O fim do ano se aproximava quando uma notícia triste abalou a comunidade do samba em BH. Aos 35 anos, morria Mestre Jonas, no dia 30 de dezembro de 2011, vítima de um acidente vascular cerebral. O músico e artista plástico era uma das figuras mais queridas e carismáticas da cena, tendo idealizado projetos como o Samba da Madrugada e o Samba do Compositor.
Àquela altura, já havia a ideia de criar um concurso de marchinhas na capital, fruto de uma provocação do radialista Tutti Maravilha, que questionava o fato de a folia na cidade ser dominada por músicas da Bahia e do Rio de Janeiro. Como resposta, Tutti recebeu 38 músicas de ouvintes, que comprovavam que, em Minas, também se criavam músicas sobre a festa momesca.
“Percebemos que havia uma produção musical incipiente voltada para o Carnaval e decidimos valorizar nossos artistas. Então, criamos o baile, que também havia caído em desuso”, explica Kuru Lima, produtor e um dos idealizadores da iniciativa, ao lado de Brisa Marques, Tutti Maravilha, Thiago Delegado e “mais uma turma da cena cultural da cidade”, conta Lima. Assim nascia, em 2012, o Concurso de Marchinhas Mestre Jonas, cujo nome homenageava o amigo perdido por eles havia poucos meses.
“A gente quis eternizar o Mestre Jonas, para que não acontecesse com ele o mesmo que ocorreu com vários outros autores mineiros importantes, de quem hoje em dia, infelizmente, ninguém se lembra mais”, diz Lima. De lá pra cá, o concurso se tornou uma febre, com mais de mil canções inscritas, entre elas algumas que se tornaram hits nacionais, como “Na Coxinha da Madrasta” (Flávio Henrique) e “Baile do Pó Royal” (Alfredo Jackson, Joilson Cachaça e Thiago Dibeto). “A marchinha tem esse poder de traduzir a insatisfação coletiva de um jeito irreverente”, avalia Lima.
Disputa
Nesta sexta (14), a nona edição do concurso elege uma nova marchinha campeã. A cantora e professora de canto Celinha Braga defende na final a sua composição “Mimosas Borboletas”. Para interpretar, ela terá a companhia de suas alunas Flora Guerra, Brenda Andrade e Jhessica Vilas. A canção surgiu a partir de um espetáculo musical, que, por sua vez, foi inspirado na marchinha “O Bloco das Mimosas Borboletas”, de Fátima Guedes.
“Tratamos o tema do feminino de maneira gostosa, leve, e, ao mesmo tempo, política”, informa Celinha. Sobre o tom da marchinha, ela afirma que, “no contato com alunas mais velhas, compreendeu que, quando a abordagem é mais agressiva, o resultado acaba sendo o contrário do desejado”. A letra da música diz: “Nós somos as borboletas/ Nós somos rosa, verde, branco e violeta/ A liberdade, a transformação/ Respeita nosso grito e não é não”.
Tradição
Celinha tem história no concurso. No ano passado, ela interpretou “A Caixinha do Queiroz” e, há cinco anos, participou como jurada. “O Carnaval é o momento em que a gente expõe de forma brincalhona os nossos sonhos e ideais”, destaca Celinha. Brisa Marques, que ajudou a fundar o festival e já foi intérprete, apresentadora e compositora, estreia como jurada nesta edição. Além das marchinhas, ela irá votar no “Hit do Carnaval”, categoria criada em 2019.
“O hit tem que ser chiclete, aquele que gruda na cabeça. A performance também conta muito”, diz Brisa. Outra disputa esperada é a da melhor fantasia da festa. Os foliões não costumam decepcionar. “O Carnaval é para sair do normal e ser o que você quiser”, conclui Lima.
Veterana
Há 45 anos, o fim do bloco Leões da Lagoinha deu início à Banda Mole, uma das manifestações mais tradicionais do Carnaval de BH. Neste sábado (15), a partir das 13h, saindo da avenida Afonso Pena com rua da Bahia, a data será comemorada com um desfile de gala e receberá os blocos Então, Brilha! e Baianas Ozadas, entre outros.
Reafirmando sua irreverência, a Banda Mole traz como tema deste ano a educação e alfineta o ministro da pasta, Abraham Weintraub. Já em Ouro Preto acontece o primeiro Concurso de Músicas Satíricas, organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos da Ufop.
Serviço
Final do Concurso de Marchinhas Mestre Jonas 2020, nesta sexta (14), às 20h, no Mercado Distrital (rua Opala, S/N, Cruzeiro). De R$ 20 a R$ 40.
Desfile da Banda Mole, neste sábado (15), das 13h às 22h, na av. Afonso Pena, entre as ruas da Bahia e Guajajaras. Gratuito.