Orquestra

Afinando o instrumento 

Sob nobre supervisão, Filarmônica de Minas Gerais realiza testes acústicos em sua nova casa, a Sala Minas Gerais

Sáb, 21/02/15 - 03h00
Bambas. O inglês Michael Barron (esq.), referência em comportamento acústico de salas de concerto, e o arquiteto José Augusto Nepomuceno, que projetou a Sala, faziam ajustes ontem durante ensaio da Filarmônica | Foto: FERNANDA CARVALHO / O TEMPO

Ignorando a poeira que ainda paira sobre o chão de madeira e os assentos da pomposa Sala Minas Gerais, Fabio Mechetti circula pelo espaço, de um lado para o outro, mantendo os olhos atentos ao palco. Ora sentado ora de pé, o regente titular e diretor artístico da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais presta atenção na sonoridade, estala os dedos marcando o ritmo e, em dado momento, pede aos cerca de 70 músicos para que troquem de lugar, reconfigurando toda a disposição instrumental do palco. É que ontem aconteceram os primeiros testes acústicos da nova casa da Filarmônica, que contaram com a renomada presença do inglês Michael Barron e do norte-americano Christopher Blair, duas referências em comportamento acústico de salas de concerto.

Responsável pela arquitetura e coordenador da equipe de acústica da Sala Minas Gerais, José Augusto Nepomuceno conta que o convite para participar do projeto partiu do maestro Mechetti, que o contatou em outubro de 2008. “Assim que li a mensagem que ele me enviou, soube que seria um trabalho muito importante. Afinal, essa é a primeira vez que se projeta uma edificação arquitetônica para ser uma sala de concertos no Brasil”, pontua, lembrando que as outras grandes salas brasileiras do gênero vieram de reformas de espaços já existentes.

Nepomuceno explica que, pela primeira vez, uma equipe de acústica participou ativamente da concepção do projeto, o que representa um ponto de virada na forma de projetar esse tipo de espaço no Brasil. “Brincamos que a sala de concertos é como se fosse um outro instrumento. Então, agora estamos afinando esse instrumento”, compara. “O projeto é para ser a melhor sala contemporânea de concertos do mundo. E é muito gratificante fazer isso aqui, abaixo da linha do Equador. Queria que os alemães um dia viessem para cá assistir aos nossos concertos da mesma forma que vamos para lá”, ressalta.

Para alcançar a maestria pretendida pelo projeto, o arquiteto decidiu convidar Barron, Blair e outras referências em acústica de salas de concerto. “O doutor Barron é o mais importante cientista na área da pesquisa em acústica musical no mundo. É impossível falar do assunto sem citá-lo”, afirma Nepomuceno.

Michael Barron conta que sua especialidade são as maquetes, usadas para definir os parâmetros acústicos das salas – no caso da Sala Minas Gerais, maquetes usadas nas escalas 1:75 e 1:50. “Os resultados estão muito animadores. Acredito que em breve Belo Horizonte vai perceber a qualidade desse espaço”, garante o inglês.

Engenheiro de som e também regente, o norte-americano Christopher Blair explica a função dos dois principais equipamentos da Sala Minas Gerais: o difusor acústico móvel em madeira – suspenso acima do palco por cabos de aço – e as bandeiras acústicas motorizadas – localizadas nas laterais da sala –, “abraçando” a orquestra e o público. “As bandeiras servem para absorver o som. Assim, ouvimos com mais clareza o que a orquestra toca. Elas também permitem alterar a sonoridade, balancear a reverberação”, diz. “Já o difusor ajuda a expandir o som, de acordo com a altura em que é colocado. Além de ser decorativo. Músicos amam madeira”, brinca o profissional.

Nepomuceno explica que os testes acústicos passam por dois momentos. O primeiro é subjetivo, calcado na observação e na audição de Mechetti e dos integrantes da equipe. O segundo é técnico, parametrado por números de decibéis que definem as reverberações da música. E é aí que Barron entra. “Os testes numéricos são basicamente os mesmos, em qualquer sala. Usamos cerca de cinco módulos que testamos e comparamos com valores aceitáveis, para ver como o som se propaga no espaço do ambiente. Além de conferir se há ecos, o que definitivamente não pode acontecer”, explica o especialista.

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