Ainda criança, Marcelo Moreira ficava fascinado ao ver o pai, tabelião, bater freneticamente a máquina de escrever. O gosto pela literatura foi um dos motores que definiram, anos mais tarde, sua profissão. Se ao voltar da escola ele dizia para a mãe que queria ser jornaleiro para ler todas as notícias do dia, tempos depois, ele iria se transformar naquele as redige. 

Muita estrada foi percorrida pelo jornalista carioca até chegar a Minas Gerais, em abril deste ano, para um novo desafio: assumir a direção de jornalismo da Globo no Estado. Moreira conta que sua ideia é integrar mais a redação da emissora e transformar os jornalistas em profissionais mais completos. Segundo ele, essa é uma necessidade que o futuro exige: “O repórter não pode ser só repórter, o cinegrafista não pode ser o cara que só faz imagens. Quanto mais completas as pessoas forem, mais a redação vai render e vamos conseguir contar histórias melhores”.

O novo projeto envolve uma maior aproximação com o telespectador. Outra iniciativa de Moreira à frente da Globo Minas foi a criação do Núcleo de Jornalismo Investigativo Artur Almeida como um espaço de pautas especiais e reportagens que demandem mais fôlego para a apuração. O nome é uma homenagem ao ex-editor-chefe e apresentador da emissora, morto em julho de 2017.

Trajetória. Moreira começou sua carreira como estagiário – depois veio a ser contratado – do jornal “O Dia”, em 1991. Ele era o repórter da madrugada e cobria assassinatos. No ano seguinte, chegou ao “Jornal do Brasil”. Foi ali que, em 1995, fez o que considera ser sua primeira grande matéria. Naquele ano, Michael Jackson estava no Brasil para um par de shows e gravaria um clipe no morro da Dona Marta, no Rio de Janeiro. O jornalista, então, se passou por morador da favela para tentar entrevistar o astro pop. “Foi tão original que ‘O Globo’ e ‘O Dia’ tiveram a mesma ideia (risos). Cada um tinha um repórter escondido na favela, um sem saber do outro”, diverte-se.

Só que a tática foi descoberta por Marcinho VP, chefe do tráfico naquela região. Ele ordenou que os jornalistas saíssem da comunidade, mas concedeu uma entrevista que foi manchete de capa dos veículos. Essa passagem está registrada em “O Abusado”, livro de Caco Barcellos sobre Marcinho VP. “Foi a primeira matéria que me marcou”, afirma. 

Na Globo, emissora que é sua casa há quase 20 anos, Moreira ocupou cargos de chefia de produção e de reportagem, foi editor-chefe de telejornais, coordenou núcleos de coberturas especiais para a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, no Rio, fez parte da equipe que criou o projeto Fato ou Fake nas eleições brasileiras de 2018 e conduziu equipes de reportagens que ganharam prêmios, como a de Tim Lopes sobre o cartel de drogas nos morros do Rio, que venceu o Prêmio Esso de 2001. 

Um ano depois, Lopes foi sequestrado, torturado e executado por traficantes a mando de Elias Maluco, após fazer uma matéria sobre abuso de menores e tráfico de drogas em um baile funk da Vila Cruzeiro, na capital carioca. “Ele era muito meu amigo, até hoje o reverenciamos. O assassinato de Tim Lopes é um crime contra os direitos humanos”, aponta. 

Desse atentado à liberdade de imprensa e de expressão, nasce a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), grupo do qual Moreira é membro-fundador e foi presidente na gestão 2012-2013.

Em 2017, o diretor da Globo Minas ganhou uma bolsa na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Moreira refletiu sobre o papel do jornalismo nos dias atuais, em que a tecnologia democratizou a informação, mas também abriu possibilidades para a disseminação de notícias falsas. Para ele, o papel do jornalista nunca foi tão importante. “É ele quem vai fazer a separação do joio do trigo. Cabe à audiência ter o filtro do que é fonte de confiança e o que não é”, afirma. 

Periferia. Um dos projetos que Moreira encabeça é o “Rolê nas Gerais”, um programa que vai contar histórias de moradores dos aglomerados. “Temos de estar junto de todas as pessoas, da classe A a Z. Estou muito animado com esse projeto”, comenta. A previsão é que o “Rolê nas Gerais” nasça em agosto, mas ainda não tem dia de exibição definido – porém, o fim do “Globo Horizonte” é certo. A apresentação ficará a cargo de Renata do Carmo, que também fará algumas matérias, e Tábata Poline, será a repórter.

Regional. Outra mudança que vai ocorrer na Globo Minas é a regionalização do “Bom Dia Brasil”, que vai ao ar das 8h às 9h, logo após o “Bom Dia Minas”. Agora, as notícias do Estado vão ganhar mais espaço no telejornal nacional e serão apresentadas por Mara Pinheiro e Gabriel Sena, dupla que divide o matutino em Minas há dois anos e meio. 

O objetivo é estreitar o laço entre a emissora e o telespectador. “Em vez de assistir às matérias nacionais apresentadas por Chico Pinheiro e Ana Paula Araújo, no Rio, os mineiros vão receber as notícias do Estado, do Brasil e do mundo pelos âncoras daqui”, explica Marcelo Moreira. 

A previsão é que o novo formato, que está em fase-piloto para alinhar questões técnicas, tenha sua estreia no dia 5 de agosto. “É uma operação complexa que envolve muita gente, é um quebra-cabeça”, afirma o novo diretor de jornalismo da Globo Minas.

“Temos a possibilidade de fazer um jornal mais próximo da população mineira, e as pessoas se identificam muito com isso”, destaca Mara Pinheiro. Para a jornalista, a linguagem da emissora deve ser cada vez mais próxima do telespectador, em tom mais informal, mas sem comprometer a informação. 

“Vamos levar Minas para o Brasil. Tem essa questão da identidade, mineiro gosta de ver mineiro apresentando as notícias”, completa Gabriel Sena.