Artes visuais

Quando a pintura é meio e processo

Joana Cesar,Gilson Rodrigues e Luiz d’Orey expõem trabalhos inéditos

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 20 de março de 2018 | 03:00
 
 
Joana Cesar concebe seus trabalhos usando diferentes papéis Dotart galeria/divulgação

A composição com tinta sobre tela resume a técnica mais tradicional de pintura, linguagem que os artistas Joana Cesar, Luiz d’ Orey e Gilson Rodrigues revisitam, mas apontando, cada um à sua maneira, outros caminhos possíveis dentro desse universo. Os três expõem a partir de hoje apenas trabalhos inéditos na dotART galeria. A carioca Joana, na individual “Não Uma, Mas Duas Pessoas”, por exemplo, apresenta uma série de obras confeccionadas com papel.

“Eu me sinto pintando completamente, mas sem nenhuma tinta”, revela a artista sobre a feitura de uma instalação na galeria.

“Estou construindo uma parede só com cascas de outdoor. E, em determinados momentos, quando me afasto e olho para a obra, vejo um azul, entre outros elementos que vão surgindo a partir dessa relação com a pintura. Mas a tinta entra muito raramente no meu trabalho; vou elaborando tudo com o que os papéis trazem em termos de forma, cores e texturas”, completa Joana.

Ela ressalta que também entende suas criações como textos. “Sempre tive uma relação muito forte com a palavra escrita. E isso é anterior ao meu envolvimento com as artes plásticas”, diz.

Luiz d’Orey, que nasceu no Rio de Janeiro e há cinco anos reside em Nova York, volta-se à tradição da pintura com uma atitude semelhante. Na mostra “Espaço Comum”, reúne obras feitas a partir de recortes de fotografias publicadas no Instagram ou de fragmentos de comentários publicados no Facebook.

“Chamo essas obras de pinturas. Minha formação é nessa área, e acho interessante o debate sobre os limites da pintura. O que a define? É a tinta sobre a tela? O pigmento dos materiais impressos que uso podem ser entendidos como tinta ou não?”, indaga o artista.

“Eu gosto de pensar nessas questões que têm muito a ver com a arte contemporânea e com a apropriação de materiais que já estão em circulação. De certa forma, uma obra não deixa de ser pintura apenas porque não foi realizada com tinta de tubo”, acrescenta d’Orey.

O mineiro Gilson Rodrigues, por sua vez, exibe pinturas sobre papel, alguns óleos e esculturas na exposição “Trauma”. Todas as peças gravitam em torno de objetos antigos colecionados pelo artista há anos e que aparecem nas criações como tema ou transformados em obras, gerando uma relação circular entre eles.

“As pinturas vieram dessas esculturas que fiz a partir de bandejas que eu usava como paleta para depositar as tintas. Mas essas pinturas não têm a intenção de ser obrigatoriamente uma representação dessas esculturas. É algo que vem depois, um desdobramento. O que acontece na pintura não exatamente se repete na escultura”, explica ele.

“Meu processo em pintura é muito livre. Por mais que me baseie em algo material, o resultado é sempre fruto de como o imaginei em minha cabeça”, conclui Rodrigues.

Programe-se

As exposições “Não Uma, Mas Duas Pessoas”, de Joana Cesar; “Espaço Comum”, de Luiz d’Orey; e “Trauma”, de Gilson Rodrigues, podem ser vistas de hoje, às 18h, a 9/6; de 2ª a 6ª, das 9h às 19h; sáb., das 9h às 13h, na dotART Galeria (rua Bernardo Guimarães, 911 Funcionários). Gratuito.