O Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG planeja montar uma exposição com o material que sobreviveu ao incêndio que atingiu a instituição no último dia 15 de junho e destruiu três salas da reserva técnica. No local ficavam guardados acervos que não estavam sendo exibidos ao público.
Sem previsão de quando ou como acontecerá a exposição, a UFMG afirma que ainda não é possível precisar quais materiais devem compor a nova coleção, uma vez que os trabalhos de recuperação do acervo seguem em execução. Uma equipe formada por professores, pesquisadores e estudantes voluntários, além de técnicos do museu, trabalham na recuperação das peças.
“Ver essas coleções queimadas gera um sentimento de frustração – e até de culpa –, que é difícil contornar: como pode um acervo desses queimar?”, lamenta a coordenadora do Centro Especializado em Arqueologia Pré-histórica do Museu de História Natural da UFMG, Mariana Cabral, em um texto publicado no site da universidade nesta semana.
Mariana explica que a coleção arqueológica do museu contava com algumas dezenas de esqueletos, oriundos de diversos sítios arqueológicos de várias regiões de Minas. Segundo ela, o incêndio não só afetou o trabalho científico, como também a história dos nossos ancestrais.
“Essas pessoas, que foram cuidadosamente sepultadas por suas famílias e grupos, há 1.000, 2.000, 5.000, 8.000 anos, foram escavadas em pesquisas científicas conduzidas desde meados do século passado por pesquisadoras e pesquisadores que tinham no museu o ambiente institucional para receber e guardar essas coleções”, afirmou.
Perícia
Na última semana, a Polícia Federal (PF) liberou algumas áreas do prédio incendiado para que as equipes da instituição começassem o resgate de parte do acervo remanescente. Segundo a corporação, as causas e a dinâmica do incêndio só serão informadas após a conclusão dos trabalhos periciais. Um inquérito foi aberto no mesmo dia do incêndio para apurar a autoria e a materialidade do ocorrido.
Além das perícias determinadas, outras diligências policiais estão sendo realizadas. Não há uma data para a conclusão das investigações.
Os peritos da Polícia Federal já fizeram o escaneamento em três dimensões do prédio atingido pelo fogo e também coletaram amostras para realização de exames químicos. Os profissionais são os mesmos que trabalharam na perícia do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, que pegou fogo em 2018. “A estratégia buscou resguardar o conteúdo probatório da investigação e priorizar o resgate da maior parcela possível do acervo do museu, com a maior brevidade possível”, informou a corporação em nota.
Segundo a UFMG, as primeiras salas atingidas pelo incêndio foram cobertas por fuligem e fumaça. Nelas estavam itens de paleontologia e objetos de grande porte da arqueologia. Já a sala do meio, que contava com itens do acervo etnográfico, de arte popular e parte do acervo de zoologia, foi parcialmente atingida. As duas últimas salas, com itens de arqueologia de origem orgânica e zoologia, foram as mais afetadas. “Era uma das melhores edificações do museu, com controle de temperatura e controle de umidade do ar. Ela atendia a todas as necessidades de manutenção e monitoramento do acervo”, ressalta a diretora do Museu, Mariana Lacerda.