Literatura

Mulheres escritoras ganham pioneirismo em editora mineira

Quintal Edições, concebida por Carol Magalhães, se projeta como editora exclusiva para obras de mulheres

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 21 de junho de 2019 | 17:37
 
 
Carol Magalhães, da Quintal Edições Uarlen Valério

Atualmente com 24 títulos em catálogo, a Quintal Edições, inaugurada em 2015 pela editora mineira Carol Magalhães, tem uma missão específica: ser uma casa especializada na publicação de livros produzidos por mulheres. De lá para cá, não só o conteúdo tem seguido essa premissa, mas até o design das obras tem sido confeccionado também por uma equipe feminina. A ideia, de acordo com Carol, é manter a coerência e contemplar todas as etapas da cadeia produtiva do livro a partir dessa mesma perspectiva.

“O nosso primeiro livro (‘A Cultura do Grafite: Por um Direito das Ruas’, de Mariana Gontijo) teve o design feito por homens, mas, a partir dali, pensei que, se o conteúdo seria feito por mulheres, deveríamos também trabalhar com elas nos outros passos da produção. Houve um momento em que nós pedíamos um texto de orelha para um homem, porque era como se nós necessitássemos validar a escrita de uma mulher, mas acho que nós não precisamos desse aval. Nós temos que nos fortalecer, nos apoiar e nos respaldar”, defende Carol.

Antes de abrir a Quintal Edições, ela já somava mais de uma década de experiência no mercado editorial, atuando em outros estabelecimentos, até visualizar a oportunidade de tocar algo de maneira independente. O marco para seu projeto decolar de vez foi em 2017, quando Carol abriu uma chamada na internet, convidando autoras iniciantes a submeterem textos inéditos.

“Foi assim que nós conseguimos projetar melhor o nosso nome, e a editora começou a se tornar mais conhecida. Nós tivemos uma aceitação muito boa entre as mulheres, que se viram acolhidas. Muitos originais chegaram às nossas mãos, o que originou a coleção Yebá, com 13 livros, entre romance, conto e poesia”, diz a editora.

Mais recentemente, além da escrita literária, a Quintal também tem lançado volumes com trabalhos ensaísticos, como “Não Sou Exposição: Questionamentos Sobre Imagem Corporal, Autoestima”, de Paola Altheia, e “Fominismo”, da francesa Nora Bouazzouni.

“Essas publicações têm um caráter feminista mais forte, estão ali falando mesmo de um lugar de fortalecimento da mulher diante do contexto do machismo. A Paola vem desconstruir alguns estereótipos de beleza que atingem as mulheres a partir de um ideal. Ela é nutricionista, tem uma experiência de consultório, e, a partir desse olhar, discute a maneira como esses ideais nos são impostas”, comenta.

Além disso, a escrita acadêmica segue presente no catálogo da Quintal. Entre os novos títulos, figura “Gramática da Manipulação”, produzido por Letícia Sallorenzo, que analisa 340 manchetes de jornais nacionais publicadas durante as eleições de 2014. “Nós retomamos um pouco o olhar para a área acadêmica e temos interesse em comprar novos trabalhos. A maioria dos nossos livros se situa no campo da literatura, mas vamos continuar contemplando outros segmentos”, reforça a editora.

Pioneirismo

Carol relata que, até então, a Quintal é a primeira editora exclusivamente centrada nas criações de mulheres, mas que agora outros selos têm surgido e parecem inspirados por essa experiência. “Quando começamos, não sabia de nenhuma outra que dava esse tipo de tratamento ao seu projeto editorial, mas eu tenho tido notícias de que começaram a aparecer alguns selos dentro de editoras com esse propósito, como se tivessem criando núcleos só para mulheres dentro de determinada casa. Ainda não falei com todas, mas acho interessante trocarmos ideias”, conta.

No prelo

A mineira Lorena Otero terá seu primeiro livro, “Osso de Baleia”, lançado pela Quintal. Ela conta que conheceu a editora por meio de alguns livros, o que a motivou a entregar seus originais para Carol.

“Eu escolhi a Quintal para ser a editora que publicasse esse livro, e fiquei muito feliz que ele foi aprovado, porque gosto da proposta da casa em dar visibilidade para a escrita feminina, para os nossos debates, permitindo que nós possamos circular em um mercado ainda muito dominado por homens”, sublinha Lorena.