Em 1984, Zizi Possi estava grávida, barriga saliente, quando subiu ao palco do Palácio das Artes para o que seria o último show antes de dar à luz. “Lá estava eu cantando em um ritmo, e o bebê dançando em outro”, lembra. Quinze dias depois, em junho, Luiza nasceu no Rio de Janeiro. Trinta e cinco anos se passaram. Agora, a “mulher barriguda que vai ter menino”, como na música do Secos & Molhados, é Luiza, que espera a chegada de Lucca, e o cenário, o mesmo Palácio das Artes.
Hoje, elas sobem juntas ao palco para “O Show”. “É um momento interessante, muito bonito, essa coisa da eternidade através do filho, da raiz ancestral”, comenta Zizi.
Filha de napolitanos, ela cresceu no bairro paulistano do Brás, típico reduto de imigrantes italianos, e essa raiz estará presente no repertório desta noite. “Per Amore”, um de seus maiores sucessos, não vai faltar. Zizi se alegra por voltar a Belo Horizonte, cidade onde quase viveu no início dos anos 90. “O Gonzaguinha quase me convenceu a morar aí”, diz a cantora por telefone.
Da música mineira, ela cita Milton Nascimento, Beto Guedes e Flávio Venturini como influências especiais. Algumas novidades também serão mostradas ao público. “Força Estranha”, de Caetano Veloso, inédita na voz de ambas, fará parte do show, assim como “Paula e Bebeto”, parceira de Milton Nascimento com o próprio Caetano. “Agora chega de contar as surpresas, né?”, brinca Zizi. A cantora conta que ela e Luiza quiseram sair do padrão de alguns shows feitos em parceria, em que a apresentação é dividida em dois momentos solos e um encontro das vozes no fim.
No palco, elas fazem questão de mostrar cumplicidade nesta primeira turnê juntas. Por isso, canções que influenciaram mãe e filha foram escolhas naturais para o projeto, como conta Zizi: “Quisemos fazer uma coisa, um fio condutor que passeasse por esse universo”, diz.
A parceria ultrapassou os limites dos palcos. Zizi conta que o show foi pensado e concebido em um trabalho de duas profissionais que, para além do laço familiar, trabalharam em sintonia e souberam dividir funções. “A Luiza e a empresa dela ficaram mais com a parte de divulgação. Em 40 anos de carreira, nunca tive um show tão bem divulgado. Por outro lado, tenho cuidado mais da parte do conteúdo, o lado dos músicos. Somos uma dupla que funciona muito bem”, garante.
Inquieta. “O Show” é um dos cinco projetos com os quais Zizi está envolvida. Ainda tem: “Zizi Canta Chico e Edu”, com repertório dedicado a Chico Buarque e Edu Lobo; o monólogo musical “À Flor da Pele”, dirigido pelo irmão José Possi Neto; o concerto “Piano e Voz”; e, por fim, “Zizi Possi – 40 Anos de Música”, em que se apresenta com seu quarteto e faz um passeio pelas quatro décadas de carreira.
Ainda em maio, no dia 28, a intérprete estreia um show em Goiânia, apenas com repertório italiano. Em meio a tanto trabalho, Zizi deixa para trás a dor da depressão, doença que enfrentou durante vários anos. “Estava passando por um momento de depressão, mas a arte é redentora. Nesses últimos dois anos, me levantei. Estou bem cansada, mas feliz”, afirma a futura vovó.
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