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Regina Souza de corpo e alma, em show de lançamento de 'Chegaí'

Com banda, a cantora mostra o repertório do novo disco no palco do Minas Tênis Clube, mas respeitando todas as coordenadas das autoridades sanitárias

Por Patrícia Cassese
Publicado em 25 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
Regina Souza: "Eu me coloquei muito (neste trabalho), mesmo onde é ficcional, passa por mim, por minhas fantasias, sonhos, desejos, brincadeiras. Não consegui fazer de outra forma, na verdade, aconteceu assim" Felipe Fantoni/Divulgação

Uma série de fatores, muitos deles operados por obra do acaso, conduziram a cantora mineira Regina Souza a mares nunca dantes por ela navegados. E as experiências vividas neste percurso acabaram respingando em seu mais recente disco,  “Chegaí”, no qual  expõe ao público a sua alma de artista e de mulher, assinando letra e música das 13 faixas. Gravado no início de 2020, com produção dela junto a Du Macedo, e co-produção de Felipe Fantoni, “Chegaí” já estava nas plataformas musicais, mas, nesta sexta-feira (25), às 21h, ganha seu merecido lançamento oficial em show que terá como palco o teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube. Bem, em comunhão aos protocolos estabelecidos pelas autoridades sanitárias, não haverá publico presencial. 


Em cena, estarão, além da intérprete, os músicos Du Macedo (violão, guitarra, cavaquinho e vocais), Cláudio Queiroz (bateria e percussão) e Fred Jamaica (baixo e vocais) . O show conta com cenário de VJ Homem Gaiola, iluminação e gravação de Vicente Baca. Provocada a voltar ao embrião de toda essa empreitada, Regina Souza lembra que, nos últimos anos, andou um pouco afastada do cenário da música, ao menos no que se refere a shows. "Estava mais focada no teatro", comenta. Um dia, porém, ao assistir a uma das rodas de samba de Babaya, foi logo abduzida pela energia do evento, e de pronto, pediu para se incorporar àquele lugar "da alegria, do prazer de cantar". 

Mais que o entretenimento, por lá conheceu Du Macedo, o diretor da iniciativa da roda de samba, e, em meio à descoberta de uma série de afinidades com o futuro produtor de seu novo disco, resolveu mostrar a ele uma de suas composições recentes: "Galo Cantou". A letra, aliás, reflete uma situação que Regina estava atravessando, de noites varadas, insones. "O período que passei de não conseguir dormir, ou de acordar de madrugada. A falta do sono, a perturbação da alma, a cabeça a mil por hora", descreve.

Macedo não só gostou do material a que acessou como incentivou a mais nova amiga de infância a colocá-lo na roda. "Isso foi em fevereiro do ano passado, e, aí, chegou o Cláudio Queiroz, depois o Fred, montamos a banda e passamos o primeiro semestre ensaiando". Logo na sequência, a amiga e cantora Celinha Braga inaugurou a Casa Outono, um charmoso espaço cultural situado no bairro Cruzeiro. "Fizemos uma pequena temporada lá, a partir de agosto", conta ela. 

No início deste ano, com o repertório já devidamente calibrado, Regina entrou em estúdio. Na verdade, a essa altura, ela já estava com as malas afiveladas para ir para a cidade do Porto, por conta de um convênio que a universidade na qual cursa Filosofia (a PUC Minas) mantém com instituições de outros países. Em tempo: ela já é formada em comunicação social.

Gravado o disco, ela cruzou o Atlântico... mais eis que veio a pandemia. Logo na sequência, Portugal fechou suas fronteiras, e Regina passou um período de 60 dias isolada, no apartamento que dividia com os integrantes do grupo Lúdica Música, que, cumpre frisar, estão morando por lá já há algum tempo. Após tempos de aulas online e, numa segunda etapa, presenciais, ela concluiu essa etapa e, de volta ao Brasil, a produtora Danusa Carvalho botou pilha para o show, com a anuência do Minas Tênis Clube.

