Denise Fraga lembra que, no curso de sua carreira, constantemente lhe sugeriam encarar uma montagem na qual estivesse sozinha em cena. “Mas eu tinha muita resistência. Na verdade, ainda tenho”, ri. O que teria feito, então, a atriz a ceder e investir em “Eu de Você”, espetáculo que chega agora à capital mineira?
“A verdade é que, nessa peça, não estou sozinha, mas com elas”, explica, referindo-se às pessoas que lhe confiaram as histórias que reconta no palco, numa trança (palavra empregada por ela) que envolve, ainda, poesia e música. Na verdade, arte de uma forma geral.
As histórias chegaram a Denise por meio de um chamamento. “Postamos um vídeo nas redes sociais propondo que trilhássemos caminhos que as pessoas já haviam trilhado. E também usamos um espaço a que eu tinha direito em um jornal”, lembra. Findo o prazo estipulado para o envio, Denise e equipe tinham em mãos nada menos que 300 histórias.
Numa sofrida peneira, ficaram 25. “Era um material muito delicado. Histórias de vulnerabilidade, aquelas que as pessoas não postam nas redes sociais. Nos sentimos imbuídos de muita responsabilidade, pois as pessoas demonstraram uma confiança extrema ao confiá-las a nossas mãos. Por isso costumo dizer que, mais do que uma peça, essa iniciativa passou a ser uma experiência humana. Eu me envolvi com esse ‘pacote de cartas’ – imageticamente falando – e tinha que fazer algo que não fosse leviano, tampouco que soasse melancólico. Porque não queria um espetáculo triste – e algumas histórias nos davam mostras da epidemia de melancolia que assola o país. A nossa grande bandeira foi descobrir como falar com leveza da tristeza do cotidiano”, avalia.
Colcha de retalhos. Aliás, ela credita a isso o sucesso (a peça estreou no ano passado, em Porto Alegre, tendo já passado também por São Paulo). “Ela (montagem) ‘pega’ (o espectador) num lugar no qual todos se rendem um pouco. É louco. Costumo brincar que é que nem música do Roberto Carlos: não tem quem nunca tenha cantado um verso de uma música dele”.
Denise lembra-se de uma espectadora em particular que fez uma observação que a tocou. “Ela disse: ‘Vocês fizeram uma colcha de retalhos que, ao fim, cobre todos nós’. É isso. O Luiz Villaça (diretor da peça e marido da atriz) teve um insight que foi o de uma história desembocar em outra, de forma espontânea. A primeira vez que entrei na sala de ensaios, foi sem um texto prévio, apenas as histórias no chão”, recorda.
Ela lembra, ainda, que os autores de duas das histórias a ela delegadas foram convidados a assistir ao ensaio, “pois os casos implicavam uma exposição grande”. “Depois, perguntamos como se sentiram, e um deles disse: ‘Livre. Agora parece que estou livre’. Então, acho que, para ele, funcionou como uma espécie de psicodrama – embora eu tenha aflição de etiquetas”.
No geral, ela entende que as histórias entregues estão na peça embaladas por arte e poesia. “Lançando um olhar generoso à existência. Entendendo que a vida por vezes é foda, mas, ainda assim, bela. E se você está triste, se ler um poema de (Fernando) Pessoa, no mínimo, sofrerá mais bonito ao saber que o sofrimento é o mesmo dos poetas”, filosofa.
Uma personagem, Tânia, se repete na peça. “Ela nos mandou uma história muito boa, dilacerante. Todos nós, de certa forma, nos identificamos com o cotidiano que ela descreve, de Powerpoints, metas a cumprir... Depois, ela nos retornou, dizendo: ‘Continuo aqui, com as planilhas Excel, mas me alivia saber que minha história está sendo levada a outras pessoas que também estão às voltas com planilhas Excel’”, diz Denise, frisando, ainda, que a empreitada não guarda semelhanças com a série de TV “Retrato Falado”, que protagonizou. “Lá, as histórias tinham começo, meio e fim, e outro viés”, assinala a atriz.
Já o nome da peça, “Eu de Você”, ela lembra que veio de pronto. “Ele traz a ideia master da peça, que é a questão da alteridade, a importância de se colocar no lugar do outro. Ia falar empatia, mas acho que essa palavra está gasta. Mas algo que buscamos desde o início é aquilo que nos é comum, o que toca a todos, neste país hoje tão dividido, no qual as pessoas usam verbos tão acirrados para apontar as diferenças”, analisa.
O QUÊ. “Eu de Você”, com Denise Fraga. Direção de Luiz Villaça.
ONDE. CCBB BH (praça da Liberdade, 450).
QUANDO. Desta sexta ao dia 16, de sexta a segunda, e de 20 a 22, de sexta a domingo, sempre às 20h.
QUANTO. R$ 30 (inteira).
E MAIS. Neste domingo, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a atriz conversará com o público às 15h. Entrada franca. Retirada de senhas uma hora antes do início.
ONDE. CCBB BH (praça da Liberdade, 450).
QUANDO. Desta sexta ao dia 16, de sexta a segunda, e de 20 a 22, de sexta a domingo, sempre às 20h.
QUANTO. R$ 30 (inteira).
E MAIS. Neste domingo, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a atriz conversará com o público às 15h. Entrada franca. Retirada de senhas uma hora antes do início.