Uma das atrações do festival Planeta Brasil, que acontece neste sábado (25), em BH, Baco Exu do Blues, 24, inicia a entrevista avisando que vai falar de sua consagração no Cannes Lions, em junho passado, quando o cantor e compositor soteropolitano faturou o Grand Prix, com absoluta sinceridade. “Tudo começou em uma mesa de churrasco, tá ligado? Estava na casa de um amigo e comecei a falar uma parada. Esse brother começou a gravar, e fiz um áudio de uma hora explicando o conceito, com falas como: ‘Tudo é blues’. Veio daí”, observa Baco, que dividirá a grade do evento com outros 50 convidados de um total de 12 horas de festa no Mineirão.
Em meio a chamarizes como Caetano Veloso, Racionais MCs e Marcelo Falcão, Baco desponta como um nome de potência no festival por uma série de motivos. No citado prêmio em Cannes, por exemplo, dividiu o troféu com ninguém menos que Childish Gambino, o autor do impactante clipe “This Is America”, e superou concorrentes como Beyoncé e Jay-Z. “Até hoje não sei explicar a sensação de competir e vencer os meus maiores ídolos, que são um patrimônio histórico da música mundial, e com uma ideia minha. Isso só me prova que a criatividade é a nossa maior força”, exalta Baco.
No início do vídeo de pouco mais de oito minutos, uma sorridente criança negra relata o seu cotidiano, preenchido por brincadeiras como jogar bola e soltar pipa, e, ao fim, revela o desejo de “ser médica quando crescer”. Durante as imagens, que promovem uma viagem no tempo, Baco exalta “o primeiro ritmo que criou pretos livres”, numa referência ao blues.
Planetário. Desde que estourou com o seu primeiro disco, “Esú” (2017), Baco se tornou habitué de grandes festivais. “Não sou necessariamente um cantor. Nos shows, me sinto muito mais um animador de plateia. Para quem gosta de brincar e versar com o público como eu, ter aquele tapete de gente à sua frente é muito foda! Imageticamente, é uma coisa doida”, destaca. Em Belo Horizonte, Baco vai dar continuidade à turnê “Bluesman”, com músicas de seus dois discos, como “Te Amo Disgraça” e “Girassóis de Van Gogh”. As novidades não entrarão no roteiro. “Na real, vou guardar segredo por enquanto”, disfarça.
O que já se sabe a respeito do próximo trabalho do artista é que agrega nomes como o de Ney Matogrosso, Duda Beat e Hamilton de Holanda. “Em primeiro lugar, pensei na qualidade musical de cada um e, em segundo, no que representa para a sua geração, desde ideais políticos até a forma como se portam perante a opinião pública. São pessoas que, mesmo sem estarem no palco, são símbolos de luta”, justifica Baco. “Como a maioria dos países do mundo, estamos vivendo uma fase de retrocesso com um governo extremista. Mas acredito que ainda iremos avançar – demos três passos atrás para, depois, darmos seis para a frente”, afirma.
África. Outra atração do evento, Majur, 23, divide com Baco algumas questões. Baiana como ele, a artista, que se define como não binária, ambientou o clipe de “Africaniei” na sua cidade natal, Salvador. “É uma aula sobre a história do nosso povo. Somos um país laico que tem a diversidade como qualidade”, informa Majur, que, aliás, é uma das atrações mais aguardadas do Planeta Brasil, assim como seu “padrinho”, Caetano. Levada por Maria Gadú à casa dele, ela logo despertou o interesse do músico, que escreveu um texto para enaltecer suas qualidades.
“Caetano é uma das minhas maiores referências, e estar com ele hoje me traz um sentimento de gratidão”, agradece Majur, que começou a cantar aos 5 anos, no coral da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador. Em junho de 2019, ela gravou com Emicida e Pabllo Vittar o clipe de “AmarElo”, que considera “um ‘start’ para o mundo”. “Nós três temos histórias de luta e resistência e encontramos um jeito de deixar uma mensagem de ânimo, utilizando a música como tecnologia de afeto”, conclui Majur.
Serviço. Planeta Brasil, neste sábado (25), das 12h às 0h, na Esplanada do Mineirão (av. Presidente Carlos Luz). De R$ 150 (meia/pista) a R$ 300 (inteira/pista).