As aventuras de Seu Jorge na indústria cinematográfica já alcançam uma vasta lista, no entanto, o cantor e ator segue famoso por seu Mané Galinha, de “Cidade de Deus” (2002). Isso até “Marighella”, filme de Wagner Moura, conseguir passar pela burocracia e chegar aos cinemas. Antes, o público vai ver a estreia de Seu Jorge em uma obra seriada. Trata-se de “Irmandade”, primeira coprodução da Netflix com a O2 Filmes, sob direção de Pedro Morelli e produção de Andrea Barata Ribeiro – que também assina “Marighella”.
“Foi intenso. Não tinha experiência em série, que é um negócio diferente. Você vai aprendendo na hora, porque, às vezes, o roteiro vai mudando quando você está gravando. Então é interessante. Não vejo a hora de fazer tudo de novo!”, afirmou Seu Jorge, durante o lançamento de “Irmandade” para a imprensa, em São Paulo.
A série, que estreia no dia 25 na plataforma de streaming, traz Seu Jorge na pele de Edson, um “peixe pequeno” preso por tráfico de drogas que se torna líder de uma grande facção criminosa. “Irmandade” é ambientada na década de 90, numa época em que ainda não havia celulares, e as facções dependiam de um intermediário para a comunicação entre seus membros. Nesse contexto, a série aborda questões sociais e políticas, enquanto conta uma história de ação, tensão e drama.
“Fazer o Edson não é simples, porque tem uma linguagem de época. É um cara que vivia em São Paulo, nos anos 90, na carceragem”, conta Seu Jorge. “Eu tinha de trabalhar muitas coisas, e os amigos ajudaram. Conversei com caras como Mano Brown. Eles dão um toque: ‘Pô, eu não falava assim não!’ (risos)”.
Apesar da intensidade do papel e da preparação, Seu Jorge tem uma identificação com o personagem. “Na hora em que o Edson chora, é um choro nosso também”, diz o ator, incluindo a atriz Naruna Costa em sua declaração. Na série, ela interpreta Cristina, a irmã de Edson, que faz um jogo duplo entre ele e a polícia, questionando o tempo todo suas próprias ações. Para Naruna, a conexão com Seu Jorge foi muito rápida.
“Lembro-me que, no primeiro dia de filmagem, abri a porta e vi o Seu Jorge fazendo um crochezinho, ‘de boas’. Ouvir a história dele foi algo mágico, pois achei tão parecida com a minha, mesmo sendo de outra cidade, de outra geração”, fala Naruna. “São histórias que se cruzam muito, e foi onde a gente se conectou. Vivemos dilemas e questões próprias da estrutura do país, e a gente entendeu que, em algum lugar, a gente é família mesmo”, comenta a atriz.
Não foi somente Naruna que se identificou com Seu Jorge. A série foi filmada em Curitiba, em uma ala desativada de um presídio que está em funcionamento. Quando a equipe gravava no pátio ou no telhado do edifício, os presidiários podiam ver as filmagens das janelas de suas celas.
“Os caras assistiam a tudo e falavam: ‘Seu Jorge, representa nós (sic)’. E você vê que não é brincadeira. Isso te joga para cima ou te intimida”, reflete o ator.
Seu Jorge conta que a composição de seu personagem para a série foi um processo intenso. “Você tem de preservar energia e atenção o tempo inteiro para não perder a linha do conflito, pois o Edson é um personagem de força, que vive uma angústia”, comenta. Para ele, porém, o que fez toda a diferença na composição foi o local da filmagem. “Todo o acabamento foi dado no presídio”, diz.
Ator percebeu o valor da liberdade
Na cadeia, Seu Jorge decidiu liderar os figurantes que se apinhavam nas celas desativadas. “Era uma figuração muito grande dentro da unidade, com um plano de filmagem enorme e uma série de restrições, porque estávamos dentro do serviço carcerário”, lembra. Lá, por exemplo, não pegava celular e havia um limite de espaço em que podiam atuar.
“A gente filmava em cima do telhado – o que era perigoso –, e estava todo mundo com pau, com pedra na mão... Alguém tinha que liderar aquilo, porque era muita gente e ninguém ouvia comando. Nem foi figuração, porque todo mundo deu a alma naquilo. E isso não rola sempre. Mas lá rolou até churrasco. Incrível o pagode dos caras. No set, estava todo mundo cuidado, e acho que quem assistir (à série) vai sentir isso”. Seu Jorge diz que, durante a gravação, ele pensou muito na liberdade. “Compreendi o quão valiosa é a liberdade que gozo, que desfruto”, conclui.
Veja o trailer da série: