Quando Izzy Gordon nasceu, em 29 de abril de 1963, Dolores Duran (1930-1959) já havia partido, mas a obra da artista carioca tornou-se uma herança musical de valor incomensurável para a sobrinha. Ao destrinchar o material deixado por sua tia, a cantora paulista se deparou também com um legado que transpassava a riqueza das canções. Havia ali ensinamentos de uma mulher à frente de seu tempo, como destaca sua “sucessora”.

“Nas músicas que falavam de amor durante a época dela (Dolores Duran), a mulher era vista como uma necessidade do homem. Mas aí veio ela falando de amor sob a perspectiva da mulher. E ela acabou fazendo parcerias com grandes nomes, como Tom Jobim. É uma pessoa que me influenciou e me influencia muito”, resume Izzy, que gravou “Ideias Erradas”, de autoria de Dolores e J. Ribamar., em seu mais recente álbum, “Pra Vida Inteira”.

Mas o quarto disco de Izzy, 55, não se propõe “apenas” a manter vivo o legado da tia – algo que já havia acontecido em outras oportunidades, como no primeiro trabalho, “Aos Mestres Com Carinho: Homenagem a Dolores Duran” (2005). Há tributos a várias outras icônicas mulheres brasileiras, como Elza Soares e Marielle Franco (1979-2018).

O empoderamento também se faz presente na autoral “Luzia” e na versão para “Lata D’Água”, de Elza Soares. “Hoje em dia as mulheres estão mais amigas, mais companheiras, cuidando umas das outras. E o mesmo acontece na área artística. Uma de minhas professoras é a Elza. Sou autoditada e aprendi muito com ela, sempre ouvindo sua obra. E é uma de minhas inspirações nesse disco, que acaba sendo muito feminino”, comenta.

Com quatro álbuns lançados e três décadas de carreira, Izzy Gordon projeta seus próximos passos. “Nesses 30 anos, tive muito trabalho, mas, como sou teimosa, me dedicava bastante em todos os sentidos. Trilhei uma jornada de resistência, tive filho muito cedo e abri mão de muita coisa. Mas continuei em frente, lutei pelas causas em que acreditei”, opina.