A família Araceae

Inhotim inaugura nova exposição botânica no Google Arts

Além das imagens e descrições das plantas, a iniciativa traz áudios de profissionais do instituto e de experts na área, com curiosidades e usos das aráceas no cotidiano

Seg, 21/09/20 - 18h48
Em junho último, o Instituto Inhotim inaugurou a sua primeira exposição botânica na plataforma Google Arts and Culture.  “Resistência, diversidade e sabedoria: os segredos do Jardim Desértico”, a mostra em questão, e como seu próprio nome já indicava, lançava seu foco sobre plantas - como o mandacaru e o ora-pro-nobis, para citar duas - conhecidas pela capacidade de vingar e se tornarem exuberantes mesmo em ambientes com pouca água disponível. A partir desta terça-feira (22), quando começa a primavera, aficcionados por este tema vão poder acessar uma segunda iniciativa, agora direcionada a uma família cujas integrantes podem ser vistas em abundância no jardim botânico localizado em Brumadinho: as aráceas.
 
 "É uma família bastante representativa do nosso acervo. É praticamente impossível ircular pelos jardins do Inhotim sem se deparar com uma, seja num canteiro ou encobrindo tronco de árvores, quase como se vestindo outras plantas", diz a bióloga Sabrina Carmo, coordenadora do Jardim Botânico do Inhotim, que apresentou a empreitada aos jornalistas em coletiva virtual realizada no início da tarde desta segunda-feira.
 
Nem todas as pessoas vão associar o nome à planta, mas, sim, é fato: as aráceas são familiares mesmo àqueles que não são assim, tão enfronhados no universo da botânica. Neste grupo de plantas estão, por exemplo, o antúrio e o copo-de-leite, bem como algumas de uso notório na culinária, como a taioba e o inhame. Não bastasse, uma outra que recentemente virou queridinha na decoração, chegando inclusive ao universo fashion, representada em brincos e estampas: a costela-de-adão. 
 
Na verdade, são mais de 3 mil espécies descritas na literatura botânica dentro deste nicho particular. "É uma família impressionante do ponto de vista morfológico. Embora muitos a reconheçam pelo formato de seta ou coração, há vários outros, e com bordas lisas, ou recortadas, ou onduladas.... E, também cores múltiplas, assim como tamanhos ... Tem para todos os gostos. Brinco que se fosse um álbum de figurinhas, seria enorme", diz a coordenadora, acrescentando que a família está em alta com o movimento urban jungle.
 
Na conversa com jornalistas, Sabrina reconheceu que a experiência presencial é, claro, insubstituível. Ver a planta ao vivo, perscrutar suas caractéristicas e mesmo tocá-las. Mas enquanto o Inhotim não reabre para visitação, a bióloga entende que a plataforma escolhida pelo instituto é "excelente, com imagens em ótima qualidade e  vários recursos".
 
"Aliás, entendemos que a pandemia acelerou o processo de digitalização de acervos  e disponibilizaçãos mesmos para o público em muitas instituições. Então, essa iniciativa é mais uma entrega dentro deste contexto. E algo muito especial nesta exposição online é a possibilidade de mostrar as espécies em suas particularidades. Aqui, podemos apresentar a individualidade de cada planta, a história por trás daquele exemplar botânico, como é cultivado, seus possíveis usos (seja alimentar, cultural ou mesmo como medicamento). Enfim, uma série de outras informações. Então, esse é o nosso convite, que o usuário se aproxime de uma família botânica que tem muitos atrativos e particularidades".
 
Além das imagens (clicadas por João Marcos Rosa, conhecido expert em fotos de botânica) e descrições das plantas, a exposição conta com áudios de profissionais do Inhotim e de convidados experts na área com curiosidades e usos das aráceas (leia mais abaixo). 
 
Aspectos pouco conhecidos pelo público leigo revelam-se bem curiososo, como o fruto da Costela de Adão. "É um fruto saboroso, cujo sabor, alguns comparam a uma mistura de abacaxi com banana. Não consigo descrever assim, mas penso que tem características marcantes. Reza a lenda que era o preferido da princesa Izabel", diz Sabrina, salientando, porém, que não se deve consumir o fruto verde, por conteroxalato de cálcio. Mas bem, há várias outras espécies que aparecem no material que será disponibilizado juntamente à chegada da primavera, como o imbé-gigante (Philodendron danteanum G.S. Bunting), nativo da Venezuela.
 
Confira, aqui, algumas curiosidades do material:
 

O paisagista Roberto Burle Marx tinha notável interesse por aráceas, principalmente pela diversidade de formas. Seu interesse no grupo surgiu quando ainda era menino, e o acompanhou durante toda a vida;
 

Há espécies com folhas que possuem mais de 2 metros de comprimento!
 

Aráceas são tão importantes na linguagem paisagística de Inhotim que se tornaram a segunda família mais representativa de seu acervo botânico;
 

A principal ameaça as aráceas é a perda e redução de seus habitats naturais. Algumas espécies são altamente adaptadas à ambientes específicos e não podem sobreviver em condições alteradas. A remoção das florestas tropicais elimina a maioria das espécies terrestres, trepadeiras e epífitas, muitas das quais são dependentes da sombra das árvores;
 

No viveiro do inhotim está uma das maiores espécies de philodendron do mundo. Suas folhas, ao toque, lembram o couro, o tamanho de suas folhas tem a ver com a necessidade de captar luz solar, já que vivem abaixo das árvores gigantes da Amazônia.
 

O material do Inhotim traz um áudio informativo da professora Claudia Mattiuz, professora de paisagismo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), sobre o philodendron mayoi. E outro de João Eduardo, viveirista parabotânico do Inhotim.
 

Dignas de notas são as folhas do veludo preto, que têm nervuras em branco sobre a cor verde metálica enegrecida.
 

O tinhorão, por seu turno, não deve ser deixado em ambientes com crianças ou animais, por ser uma planta extremamente tóxica. Mas é muito apreciada no paisagismo, pelas suas folhas com ranhuras em rosa, branco ou vermelho.

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