Há 50 anos, um grupo de quatro cabeludos da cinzenta cidade inglesa de Birmingham lançou um disco. Batizado com o nome da banda – Black Sabbath – e com uma foto sinistra na capa, o álbum, que trazia um som pesado e inédito para a época e letras sobre bruxaria e ocultismo, marcou o início do heavy metal como estilo musical.
Passadas cinco décadas, quem ainda duvida da vitalidade e da capacidade de renovação do som criado pelos rapazes ingleses deve mudar de opinião ao ouvir “Quadra”, o novo disco do Sepultura, lançado nesta semana em todas as plataformas de streaming.
Para criar o conceito do álbum, o 15º da carreira da banda, o Sepultura foi buscar inspiração na numerologia, em particular no livro “Quadrivium”, organizado pelo inglês John Martineau e que trata das quatro artes liberais clássicas: aritmética, geometria, música e cosmologia. “A palavra ‘quadra’ é em português mesmo e significa um espaço delimitado por linhas, com regras, onde acontece o jogo”, explica o guitarrista Andreas Kisser. “É uma metáfora: nós somos delimitados o tempo todo por linhas imaginárias, como fronteiras de países, religiões, política”, afirma. “O disco fala sobre o respeito às diferenças. Hoje, o que vemos é um caos, com discussões e brigas sobre coisas como ideologia e religião, que são conceitos que não são reais, mas fruto de um acordo da sociedade”, analisa.
Ainda refletindo o conceito da numerologia, o disco foi dividido em quatro partes, cada uma com três faixas. “O primeiro lado é mais direto, thrash metal mesmo. Depois, vem uma parte com mais groove; a terceira, puxando mais para o instrumental; e a quarta parte, mais melódica”, detalha.
Em termos musicais, “Quadra” passeia por todos os estilos e experiências sonoras que o Sepultura teve ao longo de seus 35 anos de atuação. O resultado, porém, não soa datado ou antigo. Pelo contrário: o novo trabalho surpreende pela vitalidade e pelo frescor. Muito disso é mérito do baterista Eloy Casagrande, cada vez mais à vontade no posto. Completam o quarteto o baixista Paulo Jr. e o vocalista Derrick Green.
“Foi tudo pensado. Queríamos trazer as nossas influências ao longo da história, mas com a energia e a atitude de hoje”, afirma.
Kisser celebra a oportunidade de lançar o terceiro disco com a mesma formação. “Ajuda muito. O Eloy é um músico fenomenal, que cresceu muito desde que chegou à banda (em 2011), e nós três também crescemos junto com ele”, avalia.
Aprovação
O retorno dos fãs e da mídia especializada tem empolgado o guitarrista. “Não me lembro de um disco do Sepultura com uma resposta tão forte e absurda, as pessoas estão emocionadas e excitadas, de uma forma que eu nunca vi antes”, afirma. Para ele, um dos motivos é o poder que o heavy metal ainda tem de fazer os fãs consumirem um álbum inteiro, em vez de uma ou duas músicas, como se tornou comum no streaming.
Um dos entusiasmados com o trabalho é o baterista norte-americano Mike Portnoy, que tocou em bandas como Dream Theater e Sons of Apollo. “Curtindo demais ‘Quadra’, é um dos meus discos preferidos de metal do ano”, escreveu o músico nas suas redes sociais.
Turnê
Apesar de ter sua origem em Belo Horizonte, o Sepultura não se apresenta na cidade desde 2016. Em 2017, um show gratuito na praça da Estação acabou cancelado após um temporal que desabou sobre a capital mineira.
Apesar de reconhecer a dívida, Kisser pede paciência para os fãs que querem conferir de perto as novas músicas. É que o grupo já está com a agenda cheia para os próximos meses no exterior, onde vai tocar nos EUA e nos principais festivais europeus durante o verão do Hemisfério Norte. “Foi frustrante aquele cancelamento. Devemos excursionar o Brasil no fim deste ano, e lógico que Belo Horizonte está na nossa lista”, garante o guitarrista.