Literatura

Guilherme Mansur recorda os anos da “Poesia Livre” 

Redação O Tempo

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 09 de setembro de 2013 | 03:00
 
 
Poeta, artista e editor criou a revista “Poesia Livre” na década de 1970 jeffrey oakar

Além de reunir cerca de 60 publicações, hoje em dia raríssimas, de um vasto grupo de autores enquadrados como poetas marginais, a mostra “Poesia Marginal – Palavra e Livro”, em exibição no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, recorda a importância de revistas literárias, como a “Poesia Livre”, organizada pelo poeta, artista gráfico e editor mineiro Guilherme Mansur, na década de 1970.

 

Ele conta que o projeto recebia poemas de escritores brasileiros como Paulo Leminski, Alice Ruiz, Eduardo Kac, Francisco Alvim, Affonso Romano de Sant’Anna, Carlos Ávila, Régis Gonçalves e Otávio Ramos. “Os textos chegavam pelo correio. As pessoas ficavam sabendo da revista e me procuravam. Os poetas Nicolas Behr e José Paulo Paes, por exemplo, foram colaboradores e uma leva muito boa de escritores circulou por aquelas páginas”, afirma Guilherme Mansur.

Com uma tiragem de cerca de mil exemplares, as revistas eram colocadas em sacos. Metade era distribuída por correio e a outra era vendida em eventos de cultura e em algumas livrarias que expunham iniciativas independentes. “Naquela época havia alguns lugares ecléticos que vendiam arroz integral com poesia marginal. A ‘Poesia Livre’ também chegava ali”, brinca Mansur.

Fundador da Tipografia do Fundo de Ouro Preto, editora que publicou livros de Leminski, Alice Ruiz, Augusto de Campos, dentre outros, Mansur diz que houve um encontro natural entre o seu trabalho e o movimento da Poesia Marginal que eclodiu nos anos 1970. Os pontos de aproximação, segundo ele, se revelavam principalmente por meio do interesse pela defesa da liberdade de expressão, no momento em que o país era sufocado pela repressão política.

Contudo, as publicações que editava, na contramão de algumas contemporâneas, ao seu ver, se distinguiam pela manutenção de um cuidado rigoroso na confecção, se distanciando dos projetos rodados em mimeógrafos, por exemplo.

“Eu fui alfabetizado em contato com a caixa tipográfica. Talvez por isso eu sempre tive uma preocupação muito forte com o valor da composição do que estava concebendo. Para a geração marginal, isso não era muito relevante. As edições tinham um acabamento precário, mas, por outro lado, cumpriam o que elas pretendiam”, acrescenta ele.

“Havia em torno daquela atitude não só uma urgência de escrever, mas, sobretudo, a falta de apoio. Tudo era muito precário, as pessoas trabalhavam com o que tinham em mãos, usavam a criatividade para fazer algo da melhor maneira, numa época em que as editoras estavam fechadas para o novo”, conclui.