O Festival Cura dá início nesta quinta à sua sexta edição, desta vez, aportando na praça Raul Soares. Desembarcam por lá: Kassia Rare Karaja Hunikuin com o Coletivo Mahku (Acre), Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo (Peru) e Ed-Mun (MG). Os Mahku, originários do Acre, trabalham a cura, pintando a partir de cantos xamânicos que traduzem saberes, rituais e tradições do que se conhece como “espírito da floresta”. No Cura 2021, serão representados por Kassia Rare Karaja Hunikuin (Kássia Borges) com Banê (Cleiber Sales) e Itamar Rios. Já Sadith Silvano e Ronin Koshi são artistas indígenas peruanos Shipibo, povo que desenvolveu um sistema de desenhos chamado Kené, declarado Patrimônio Cultural de seu país. O traçado segue padrões geométricos, expressando a cosmovisão shipibo e os seus ícaros, as canções entoadas nos rituais com ayahuasca. Também em comum, a vida à beira dos afluentes do Rio Amazonas. 

Nesta edição, Ed-Mun é o artista anfitrião. Conhecido internacionalmente dentro da cena de graffiti caligrafia 3D, vai realizar um sonho ao fazer sua primeira empena. "Sempre sonhei em pintar uma empena, em qualquer lugar que fosse, aconteceu desse lugar ser muito especial. Estou ansioso para iniciar esse trabalho, espero que corra tudo bem, que o clima ajude, e que as pessoas aprovem, pois uma arte assim é para todes", conta ele. 

Novidades

Pela primeira vez, o Cura vai contar com uma vivência, guiada por Tainá Marajoara, que conta ainda com a participação de Patrícia Brito, Silvia Herval e Mayô Pataxó (Ubaporanga/ MG). 

Já o Coletivo Viva JK participa através de uma projeção, que vai localizar, por meio de manchetes e trechos de reportagens a partir da década de 60, como a praça Raul Soares passou a ser disputada: por um lado, uma sociedade que desejava reprimir a população LGBTQIA+. De outro, essa população, especialmente mulheres trans e travestis, que já frequentavam a região. Dirigida pelo videoartista Eder Santos, sobrepõe as representações negativas das pessoas LGBTQIA+ a fotografias de mulheres trans e travestis, registros que são parte do acervo pessoal de Anyky Lima e do fotógrafo Lucas Ávila. As pessoas fotografadas representam a luta por reconhecimento da própria identidade. Já as reportagens são parte da pesquisa de Luiz Morando, autor do livro “Enverga mas não quebra: Cintura Fina em Belo Horizonte“.

Além dos retratos e reportagens, a projeção usa cenas do clipe "Duas Pessoas", de Aldrin Gandra e dirigido por Barão Fonseca, e cenas uma batalha de Vogue gravadas na boate Matriz, no edifício JK, cedidas pelo cineasta Leonardo Barcelos. A projeção traz ainda grafismos que remetem à praça Raul Soares, localizando o território. Os textos de jornais de época e as fotos de mulheres trans e travestis serão localizados geograficamente, indicando que lugares são esses atualmente. O trabalho de design será feito pelo artista gráfico Fred Birchal, morador do JK desde 2019. O Coletivo Viva JK (@VivaJK) é formado por moradores e amigos do Conjunto Governador Kubitschek, criado em 2019, para conectar as pessoas ao Edifício JK,

Programação: 

21 de outubro a 02 de novembro:

> Pintura de Empena - Artista Ed-Mun  - Edifício Paula Ferreira  - Praça Raul Soares, 265  

> Pintura de Empena - Artistas Kassia Rare Karaja Hunikuin com Coletivo Mahku - Movimento dos artistas Huni Kuin (AC)

Edifício Levy - Av. Amazonas, 718  

 23 de outubro:  > Intervenção Coletivo Viva JK   ; Edifício JK - Rua dos Guajajaras, 1268  

  29 de outubro a 01 de novembro:  

> Pintura-ritual - Chão da Av. Amazonas, ao redor da Praça Raul Soares

Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo ( Peru)

30 de outubro a 02 de novembro:  

> Vivência 

guiada por Tainá Marajoara ( PA), com Patrícia Brito (MG), Silvia Herval (MG) e Mayô Pataxó (MG)

*mais sobre os artistas abaixo 

Em tempo: A sexta edição do festival conta ainda com uma terceira empena que será pintada pelo vencedor da convocatória pública. O Grupo Giramundo está confirmado com uma inédita instalação na praça e acontece ainda o lançamento do catálogo oficial do festival! 

O novo território

A Praça Raul Soares tem uma característica que a torna única na cidade: seu piso com grafismos marajoara. O povo marajoara, formado por grupos indígenas nômades, é considerado extinto, mas segue viva a cultura entre descendentes. A arte marajoara na praça nos convida à reflexão nestes tempos de morte e renascimento.

No centro da praça está a fonte, cujo contorno nos remete à imagem da Chakana, a cruz Inca, povo originário do Peru, país onde fica a nascente do rio Amazonas. Ela possui doze pontos, cada um dos quais divididos em terços que representam três mundos: o mundo inferior, que é o mundo dos mortos; o mundo que vivemos, que é o mundo dos vivos; e o mundo superior, que é o mundo dos espíritos. Esta mesma praça, que guarda a cultura dos povos originários do rio Amazonas, é considerada o centro geográfico de BH e, por ela, cruzam avenidas que conectam as regiões oeste e leste, norte e sul da cidade.