No ano em que vai completar 60 anos, o jornalista, ator, apresentador e, pasmem, engenheiro Marcelo Tas encara dois desafios inéditos em sua diversificada carreira: comandar um talk show (o “Provocações”, na TV Cultura/SP), e apresentar um reality show. Projeto do Discovery Channel, “Batalha Makers” estreia hoje, às 18h, para mostrar essa cultura maker e premiar pessoas que usam habilidade e inventividade para criar objetos complexos, como drones e robôs, e outros aparentemente simples, como uma cadeira.
“Nunca tinha gravado reality show e estou apaixonado pela linguagem”, conta Tas. “Vendo de dentro, é algo muito interessante, porque você vê quantas formas existem de criar essa narrativa, de gravar sem saber o que vai acontecer. É uma narrativa que vai sendo construída”, observa.
Em “Batalha Makers”, os participantes encaram disputas individuais e também desafios em grupo. Ao fim de cada programa, um maker é “deletado”. Os dez participantes da edição têm idades entre 19 e 50 anos e possuem formações e habilidades diversas. “O conceito ‘maker’ é algo que todos praticamos no nosso dia a dia, resolvendo problemas com o que temos a mão, seja ao fazer uma comida com o que há na geladeira ou ao resolver questões com uso de tecnologia e de cálculos”, diz.
Para ele, uma parte muito interessante do reality show é que, diferentemente de outras atrações do gênero, o “Batalha” tem um aspecto mais colaborativo. “Pode parecer paradoxal, pois é uma competição e só uma pessoa ganha, mas um dos quesitos de avaliação é a colaboração”, fala Tas, que vê aí uma tendência mundial, até mesmo nas grandes empresas. “A cultura maker também é esse jeito de olhar o mundo que sofreu transformações com a revolução digital. Nesta cultura, é preciso atualizar-se, usar a ideia do outro, acrescentar algo e dar o crédito. E, depois disso, compartilhar essa ideia de modo aberto, e assim vai… Fiquei surpreso de ver isso em um programa de televisão”, comenta.
Agora, com o “Batalha”, Tas teve de “ralar” novamente para entender e explicar o que está acontecendo no reality show. “Estudei engenharia na Poli (Escola Politécnica/USP) e, no programa, voltei a exercitar meu lado engenheiro. Só tive de religar os pontos”, brinca.
Para criar robôs, cadeiras, carrinhos de rolimã e outras invenções, os competidores contam com um galpão equipadíssimo. Há desde martelos e furadeiras até cortadores a laser e impressoras 3D. Com esses “superequipamentos”, como diz Tas, impossível não cuidar da segurança. Cada prova é acompanhada por dez profissionais, que ficam nos bastidores. “Eles estão no estúdio para orientar e também para evitar ou resolver problemas”, conta Tas. “Com tantos experimentos, há risco de explodir coisas, o que realmente já aconteceu!”, completa.
Além de os profissionais que ficam nos bastidores, o programa conta com três jurados que vão decidir quem merece o título de “maker”: a arquiteta, designer e pesquisadora Rita Wu; Edgar Andrade, um dos principais ativistas do Movimento Maker no Brasil; e Ricardo Cavallini, fundador do Makers, plataforma de educação.
"A TV sempre foi surda"
O apresentador Marcelo Tas diz que persegue a atualização e a inovação dentro de sua profissão. “Adoro quando chega uma coisa que nunca fiz, porque, quem deixa de aprender vai perdendo a mão”, fala.
Para ele, o conceito “maker”, foco de seu primeiro reality show, tem de chegar à TV, principalmente a aberta, que passa por transformações. “Por ter ficado muito tempo acomodada na posição de rainha do lar, ela está sofrendo mais do que outras mídias nesta era digital”, diz. “Não tem mais essa do espectador ficar em casa esperando a TV entregar o conteúdo que ela quer, quando quer e com comerciais”, observa.
Para Tas, é preciso, assim, reinventar formas de chamar a atenção do espectador que, hoje, não está na poltrona, estático, mas, sim, em movimento. “Para o ‘Batalha’, gravamos conteúdo tanto para a TV quanto para a internet e estou soltando esse material diariamente”, diz. “Acredito na TV expandida, que vai estar aonde a pessoa quiser. Agora, quem decide é o espectador”, completa. Em sua opinião, essa realidade requer mudança de postura. “A TV tem de fazer algo que nunca fez que é ouvir. A TV sempre foi surda” , diz.