Rio de Janeiro. Carioca nascido e criado na Penha, subúrbio do Rio de Janeiro, Augusto Boal (1931-2009) tornou-se, ao longo de seis décadas de carreira, um dos mais expressivos nomes do teatro brasileiro no mundo. Por aqui, Boal também é referência inquestionável, claro, “mas devia ser mais bem estudado e reconhecido na academia e pelos artistas”, pensa o diretor da Cia. do Latão, Sérgio de Carvalho.

“Augusto Boal é maior no mundo do que aqui. É preciso mudar isso”, diz Cecília Boal, viúva do diretor.

Tanto Cecília quanto Carvalho, além de Hélio Eichbauer e os irmãos Julian e Fabian Boal, estão empenhados em redimensionar a importância de Boal e ampliar o que se conhece sobre ele. Missão que os levou a criar, juntos, cada detalhe de uma grande ocupação artística dedicada ao teatrólogo, o Projeto Augusto Boal, que será aberto ao público hoje, no CCBB.

Dedicada a perfilar a vida e a obra do principal nome do Teatro de Arena, criador do show Opinião e do Teatro do Oprimido, a mostra se organiza em quatro diferentes salas do CCBB, e vai apresentar uma exposição, uma mostra de filmes, um show, além de leituras e uma peça inédita.

“Boal tornou-se muito conhecido e difundido no mundo inteiro após a criação do Teatro do Oprimido”, diz Cecília. “Mas isso, de alguma forma, sombreou outras importantes criações artísticas e teóricas dele. Essa mostra deve ampliar a imagem que temos de Boal, mostrá-lo mais por inteiro”, completa.

E aí revela-se o estudante de engenharia química da UFRJ que se aproxima do ídolo Nelson Rodrigues, o brasileiro solitário e dividido entre o doutorado na Universidade Columbia e as aulas de dramaturgia com John Gassner, o diretor revolucionário do Teatro de Arena, que mesclava política, música e transformação social, assim como o artista censurado, preso e exilado – primeiro na América do Sul e, depois, na Europa. Tudo isso será visto por meio de 150 imagens, cartas, cartazes, documentos e objetos pessoais, que servem à exposição criada por Eichbauer.

Eichbauer explica que a exposição é dividida em quatro fases: sua formação, criações no Brasil, o exílio e o seu retorno – esta última, época em que o cenógrafo trabalhou com Boal. “Encontrei Boal após 15 anos de exílio. O país vivia uma abertura, e ele estava animado, com esperanças renovadas. Criamos juntos um texto de Federico Garcia Lorca (‘El Público’, 1984) no teatro de Pina Bausch, na Alemanha, depois o musical ‘O Corsário do Rei’ (1985), com músicas de Edu (Lobo) e de Chico (Buarque), e também ‘Fedra’ (1986) com Fernanda Montenegro. Foi muito especial, uma época de esperanças”.

Um pouco diferente do período que serve à encenação “Os Que Ficam”, peça-ensaio criada por Sérgio de Carvalho e que estreia no dia 28. Com dez atores da Cia. do Latão e três músicos em cena, a peça conta ainda com Nelson Xavier em cena. Metateatral, a obra apresenta um grupo de atores que questiona e avalia o sentido de remontar um emblemático texto de Boal, “Revolução na América do Sul”, escrito pouco antes do exílio.

Carvalho ainda organiza, com Julian, o ciclo “Leituras Abertas: A Dramaturgia de Augusto Boal”, com experiências dirigidas por nomes como Aderbal Freire-Filho e Bruce Gomlevsky, assim como dirige o show “Cancioneiro de Boal”, no dia 22, com a cantora Juçara Marçal apresentando canções de espetáculos como “Arena canta Zumbi” (1965). A programação conta ainda com uma mostra de filmes e vídeos.