100 anos

Exposição no Rio abre as comemorações do centenário de Lygia Clark

Obra da artista ganhará espaço pelos museus do mundo

Por Etienne Jacintho
Publicado em 16 de setembro de 2019 | 03:01
 
 
Lygia Clark Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark/divulgação

Pela primeira vez, uma exposição de Lygia Clark (1920-1988) tem como foco não somente a obra da artista, mas também sua vida. Esse olhar íntimo de “Respire Comigo: Lygia Clark” – em cartaz a partir de amanhã, no studio om.Art, espaço idealizado por Oskar Metsavaht no Rio de Janeiro – vem dos diários que ela deixou e da memória de sua família. A mostra teve como embrião do monólogo “Lygia”, projeto da atriz Carolyna Aguiar, com direção de Bel Kutner e Maria Clara Mattos, que também assina o roteiro. A peça, aliás, será apresentada durante o período da mostra. 

“Tudo começou quando a Carolyna veio ao meu ateliê participar de um evento sobre a Lygia”, conta Ale Clark, neta da artista. “Ela queria saber mais sobre a Lygia, e não sobre as obras. Então, propus que lesse o diário da minha avó”, lembra Ale, que ajuda a família nesta manutenção da obra e da memória de sua avó, especialmente agora, às vésperas do centenário de nascimento de Lygia Clark. 

A exposição do Rio abre o calendário de comemorações da data. Durante o período da mostra no studio om.art, haverá o lançamento do selo comemorativo do centenário de Lygia Clark, criado e assinado por Oskar Metsavaht, a convite da Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark. Já ano que vem, a artista ganhará exposições individuais no Guggenheim Bilbao, na Espanha, em março; no Arco Lisboa, em Portugal, em maio; e no Peggy Guggenheim Collection – Veneza, na Itália, em julho.

Sensoriais

Ale conta que a escolha do studio om.art para abrigar a abertura do centenário não foi aleatória. “Como é uma galeria não comercial, quiseram falar da artista, e não só da arte”, explica. “Montamos a exposição a partir do monólogo, então, vamos mostrar os diários originais de Lygia, as réplicas de objetos sensoriais que poderão ser manipulados, além de uma vitrine com os ‘Bichos’ de Lygia, tratados como criaturas, e não só como objetos de arte, que era o que Lygia queria”, afirma Ale, que contou com o apoio curatorial de Felipe Scovino.

A intenção de Lygia com o seu trabalho era anular o afastamento entre obra e espectador. “Estamos fazendo uma exposição que segue os desejos dela”, diz Ale. No decorrer do ano, a associação O Mundo de Lygia Clark quer colocar no ar um portal com um banco de dados para pesquisa gratuita sobre Lygia.

Serviço: “Respire Comigo: Lygia Clark”, de 18/9 a 27/10, de quarta a sexta-feira, das 14h às 19h; sábados e domingos, das 11h às 18h. Haverá uma abertura Preview ArtRio no dia 17/9, no studio om.art, na rua Jardim Botânico, 997, Rio de Janeiro. Entrada gratuita.

Diários inspiram monólogo

Toda a concepção da exposição “Respire Comigo: Lygia Clark” veio do monólogo “Lygia”, idealizado pela atriz Carolyna Aguiar, encantada pelos diários da artista, que foram emprestados a ela pela neta de Lygia, Ale Clark.

“O grande motivador da peça é entregar para as pessoas uma Lygia que o público desconhece”, atesta a dramaturga Maria Clara Mattos. “Acho que este é o grande diferencial: colocar o espectador na mesma cadeira que a Lygia, como se ele pudesse acompanhar o processo inteiro (de criação), e não só o resultado”, comenta.

O monólogo – assinado por Carolyna Aguiar, Maria Clara Mattos e Bel Kutner – será apresentado paralelamente à exposição, também no studio om.art, com estreia no próximo dia 25, às 20h. Depois disso, a partir do dia 26, a peça será apresentada às quintas-feiras, às 20h; e aos sábados e domingos, às 19h, acompanhando o período da mostra, até 27 de outubro. “Lygia” é recomendada para maiores de 14 anos.

"Lygia Clark sempre teve coragem para questionar a própria obra, romper padrões e convidar o espectador a sair da passividade e se ‘desalienar’ através das experiências que ela propunha”, afirma a atriz Bel Kutner, que responde pela direção do espetáculo. Para Ale Clark, o monólogo ajuda o público a entrar na proposta de mostrar Lygia como pessoa, tendo suas obras como exemplificação de suas ideias e de seus ideais.