Trabalho autoral

Sem excessos, João Bernardo une a MPB e o contemporâneo em novo álbum

“Encontro Dos Rios”, quarto disco do cantor e compositor belo-horizontino, chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (15)

Sex, 15/05/20 - 11h30

Entre as nove faixas de “Encontro Dos Rios”, álbum que o cantor e compositor belo-horizontino João Bernardo lança nas plataformas digitais nesta sexta-feira (15), há uma sintonia, um ponto em comum buscado deliberadamente: a união estética e musical da MPB – principalmente da era de ouro setentista – com a produção contemporânea sem esbarrar em preconceitos e preciosismos. Talvez o melhor exemplo desse casamento seja a terceira faixa do disco, “Puxadinho”, que encontra ecos tanto em Caetano quando nos atuais Jhonny Hooker e Gaby Amarantos. Cheia de balanço, bom humor e ironia autoconfiante, ela diz no refrão: “Tá puxado ser um puxadinho do seu coração/ Enquanto outro de mansinho/ Já tá morando na mansão”.

“Somos atravessados por tantas referências, tantas formações, que é só deixar fluir. E isso aconteceu em todas as músicas, a gente não sabia onde ia dar, poderiam ter pegado um caminho errado, mas não aconteceu. Elas conversam entre si”, diz o músico. Ao lado de João, Bem Gil (guitarras e flauta), Bruno Di Lullo (baixo, violão e sintetizadores) e Domenico Lancellotti (bateria, percussão e sintetizadores) foram os responsáveis por dar esse contorno ao trabalho.

“Acho a banda maravilhosa, são músicos que pensam a música de maneira contemporânea. Quem escuta vai sentir que flui, não é uma coisa engessada. Eu realmente queria dar um passo à frente. O disco foi gravado de uma forma que eu nunca tinha trabalhado antes. Não tinha ensaio, a gente gravava na hora, deixava fluir. Não é à toa que o disco chama ‘Encontro Dos Rios’”, ele destaca. João cita, por exemplo, o caso de “Quem Procurou Não Encontrou”, letra dele e de Miguel Jorge. Inicialmente, canção seria um afro-samba querendo soar como Vinicius de Moraes. “Olha como eu sou cara dura”, João brinca. Na “hora H”, ela virou uma capoeira. “Essa é a essência do álbum, tudo fluiu de uma forma inesperada”, completa o compositor.

Durante três meses no segundo semestre de 2018, o álbum foi gravado nos estúdios Palco, de Gilberto Gil, no Rio de Janeiro, e no Rockit!, do ex-Legião Urbana Dado Villa-Lobos, também na capital carioca. “Encontro Dos Rios” é o quatro álbum de João e sucede “Vende Peixe-se”, “Ano Que Vem Eu Vou Ser Na Avenida O Palhaço Que Eu Fui Na Vida” e “Meu Coração Não Para De Me Bater”. Ele não esconde a alegria por ver o trabalho ser lançado pelo selo Dubas, do compositor, produtor e um dos nomes fundamentais do Clube da Esquina, Ronaldo Bastos.

“Ele é um cara que admiro há muito tempo. Posso dizer que sou um cara de sorte, mas também porque estou no meu caminho. Para a minha vida, independentemente de qualquer coisa, o selo dele lançar meu disco é um golaço para mim”, comemora o músico.

“Encontro Dos Rios”, parceria de João com o desenhista André Dahmer, responsável pela foto da capa, dá nome ao trabalho, e não por acaso: “Ele me mostrou a canção, achei o nome maravilhoso. ‘Esse vai ser o nome do disco, não tem jeito’, falei com ele. O André é um artista incrível, um gênio”. A faixa, que tem participação da cantora Mãeana, também ganhou um clipe, assinado pelo diretor mineiro Eduardo Gomes. Mãeana, aliás, também coloca sua voz na canção que abre o disco, "Longe Daqui (É Perto de Outro Lugar". 

Em junho, será a vez de “Lua, Minha Flor” ter seu videoclipe lançado. A produção é do artista plástico, designer e músico belo-horizontino Max Henrique, e mostra João Bernardo em pontos emblemáticos do centro de BH, como a Praça Sete e o Mercado Central. “Queria muito que tivesse esses elementos, BH está profundamente em mim”, reflete o artista, que hoje vive em Vila Velha (ES).

No meio da pandemia

Claro que João Bernardo lamenta o fato de lançar seu quarto disco em meio ao isolamento provocado pelo novo coronavírus e não poder celebrar o álbum com um show. Porém, ele não se deixa abater e aceita os desafios pelo caminho. O cantor e compositor tem feito lives para divulgar o trabalho, como a que realizada nesta sexta-feira, às 22h, em seu perfil no Instagram. “Depois entendi que minha contribuição é a música. Se o disco está chegando nesse momento, que seja uma luz no caminho de quem estiver por aí. A força da arte está muito clara na vida das pessoas”, comenta João Bernardo.

Carregando...

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.