversam a mesma língua. Então, o que para você seria um direito, para o outro é uma ofensa. E nós chegamos a isso. Por isso acredito que o humor é uma boa maneira de abrir o diálogo”, disse a atriz, em referência ao atual momento político do país e à polarização instaurada na sociedade.

Dedo na ferida?

No segundo ano de “Filhos da Pátria”, críticas e alfinetadas é o que não vão faltar, passando a ideia de que qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência – há muitas referências ao governo Bolsonaro e seus integrantes. 

 

Já tava com saudade da Maria? 😁 #FilhosDaPátria pic.twitter.com/sgjarDd0R0

— Globo (@RedeGlobo) September 25, 2019

Fernanda explica que o objetivo da história, que agora se passa na década de 30, é “mostrar as mazelas que o Brasil ainda não resolveu” e que se repetem ao logo dos anos. “O Brasil é baseado no patriarcalismo, que é uma ideia de que ‘para a minha família é tudo, primeiro a minha família’; o patrimonialismo, que é defender os seus interesses e os do seu grupo; e a questão da escravidão, que eu acho que nunca foi resolvida. Essas são as mazelas que fizeram a gente chegar aqui, e acho que elas ainda são muito presentes. A série fala disso”, garantiu.

Ponto de vista

Bastante crítica com os acontecimentos recentes do país, a atriz e escritora afirmou que “o Brasil é um país que está sempre zerando para começar de novo”. “Fazemos assim: agora vamos acabar com tudo que está aí porque não presta, vamos começar do zero. Aí, nunca se aprende com o que aconteceu antes, estamos sempre destruindo o que foi feito. Têm políticas de governo e políticas de Estado. Mas tem uma confusão aí. Muda o governo, e tudo que era política de Estado vai junto com o novo”, observou.

Ela também comentou sobre o atual momento da atividade artística, alvo de muitas críticas, principalmente por causa da Lei Rouanet. “A cultura hoje é vista como inimiga. Ela bate de frente com algumas questões do governo, então é claro que isso ia acontecer”, pontuou.

“Esse discurso de que a classe artística ‘mama nas tetas’ do governo, ouvimos toda hora. Se agravou agora, mas também vem de antes. A série é uma excelente reflexão da nossa sociedade, independentemente de quem esteja no poder”, ressaltou.

Ingênua e perversa

Na nova temporada da série “Filhos da Pátria”, os personagens viajaram no tempo – se no primeiro ano a história se passava no período pós-Independência do Brasil, agora ela é ambientada na década de 30, na era Getúlio Vargas. 

 

Geraldo Bulhosa na área! 😬 #FilhosDaPátria pic.twitter.com/vfT776C2Hc

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Os personagens continuam os mesmos. Fernanda Torres é Maria Teresa Bulhosa, matriarca da família da qual a trama gira em torno. Materialista e elitista, a personagem é uma defensora ferrenha de valores que ela, definitivamente, desconhece. Ela sonha em fazer parte da alta sociedade. “A Maria Teresa somos nós, uma tia que conhecemos. Todos temos algo dela. Algumas pessoas mais, outras, menos”, disse a atriz.

“Ela é tão ingênua que você gosta dela, embora ela seja um monstro. É uma pessoa que você quase tem pena dela; por outro lado, ela é terrível. Então não tem ninguém igual, é ela”, definiu Fernanda.

Os Bulhosa

Alexandre Nero (Geraldo), Fernanda Torres (Maria Teresa), Lara Tremouroux (Catarina) e Johnny Massaro (Geraldinho) formam a família Bulhosa. Jéssica Ellen interpreta a empregada Lucélia.

(*) O jornalista viajou a convite da Globo