Entrevista

Rogério Zola Santiago lança livro 'Exercícios de Partida'

A obra terá outras sessões de autógrafo, como a do dia 7 de novembro, na Leitura Pátio Savassi

Sáb, 19/10/19 - 03h00
A obra do escritor reúne poesias, críticas, depoimentos e correspondências com nomes como Marina Colasanti e Afonso Romano de Sant’Anna | Foto: Flávio Tavares

A noite do dia 26 de setembro teve um significado pra lá de especial para o jornalista e escritor Rogério Zola Santiago. Em uma das edificações mais icônicas da capital mineira, o Automóvel Clube, ele autografou, incansável, “Exercícios de Partida: Metáfora Clandestina” (Páginas Editora, 304 páginas), que situa como “um livro definitivo” em sua vida. O evento, vale dizer, não economizou em atrações para os convidados, abarcando todas as vertentes artísticas, da performance à música, passando pelas artes plásticas e até pelo ofício da bonecaria – essa, representada por Agnaldo Pinho.

“Exercícios de Partida” terá outros lançamentos, com o do dia 7 de novembro, na Leitura Pátio Savassi, e o do dia 23 do mesmo mês, na Festa Portuguesa. Ao Magazine, Zola discorreu um pouco mais sobre a empreitada. Confira, a seguir, alguns trechos.

Você falou que a obra levou 30 anos para ser concluída. Poderia falar mais sobre esse processo?

Como sabia que seria um livro definitivo em minha vida, me empenhei muito. Até a revisão foi obsessiva, nunca me dava por satisfeito. Aliás, fico impressionado com quem diz que escreve um livro de um dia para o outro, em uma semana... Para mim, texto tem que ter um burilamento. E, veja, eu mesmo fiz a revisão. Tem muita coisa ali que é criação, inovação gramatical... E que assumo. Se mandasse rever, iriam corrigir onde eu, na verdade, queria inovar, não daria certo. Agora, se uso a gramática “ao prazer do poeta, e não como amarra”, é preciso dizer que, modéstia à parte, tenho o domínio dela. Ou seja, não é confundir inovação com “não saber”. Picasso, antes de inovar com seus rabiscos, sabia a pintura acadêmica com perfeição. Quem sabe a regra, a gramática, o anterior, inova com mais propriedade. De resto, é invencionice. 

Você não quis um lançamento aos moldes tradicionais. O que tinha em mente?

Veja, aquela noite, todo mundo saiu de lá ressaltando principalmente a diversidade. Do Rio, por exemplo, vieram a Marlene Silva e o grupo de dança afro-brasileira. E teve a dança das mulheres, com a companhia Bell’ Art... Mas confesso que chorei muito com o grupo de dança Crepúsculo, convidando pessoas com paralisia cerebral. A expressão de alegria delas... Não teve jeito, todo mundo chorou – até porque a verdade é que todos nós temos limitações. Foi um dos momentos altos de uma noite na qual ainda teve a Angela Geo com suas instalações gigantes, reproduzindo a arte que está na capa do livro, só que oca, emoldurando canetas Bic, uma máquina de escrever antiga, papel ofício (alusões ao universo dos escritores)...

Bem, agora o óbvio ululante, a obra...

Então, ela percorre desde meu nascimento e chega aos dias atuais de forma sutil. Tem prefácio do Fábio Lucas e algumas traduções do Lloyd Schwartz, que tem em seu currículo um Pulitzer. Reúne poesias, críticas, depoimentos e correspondências com gente como Antonio Sergio Bueno, o Valmik Vilela Guimarães, que já se foi; a Marina Colasanti, o Afonso Romano de Sant’Anna... A minha idade, 64, me permitiu conhecer gerações anteriores e adentrar nas atuais, então é muita gente que passou pela minha vida. A Yara Tupinambá, por exemplo, é parceira desde “Draga”, meu primeiro livro, e aqui comparece com uma ilustração belíssima. A Maria Vitória Capelão, minha amiga fiel. Enfim, o livro repassa fases e etapas que vivenciei, como quando trabalhei na Embaixada dos EUA, a fase da Turma do Gutierrez, da Turma do Saci... Aliás, muitos membros delas, que conheci com 9, 10 anos, estavam no lançamento. Voltando ao livro, também tenho textos denunciadores.

Em que senso?

Por exemplo, sobre os escritores independentes, que não têm apoio algum. Fui conselheiro municipal da prefeitura quatro vezes, posso falar. Vejo a luta da Academia Municipalista de Letras, cujo presidente é o César Vanucci, para abrir as portas aos mais jovens, aos não tão tradicionais, não arraigados a valores que não estão mais em voga. Esse movimento é importante neste momento. Veja, a Associação Amigas da Cultura acabou, a União Brasil de Trovadores/Seção MG também... O que é isso, gente? Por que está acabando tudo? Penso que tem que haver mais solidariedade no meio cultural, para a nossa sobrevivência. E renovação. Do lado da Academia Mineira de Letras, tenho confiança no trabalho do Rogério Tavares (novo presidente), que, como o Vanucci, é muito dinâmico.

Tendo a experiência de professor universitário, você fala que sempre procura valorizar o sindicato dos professores e o dos jornalistas, confere?

Sim. Como jornalista, tive oportunidade de entrevistar o Nelson Mandela, nos Emirados Árabes. Ele ressaltou a importância do respeito ao trabalhador. E isso está impregnado no livro. Aliás, questionaram o fato de eu ter escolhido o Automóvel Clube para o lançamento, por ser visto como um lugar de elite. Mas a minha ideia de igualdade é que todos sejam favorecidos, tenham acesso à arte, à cultura, à beleza, a boas condições de estudo, a hospitais perfeitos. O AC tem uma importância histórica na cidade, então, quero poder levar todo mundo lá. Tem gente que me escreveu: ‘Nunca entrei lá!’. Ah, então, vai entrar, dançar, conhecer a casa. 

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