Em seu apartamento no Rio de Janeiro, o escritor mineiro Zuenir Ventura, de 88 anos, foi surpreendido pela notícia da morte de Rubem Fonseca, com quem trocou experiências de vida e literárias ao longo de 50 anos. Em um depoimento por telefone ao Magazine, Zuenir lembrou o amigo e genial "Zé Rubem", como o chama carinhosamente.
“Estou sob impacto. Perdi um dos maiores amigos, o mais divertido, o mais engraçado e inteligente. Ele era uma figura curiosa. No plano pessoal, era muito engraçado e brincalhão, mas também tinha essa coisa de ser recluso. Fomos algumas vezes a Cuba, fazíamos parte do júri do Prêmio Casa de las Américas. As pessoas vinham me perguntar, curiosas, dizendo que ele não dava entrevistas, e eu falava que não dava mesmo! (risos) Já perguntei a ele ‘como isso se explica?’, mas ele não sabia. Recebi a notícia da morte dele com vontade de rir e de chorar. Perdi um dos meus maiores amigos, e o Brasil, certamente, um de seus maiores escritores. Eu o conheci há mais de 50 anos, e o que fica dele para mim é esse Zé Rubem íntimo, recluso, mas também muito engraçado. Quando recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, ele me disse: ‘Escrevi mais de 30 livros, todos eles têm palavras obscenas. Não discrimino as palavras. Para mim, elas não têm essa diferenciação’. Ele era uma figura espetacular. Estou muito impactado. Não estava esperando essa notícia, não esperava que ele fosse, assim, tão de repente.”