Cinema

Um olhar delicado sobre a cultura indígena no país

'Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos' foi filmado na aldeia da Pedra Branca, no Tocantins

Por Etienne Jacintho
Publicado em 18 de abril de 2019 | 03:00
 
 
Ihjãc, jovem krahô que decide sair da aldeia após viver luto do pai João Salaviza/divulgação

No filme “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, um jovem indígena recebe um chamado de seu pai morto e sua vida segue um rumo inesperado. Ao pé de uma cachoeira, o pai pede ao filho que lhe dê a festa de luto para que possa estar em paz entre os mortos. Para o jovem, a cerimônia significa a libertação do espírito de seu ancestral, mas também o começo de uma responsabilidade na aldeia que ele não quer assumir. Assim, ele decide deixar a aldeia e ir com a família para a cidade.

O longa filmado na aldeia da Pedra Branca, no Tocantins, lar dos índios Krahô, mescla ficção com cenas reais do cotidiano da comunidade e entrega ao público uma obra delicada, interessante e respeitosa, uma vez que a diretora Renée Nader Messora já convivia com os indígenas desde 2009.

“Desenvolvia um trabalho audiovisual na aldeia, com a documentação das demandas da comunidade para preservação de sua cultura”, fala Renée. As histórias passadas de geração para geração, os rituais, o cotidiano e a língua estão sendo preservados em vídeo por Renée. Ela e o cineasta português João Salaviza, que também assina a direção do filme, moravam na aldeia.

O roteiro surgiu após ambos acompanharem de perto a história de um jovem indígena que, por medo de um feitiço, fugiu da comunidade e ficou um ano na cidade. “Fiquei com vontade de fazer um filme a partir dessa história”, diz Renée.

Com esse enredo, os diretores começaram as filmagens, inserindo a comunidade à trama, principalmente o núcleo familiar de seu protagonista, Ihjãc. Apesar de mostrar o cotidiano da aldeia, os rituais e os membros da comunidade de forma praticamente documental, o longa também traz momentos de ficção do cinema clássico, mas com respeito às tradições para não passar nada que não seja verdadeiro, tanto que o filme é falado na língua timbira, dos índios Krahô, com legendas em português.

“Durante a filmagem, passamos por momentos de perceber novas ideias e recuar de caminhos que não eram corretos”, fala Renée. “Porém, o roteiro final é bem parecido como o que tínhamos escrito.” Ao longo das gravações, as portas da casa de Renée ficavam abertas aos indígenas que quisessem ver as imagens. Após a estreia do filme em Cannes – onde ganhou o Prêmio Especial do Júri da mostra Un Certain Regard –, os diretores exibiram a obra na aldeia. “Eles (indígenas) riam e, no fim, tinha gente emocionada. Como a luz elétrica chegou lá há pouco tempo, eles ainda não entendiam bem a ficção”, lembra Renée. 

Outras estreias

Entram em cartaz ainda “O Anjo”, de Luis Ortega, com produção de Pedro Almodóvar e Chino Darín no elenco; “Cópias”, com Keanu Reeves; “O Gênio e o Louco”, com Sean Penn e Mel Gibson.