O fado português remete a tempos de saudade (palavra que só existe em nossa língua) e lamentação. A história diz que ele era cantado pelos mouros que permaneceram em Lisboa após a retomada da cidade pelos cristãos. Pois é assim, como um dramático fado português, que o espetáculo “Poema Bar”– inspirado nas obras de Fernando Pessoa e Vinicius de Moares – chega aos ouvidos e corações de brasileiros que vivem no exterior e se recordam do país que deixaram para trás, por trabalho, estudos ou por um amor estrangeiro.
 

As apresentações fora do Brasil geralmente são marcadas por grande emoção da plateia. “É um espetáculo que usa a palavra, que traz a lembrança à tona. As pessoas ficam muito emocionadas, até porque é pouco comum ver espetáculos dessa natureza chegar a essas pessoas. É mais comum shows de música viajarem para o exterior”, comenta o ator Alexandre Borges, idealizador do projeto ao lado do pianista português João Vasco.

Com estreia em 2011, o espetáculo já foi visto por mais de 14 mil pessoas. A peça-recital tem uma trajetória interessante. Sua estreia foi em Portugal, no Museu Fernando Pessoa, casa onde o maior poeta português viveu. Depois fez temporadas no Rio de Janeiro, circulou pelo interior de São Paulo e voltou a se apresentar na Europa: em Berlim e Colônia, na Alemanha. Paris foi o último destino do espetáculo. “Sempre buscamos um contato com as embaixadas e representações diplomáticas do Brasil no exterior procurando esse tipo de público”, revela Borges.

O recital não se arroga ser um espetáculo universal, com a capacidade de falar a todos os povos. Por isso, ele foi feito em língua portuguesa para falantes do idioma. “O espetáculo é um recorte bem específico para quem fala a língua. Nosso público no exterior, geralmente, são esses brasileiros que vivem fora do país há muito tempo, ou pessoas que têm alguma relação com eles. Namorados, marido ou esposa. Mas também aparecem algumas pessoas desavisadas”, diverte-se Borges.

Embora o espetáculo seja apresentado em Belo Horizonte em um espaço grande, feito o Sesc Palladium, a sintonia e o clima de cumplicidade entre os dois artistas e o público são coisas que procuram manter, como uma das rodas de Vinicius ou de Fernando Pessoa. Inclusive, parte da inspiração para compor o espetáculo – revela Borges – vem de uma característica do próprio Vinicius de Moraes, que gostava de circular com universitários, em rodas de jovens músicos e poetas como maneira de conhecer novos artistas e até promovê-los. Proximidade.

“O Vinicius tinha isso de sentar em uma mesa, sempre acompanhado por uma garrafa de uísque, e apenas declamar poemas, contar histórias e tocar música. Esse lado mais informal do Vinicius me inspirou muito. Eu não ganho dinheiro nenhum com esse espetáculo. Faço por esse prazer de reunir as pessoas e apreciar a obra desses dois grande autores”, finaliza Borges.

Agenda

O quê. “Poema Bar”

Quando. Nesta terça, às 20h

Onde. Grande Teatro Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro)

Quanto. R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada)