Ativismo

Mapa colaborativo da cultura 

Grupo Indisciplinar desenvolve plataforma virtual em busca de ações e espaços culturais nos quatro cantos da cidade

Por Daniel Toledo
Publicado em 19 de janeiro de 2015 | 04:00
 
 
Artografia. No ar desde outubro de 2014, site reúne 127 relatos culturais e segue aberto a colaborações de frequentadores da cidade cultura bh/divulgação

Quem consulta os mapas “oficiais” de qualquer cidade em busca de suas atrações culturais geralmente se depara com ícones que remetem a grandes monumentos e edifícios, não raro associados a grandes empresas ou ao próprio Estado. Sem deixar de lado esses equipamentos, o Grupo Indisciplinar, coordenado pela professora Natacha Rena e ligado à Escola de Arquitetura e Design da UFMG, inaugurou no fim do ano passado uma plataforma virtual que lança um olhar mais ampliado – e colaborativo – sobre a complexa cena cultural de Belo Horizonte, abrindo o mesmo mapa a espaços, ações e eventos de escopo local e quase sempre invisíveis aos olhos de moradores e visitantes da cidade.


Intitulada Cultura BH, a plataforma está no ar desde outubro de 2014 e já acumula 127 relatos – nome atribuído pelo grupo a espaços, eventos e acontecimentos culturais que integram a rotina ou mesmo o histórico da cidade. “Uma das principais virtudes dessa plataforma, sem dúvida alguma, é a capacidade de dar visibilidade a ações que muitas vezes passam desapercebidas, seja pelo caráter pontual ou pela dificuldade de acessar fontes de financiamento”, observa a arquiteta Ana Isabel de Sá, uma das pesquisadoras vinculadas ao projeto.

Se, de início, o mapa baseava-se em categorias sugeridas pelo Ministério da Cultura (um dos financiadores da pesquisa, ao lado do Conselho Nacional de Pesquisa e da Secretaria de Economia Criativa), aos poucos, novas seções foram incluídas na relação que organiza os dados inseridos no site. Criado, inicialmente, a partir de workshops de alunos do curso de arquitetura junto a frequentadores de diferentes regiões da cidade, o site segue aberto à colaboração de qualquer interessado em cultura.

Além de sebos, pequenos teatros e bibliotecas de bairro, o mapa atual inclui informações sobre blocos de Carnaval, sedes de coletivos artísticos e até mesmo alguns bares frequentados pela classe cultural da cidade – ali classificados como “lugares de encontro”. “São muito os casos de espaços híbridos que, mesmo sem uma finalidade inicialmente cultural, acabam, de algum modo, sendo apropriados pela cultura”, completa Ana Isabel.

Com o intuito de estimular a colaboração dos visitantes do site, o grupo optou por uma plataforma que dispensa o cadastro de colaboradores, ao mesmo tempo que permite o cadastro de informações a partir de um aplicativo instalado no telefone celular. “E enquanto outras plataformas nos permitem apenas marcar os pontos no mapa, a que escolhemos – chamada crowdmap – associa cada um desses pontos a uma pequena ficha que reúne informações-chave sobre cada relato”, acrescenta a designer Fernanda Quintão, responsável pelos aspectos visuais da página.

É a partir dessas informações, explicam as pesquisadoras, que a pesquisa deve gerar dados importantes para um diagnóstico – tanto histórico quanto instantâneo – sobre o panorama cultural da cidade. “Tem sido, possível, por exemplo, perceber que algumas áreas da cidade concentram muitos eventos culturais em certos períodos, e em algum tempo esses focos se deslocam para outras regiões. Por isso, é interessante mapear tanto o que esta acontecendo agora, em uma espécie de agenda dinâmica, quanto o que já aconteceu em momentos anteriores”, justifica a arquiteta Paula Bruzzi, também envolvida na pesquisa.

Mais do que representações da cidade, contudo, os mapas criados a partir da colaboração dos próprios frequentadores da cidade são tratados pelo grupo como ferramentas de construção da cidade. “A partir do momento em que as pessoas vão inserindo esses eventos em um único mapa, vamos concretizando desejos voltados a um espaço urbano diferente. Percebemos, então, que a cartografia tem um grande poder de transformar esse espaço”, conclui Ana Isabel de Sá.

Participe!

Para conhecer o projeto e acrescentar seus relatos sobre eventos e espaços culturais, acesse o site:

culturabh.crowdmap.com

Para colaborar
usando o telefone celular, baixe o aplicativo Ushahidi.