Audiovisual

Filmes abordam acontecimentos políticos recentes no país e buscam reflexão

O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a crise na democracia brasileira e a operação Lava Jato foram temas de produções cinema

Por Bruno Mateus
Publicado em 16 de junho de 2019 | 03:00
 
 
Documentário "O Processo" mostra os bastidores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) Nofoco/Divulgação

Sempre que há uma convulsão social ou um momento de crise democrática em determinado país, alguns setores das sociedade se debruçam para entender esses fenômenos. No caso do Brasil, acontecimentos políticos recentes foram levados às telas por cineastas em filmes e documentários.

O material é abundante. Apenas nos últimos seis anos, tivemos as chamadas jornadas de 2013, a fortíssima polarização de um país dividido em duas cores, a operação Lava Jato, políticos presos, o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) entre abril e agosto de 2016 e, por fim, a eleição de Jair Bolsonaro (PSL).

O projeto mais recente sobre as tensões políticas no país estreia mundialmente na Netflix na próxima quarta-feira. “Democracia em Vertigem”, da cineasta belo-horizontina Petra Costa, aborda a crise da democracia no Brasil. O documentário tem relatos da diretora em diferentes situações, como o primeiro voto, em 2002, e acompanha momentos dos governos dos ex-presidentes Lula, Dilma e Temer, até chegar à eleição de Bolsonaro em outubro passado. 

“Todo cinema é político”, diz Maria Augusta Ramos, diretora de “O Processo”, que foca os acontecimentos da queda de Dilma. Maria Augusta, porém, pondera que, embora trate da realidade, o cinema não deve ser panfletário, ao mesmo tempo em que nunca será neutro.

“Não existe imparcialidade em documentário nem em jornalismo. O Brasil vive um momento delicado, e o papel legítimo do cinema é denunciar e se opor a certas coisas”, avalia o jornalista e cineasta Douglas Duarte, diretor de “Excelentíssimos”, que também joga luz sobre o processo de impeachment da petista.

Sobre o debate se há ou não cinema de esquerda e de direita, Douglas Duarte diz que a discussão deve se nortear por outros recortes. “Alguns filmes tentam entender o momento, outros querem surfar num certo clima de histeria política e se engajam em gerar isso. No ‘Excelentíssimos’, minha principal missão foi entender o que estava acontecendo”, defende. 

Maria Augusta Ramos destaca que, para além de todas as ideologias, é fundamental o comprometimento com a verdade e com a ética e que o cinema seja instrumento de reflexão, de documentação e preservação da memória coletiva e de fortalecimento da democracia.

É natural haver uma grande quantidade de projetos audiovisuais ligados a fatos políticos, sobretudo em momentos de grandes inquietações sociais e descontentamento da população. Essa é a opinião de Tomislav Blazic, produtor de “Polícia Federal – A Lei É Para Todos”, filme que trata da Lava Jato. Para ele, são temas difíceis, e a população, em geral, é bombardeada com milhares de notícias e acaba buscando outras formas de informação.
O filme recebeu críticas por, supostamente, ser uma peça de defesa da operação. “Não temos nenhum lado político. Estamos tratando de fatos reais, somos apartidários”, pondera Blazic.

Em 2017, Josias Teófilo viajou para os Estados Unidos. O objetivo era gravar “O Jardim das Aflições”, filme sobre o pensamento do escritor Olavo de Carvalho. Para o cineasta, a obra, lançada naquele mesmo ano, não tem nenhum caráter político, apesar de colocar como protagonista o guru intelectual da família Bolsonaro e personagem frequente de polêmicas nas redes sociais.

Segundo o pernambucano, a distinção de cinema de esquerda ou de direita não deve entrar em debate. “Não acho que exista isso. O que temos são pessoas de esquerda e de direita que fazem filmes, e isso acaba influenciando as produções”.