Após a apresentação da banda Queen, que abriu a noite do Oscar, neste domingo (24), no Teatro Dolby, em Los Angeles (EUA), o trio de atrizes que subiu ao palco deu o tom da festa, que foi repleto de sutis manifestos contra questões atuais, principalmente em relação ao muro que o presidente americano Donald Trump insiste em construir para separar o México dos Estados Unidos na fronteira entre os dois países.

As comediantes Tina Fey, Amy Poehler e Maya Rudolph fizeram a tradicional abertura, com piadas e comentários sobre os artistas presentes. Na esquete, falaram também sobre uma polêmica que aconteceu pouco antes da festa. Para diminuir o tempo da cerimônia de premiação, que tem perdido audiência em sua transmissão na TV, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas pensou em entregar alguns prêmios técnicos – fotografia, edição, curta-metragem e maquiagem e penteado – durante o intervalo da festa. 

“Não vamos entregar prêmios durante os comerciais, mas vamos fazer comerciais durante a premiação”, cutucou Amy Poehler. “Não vai ter Oscar de melhor filme popular e o México não vai pagar o muro”, Maya Rudolph concluiu, arrancando risos da plateia. A tal categoria de filme popular havia sido sugerida também, na tentativa de abranger um maior público durante a premiação.

Claro que, após protestos de diversos artistas de renome como Brad Pitt, George Clooney e Robert de Niro, a academia voltou atrás da decisão de entregar prêmios fora do ar. O diretor Alfonso Cuarón também havia expressado seu desgosto. Ele foi o vencedor da categoria fotografia, por “Roma”. 

Antes de anunciar o prêmio de filme estrangeiro, o ator espanhol Javier Bardem, que está em cartaz nos cinemas com “Todos Já Sabem”, fez questão de falar em espanhol que não há “muros” – em clara referência a Trump – que possam segurar a genialidade de cada país, de cada língua, de cada cultura. Por ironia, o filme vencedor foi “Roma”, mexicano, em seu segundo prêmio da noite – ao todo, o longa ganhou as estatuetas de fotografia, filme estrangeiro e diretor.

Até mesmo Jason Mamoa, protagonista de “Aquaman” fez seu manifesto. Depois que a atriz veterana e chiquérrima Helen Mirren o chamou de “Deus havaiano” – não sem razão –, ela destacou o fato de os dois estarem vestidos de cor de rosa. Mamoa não perdeu tempo e agradeceu o fato de que agora cor não tem mais sexo.

O ator mexicano Diego Luna subiu ao palco com uma bandeira do México na lapela de seu smoking e também falando espanhol para apresentar “Roma” como candidato a melhor filme, que dá voz às mulheres e aos imigrantes, essenciais na formação de uma sociedade. 

O Oscar mais negro dos últimos anos premiou Regina King e Mahershala Ali nas categorias de melhor atriz e ator coadjuvantes, por “Se a Rua Beale Falasse” e “Green Book: O Guia”, respectivamente, dois filmes que falam sobre as situações absurdas criadas a partir do racismo. Até o fechamento desta edição, “Infiltrado na Klan”, o maior filme/manifesto da questão racial desta edição do Oscar, havia ganhado o Oscar de melhor roteiro adaptado, com Spike Lee subindo ao palco sob muitos aplausos. “Infiltrado na Klan” também foi indicado a melhor filme e direção.

“Quero exaltar os ancestrais que construíram esse país. Estamos quase chegando à próxima eleição. Vamos nos mobilizar. Vamos fazer a escolha moral entre o ódio e o amor. Vamos fazer a coisa certa!”, disse o diretor, em alusão ao seu filme “Faça a Coisa Certa”.

A noite começou com duas premiações para “Pantera Negra”, um filme que exalta a África e também marca a primeira indicação de melhor filme para uma produção sobre super-heróis. Este ano, aliás, um mascarado ganhou como melhor animação: “Homem-Aranha no Aranhaverso” levou a estatueta.