E sim, além da banda, a oportunidade contempla a presença do amigo Maurício Tizumba no palco. "Ele é padrinho da minha filha, a Clara. Foi o próprio pessoal da produção que sugeriu o nome dele, mas, de início, ficaram com receio de eu não aceitar, pelo fato de ele não estar neste disco em particular (risos). Eu falei: 'Como assim? Tizumba faz parte da  minha vida inteira! (risos) A gente começou a trabalhar junto em 1993, mas já se conhecia bem antes, e nunca deixou de estar junto. Fomos companheiros na Cia. Burlantis, junto com a Marina (Machado), já dividimos vários shows. É  uma delícia trabalhar com ele, um lugar muito gostoso de estar. E, como disse, além do artista querido, é um compadre".

Tizumba vai mostrar "A Criação". Aliás, além das músicas próprias, o show vai incluir "Pra Ela Passar", de Vander Lee, com que Regina foi casada, e "Mais Samba", de Sérgio Pererê. "São três artistas muito importantes na minha vida. Do Tizumba, já falei. Com Pererê, tenho muita afinidade com espiritualidade, sempre foi uma referência pra mim. E o Vander Lee, aprendi muito com ele, vendo ele. Me ensinou demais a ser artista. Eu já era antes, mas esse lugar autoral, hoje vejo como tudo o que ele me ensinou se reflete em mim, muito, muito, muito".

Desafiada a falar sobre outra faixa do disco, escolhida a seu bel prazer, ela cita o reggae "Replay". "Essa é bem mais nova que 'Galo Cantou', mas reflete bem esse meu momento mais recente. Passei por um período de transformação grande, e fiquei muito recolhida. Por uns dois anos, saía pouco, só mesmo para trabalhar. A verdade é que não tinha vontade. E por minha cabeça passava tanta coisa... Sem sair muito do lugar, mas, ao mesmo tempo, com um sentimento de esperança. Foram muitas madrugada acordadas, mas sempre com a esperança de encontrar uma luz em mim". 

Somado a esse processo interno, ela se viu desapontada com os rumos que o país estava tomando. "Tudo o que a cultura vem sofrendo, a população menos favorecida... Ao meu ver, estamos vivendo um retrocesso, mas friso que é a minha opinião, pois tem gente que não pensa assim. Então, via essas tempestades simultaneamente à minha tempestade interna. Tudo isso me fez ficar muito em casa, eu e meu violão. Muitos dias com a companhia só da minha filha, eu estudando - e a filosofia me acrescentou demais. Então, 'Replay' tem algo até de físico, ela vai e volta, como nessas situações que citei, das quais a gente não consegue sair. E esse além-mar acabou sendo uma oportunidade concreta de sair, de buscar novos ares, de estudar, respirar. Nem sempre (a mudança) é também um movimento exterior, mas, no meu caso, sim, se materializou (com a ida para Portugal). E morar fora é sempre (ou quase sempre) uma experiência muito rica, que te permite fazer novos amigos e, ao mesmo tempo, se aprofundar em si mesmo", reflete.

De todo jeito, ela salienta que o processo composicional foi absolutamente espontâneo. "Não sentei e falei: Ah, hoje vou fazer uma música'. Tudo veio a partir desse processo particular de reflexão. Pegava o violão e vinha a inspiração. Na verdade, já compunha antes, e sempre quando fazia a letra, a melodia vinha. Mas eu é que acabava achando (a melodia) simples demais. No entanto, quando a gente faz esse mergulho em si mesmo, percebe que é muiro mais fácil ser o que a gente na verdade é do que o esforço de tentar ser o que não é. É mais tranquilo se aceitar, aceitar o tamanho que a gente tem. Veja, de qualquer maneira é difícil ter voz, ainda mais sendo mulher, neste mundo tão masculino. Por outro lado, estamos assistindo a um movimento envolvendo muitas mulheres, é que é muito forte. É bonito isso que estamos vivendo, as pessoas se expondo mais, sem receios. A gente vê e fala: 'Pôxa, acho que vou também (por aí). Então, acho que estou neste bonde", conclui.