Durante três anos seguidos, Bruno Golgher, 48, assistiu a todos os shows que o músico Chico Amaral realizou no Café com Letras, histórico estabelecimento de Belo Horizonte conhecido pela qualidade gastronômica e musical, localizado no coração da Savassi. Embora a banda e o repertório se repetissem a cada noite, a experiência era sempre única. É a partir desse exemplo que Golgher explica a essência do gênero para o qual, a partir de 2003, ele resolveu dedicar um festival. “Sabe aquele show que o cara sempre faz tal piada, tal movimento, tal careta, e você já espera por aquilo? O jazz não admite a piada pronta, ele é muito vivo”, garante.
Idealizado e com curadoria de Golgher, o Savassi Festival chega, em 2018, à sua 16ª edição. A intensa programação tem início nessa sexta e se estende até o dia 12 de agosto. Se a “relação de intimidade entre músicos e público, e a força da espontaneidade em cima do palco” permanece como a principal marca do festival, há também novidades. O selo Savassi Festival Records será lançado nessa edição, como uma extensão do projeto Música Nova, que veio à tona em 2017. Em tese, a intenção é que todos os músicos participantes tenham seus discos gravados.
“É um processo que a gente não controla muito, em alguns casos o músico ainda precisa desenvolver mais aquele show, em outros o trabalho já está pronto para ser gravado”, justifica Golgher. A pianista Luísa Mitre se encaixa no segundo caso. Ela será responsável por inaugurar o novo selo. Vencedora do Prêmio BDMG Instrumental na categoria melhor arranjo, Luísa lança “Oferenda”, que estará disponível em versão física e digital. Para Golgher, a instrumentista é um “símbolo dos novos tempos”. “Acho que a presença feminina na cena instrumental tem crescido, temos vários talentos como a Camila Rocha, Natália Mitre, Marcela Nunes, que estão pegando esse embalo, é um caminho sem volta. Daqui a 3, 5 anos, teremos ainda mais mulheres”, afirma.
Conexões. Embora a iniciativa tenha se consagrado sob a alcunha do jazz, a intenção é expandir os limites. Além de uma programação dedicada ao público infantil e do sempre aguardado Novo Jazz de Israel, haverá também palcos para contemplar as ligações com o choro e a música eletrônica. “Eu tento pensar em um caminho que se possa percorrer esteticamente, na teoria, isso tudo é sempre mais fácil, mas, na prática, buscamos alguns fios para nos conduzir”, afiança Golgher. Um ponto de encontro natural foi com aquele reconhecido como o primeiro ritmo genuinamente tupiniquim.
“De alguma maneira, o chorinho é o jazz brasileiro. Já levei o Savassi Festival para os Estados Unidos, e os jazzistas de lá piram no choro, porque eles percebem que tem um parentesco”, conta. Com o conjunto Choro Amoroso, o percussionista Túlio Araújo é um dos responsáveis por apresentar à plateia essas conexões. “A cidade tem uma tradição musical muito forte e criativa. É curioso, porque aqui não há tantos intérpretes, então os músicos são meio que obrigados a fomentarem a própria identidade, eles transformam algo negativo em positivo”, conclui Golgher.
Confira cinco destaques da programação do Savassi Festival escolhidos pelo curador Bruno Golgher
A pianista Luísa Mitre se apresenta no dia 4 de agosto às 20h no Conservatório da UFMG e lança o seu álbum “Oferenda”. Os ingressos custam R$ 20 (inteira).
O Yotam Silberstein Quartet vem de Israel para o Brasil. O show acontece no Centro Cultural Banco do Brasil, no dia 9 de agosto, às 20h. Ingressos a R$ 20 (inteira).
Felipe Vilas Boas e MG Big Band sobem ao palco Música Nova nos dias 6 e 12 de agosto, às 20h30. A segunda apresentação é gratuita, em frente ao Café com Letras.
A pianista e compositora Louise Woolley vem de São Paulo com o seu quinteto se apresentar no dia 12 de agosto, às 18h45, em frente ao Café com Letras.
O prestigiado Juarez Moreira e seu septeto sobem ao palco do Centro Cultural Banco do Brasil no dia 8 de agosto, às 20h15. Ingressos a R$ 20 (inteira)