Elas são sete atrizes ucranianas que se revezam em 15 instrumentos e cantam em vários idiomas. Ao espetáculo cênico-musical, agregam um esquisito cabaré, espaço em que nada é tabu ou sagrado. “Escolhemos músicas que tocam nossas almas. Somos atrizes diferentes e cada uma de nós traz uma noção de mundo diversa. Assim, compartilhamos nossas referências”, afirma Mariia Volkona, atriz de “Dakh Daughters Band – Freak Cabaret”, espetáculo que será apresentado de hoje a domingo, no Teatro Bradesco, dentro da programação do Festival internacional de Teatro Palco e Rua (FIT-BH).
É essa abertura ao experimento que permite ao espetáculo um repertório que pode, por exemplo, mesclar o rap francês a melodias ucranianas tradicionais e a ritmos orientais. O grupo passou a ter maior repercussão quando postou no YouTube um vídeo do clipe “Rozy/Donbass”, em que mesclam o soneto 35 de Shakespeare ao folk ucraniano.
Com rostos pintados de branco e postura de rebeldia, as atrizes parecem criar uma imagem que dialoga com a luta feminista. Mas esta não é uma preocupação do grupo. Ao serem questionadas sobre um possível atravessamento do espetáculo por um discurso político, elas respondem, inicialmente, com uma sonora gargalhada, para, em seguida, se afirmarem como “artistas que não se vinculam ao movimento feminista”, nas palavras de Ganna Nikitina, atriz do espetáculo.
“A obra é uma homenagem à mulher ucraniana que é muito forte e está no controle da vida. É ela que organiza a casa, trabalha e é independente”, pontua NiKitina. “Somos um grupo que acredita e apoia, com toda a força, a igualdade de direitos a todas as pessoas sem pensar em gênero, sexualidade ou cor. Para nós, esse é o único jeito de termos uma sociedade mais igualitária”.
Volkona completa o raciocínio. “Como grupo, não nos vinculamos nem apoiamos nenhuma teoria feminista. Mas, ainda assim, acreditamos que nesse mundo as mulheres podem ser mais desvalorizadas pelo mundo masculino, mas não temos uma posição claramente feminista. Pensamos em algo maior que reflita os direitos de todas as pessoas”.
Da Pussy Riot, grupo de punk rock feminista russo, elas afastam qualquer tipo de aproximação, embora a referência tenha sido declarada pelo diretor artístico do espetáculo, Vlad Troitsky, ao jornal britânico “The Guardian”. “Elas são revolucionárias e expressam posições políticas. Nós queremos ser, antes de pessoas políticas, artistas. Estamos preocupadas em experimentar artisticamente”, diz Volkona.
O que aparentemente, no nível do discurso, soa como uma contradição pode, talvez, explicitar um contexto distanciado, por diferenças culturais e políticas que afastam o entendimento, inclusive, do que são as lutas empreendidas pelos diversos feminismos.
O que desperta curiosidade é que a crítica internacional exalta exatamente o posicionamento político e punk das atrizes que chegaram a se apresentar, em 2013, durante os protestos Euromaidan, derivados da recusa do então presidente Viktor Yanukovych em assinar um acordo de cooperação com a União Europeia.
Agenda
O quê. “Dakh Daughters Band - Freak Cabaret”
Quando. Hoje e amanhã às 22h, e sábado, às 19h
Onde. Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2.244, Lourdes)
Quanto. R$ 20 (inteira)