A roda que o Festival Choro Livre promove no sábado (10) contará com convidados de peso. Trazendo o piano para o centro das atenções, Cristóvão Bastos vai agigantar o evento com sua maestria técnica. O músico tem no currículo parcerias com grandes nomes como Chico Buarque (com quem compôs “Todo Sentimento”), Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Abel Silva. Ao lado do pianista, aparece outro carioca, o saxofonista e flautista Eduardo Neves. Além de assinar um competente trabalho autoral, Neves já tocou e gravou com importantes artistas como Hermeto Pascoal, Caetano Veloso, Marcos Suzano, Nelson Sargento, Ed Motta, Guinga e Zeca Pagodinho.
“Vou trazer algumas músicas minhas, como ‘À Queima Roupa’ e ‘Chorinho, em Chochabamba’, que mostram um pouco dessa safra mais nova do choro”, conta Neves. “Vou tocar, também, músicas de compositores clássicos, como Pixinguinha, Copinha e K-Ximbinho. Quero fazer a apresentação mais animada possível”, completa o músico que celebra a iniciativa do festival. “Esse tipo de ideia é o que mantém e renova o interesse pelo choro. Fomenta o intercâmbio entre os músicos e a formação de novos representantes do gênero”, elogia.
O músico afirma que já existem diversos clubes de choro no exterior, o que prova o interesse pelo primeiro gênero musical genuinamente brasileiro. “Hoje em dia, existe uma base sólida para quem quer estudar e tocar choro. Tem muito material, muita partitura. Antes, a coisa era mais desorganizada, seguia uma tradição oral. Atualmente, se construiu um terreno mais pavimentado, onde é possível conhecer até músicas de Chiquinha Gonzaga, de um período pré-Pixinguinha”, defende. “E, pelo que percebo, os músicos de choro são muito informados. Querem criar, mas não se esquecem do passado”, pontua Neves.
No sábado (10), pela manhã, ele ministra um workshop na Casa Una. “Vou focar mais na parte de improvisação, nos caminhos que o músico deve tornar para saber improvisar bem. O choro é uma música complexa, mas que abre espaço para a criação”, afirma.
O saxofonista, porém, refuta a ideia de que o gênero é mais sofisticado que outros irmãos brasileiros. “Não gosto dessa coisa de predileção, de uma música ser melhor que a outra. Agora, é claro, para tocar choro o músico deve ter uma capacitação técnica. Não é nenhum bicho-papão, mas requer destreza. E há muita gente nova tocando”, pontua.
Organizador do Festival Choro Livre, o músico Dudu Nicácio ressalta que a renovação do gênero é vista claramente em Belo Horizonte, onde não param de surgir novos grupos. “Essa renovação não vem de hoje. Músicos como o Marcelo Chiaretti começaram esse processo há mais de dez anos. E, atualmente, vemos novos grupos, como o Toca de Tatu e o Assanhado, que têm integrantes bem jovens. Isso mostra que a coisa está viva”, defende Dudu.
“O choro é uma matriz da música brasileira, da própria canção. É completamente central em termos harmônicos e rítmicos. Há inúmeras figuras que foram fundamentais para a construção da música brasileira moderna e que beberam da fonte do choro. De Tom Jobim a Chico Buarque”, ressalta.
Agenda
O quê. Festival Choro Livre – Shows e Roda de Choro
QUANDO. Sábado (10), a partir das 15h
Onde. Mercado Distrital do Cruzeiro (rua Ouro Fino, 452, Cruzeiro)
WORKSHOP. Amanhã (Cristóvão Bastos) e sábado (Eduardo Neves), às 10h, na Casa Una (rua dos Aimorés, 1451, Lourdes)
Quanto. Entrada franca para todos os eventos.