Depois de 17 anos de uma amizade que nasceu durante uma turbulência num voo para Londres, Claudia Assef e Anderson Noise lançam nesta sexta-feira “O Barulho da Lua: A História do DJ Anderson Noise”, no Café com Letras Liberdade. O livro conta a trajetória de Noise, que se mistura com o nascimento da cena eletrônica em Belo Horizonte, no fim dos anos 80 e início dos 90, em clubes como o The Great Brazilian Disaster e o Bar Drosophyla – que se mudou para São Paulo e existe até hoje. Com histórias e fotografias que marcaram a carreira do DJ, Claudia monta um gostoso texto recheado de causos contados pela família Noise e pelos amigos de Anderson, um dos nomes mais importantes do techno no mundo. 

“O que mais gosto no livro é que Claudia fala não só a minha história, mas também a história da música em Minas, desde o Clube da Esquina até chegar nos dias de hoje, passando pelos bares e clubes importantes, e, como tinha muita coisa para contar, ela foi uma garimpeira mesmo de histórias”, afirma Noise ao Magazine. 

Para construir essa biografia, Claudia escolheu destacar a parte da vida dele mais desconhecida do público, mas a mais importante para a evolução do DJ, um cara que deixa sua marca nos trabalhos que realiza. “Para mim, era importante contextualizar não só as condições sociais dele, mas também os alicerces familiares, sua criação. Queria mostrar como foi formado esse cara que, mesmo sem ter uma educação formal, conseguiu chegar aonde chegou”, diz Claudia. “Ele é muito ousado e, muitas vezes, não enxerga o tamanho da ‘roubada’ – com muitas aspas – em que está se metendo, como, por exemplo, tocar com uma orquestra como a Bachiana (Filarmônica) e um maestro como João Carlos Martins sem conhecer partitura. Mas esse cara tem tanta garra e um conhecimento empírico tão grande que tudo dá certo”, afirma a jornalista e escritora. 

Anderson Noise com Claudia Assef, foto de Guilherme Lion

Muitos dos entrevistados de Claudia contam histórias que mostram essa característica de Noise ser um “musicista empírico” e um artista com uma visão única e de vanguarda, que o inseriu diretamente na cena clubber de Belo Horizonte, criando e organizando festas insanas com a ajuda de toda a família.

A irmã produzia os eventos, o irmão caçula discotecava, a mãe se montava para ser Mamma Noise, a hostess – figura importante das festas de música eletrônica nos anos 90. “Como bom canceriano que é, ele envolvia a família nas festas. A mãe dele – uma costureira, dona de casa – era uma pessoa totalmente moderna, que nunca julgou o público, que obviamente sempre cometeu exageros”, comenta Claudia. 

Neste contexto de mostrar quem é Anderson Almeida e como ele se tornou Anderson Noise, Claudia joga os holofotes na infância, adolescência e na efervescência dos 20 e poucos anos do DJ, que chegou neste ano aos 50. “Com 7 anos, eu pedi dinheiro ao meu pai, pintor, para comprar disco, e ele me mandou trabalhar com ele. Já amava os discos, mas foi aos 16 anos que comecei a gravar fitas para tocar na loja em que eu trabalhava. Depois que fiz uma festa no quintal de casa, as pessoas começaram a me chamar para tocar. Até os 24 anos, eu era vendedor de loja e DJ, e aí as coisas foram acontecendo”, lembra Noise. 

Sem planos de "pendurar os fones"

Aos 50 anos de idade e 30 de pista, Anderson Noise não tem planos de “pendurar os fones”, como escreve Claudia Assef. Ele mora em Belo Horizonte, mas tem noite fixa no D-Edge, clube paulistano tradicional no cenário da música underground. O DJ nunca quis morar no exterior, por ter um laço familiar forte, mas, ultimamente, tem pensado em passar uma temporada na Europa, onde o techno encontra mais espaço.

“A evolução da música eletrônica é uma coisa assustadora, porque ela ficou grande e até comercial. Chega a ser assustador esse boom, mas o que me entristece um pouco é ver que o techno não está do tamanho que merecia estar no Brasil”, atesta Noise. “Ver como o techno está na Europa, não dá para comparar. Sou um cara muito família, com raiz forte aqui, em Belo Horizonte. Quero esperar um tempo, mas tenho planos de mudar para o exterior”, conta o DJ, que tem quase 60 carimbos de entrada em Londres, cidade que considera sua terceira casa depois de BH e São Paulo. 

Por enquanto, Noise vai continuar por aqui e está contente de lançar o livro “Barulho da Lua” primeiro na sua cidade natal. A obra estará disponível, a partir de 21 de dezembro, nas lojas da Livraria Leitura, no Café com Letras (Savassi), na Livraria da Rua, na Livraria do Belas e no Quixote Livraria e Café.

Lançamento de "O Barulho da Lua: A História do DJ Anderson Noise", de Claudia Assef: sexta-feira (20), às 18h, no Café com Letras CCBB (praça da Liberdade, 450).