Música

Zizi e Luiza Possi sobem juntas ao palco com “O Show” e apresentam sucessos

Canções de de Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Gilberto Gil integram o repertório de mãe e filha

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 22 de março de 2024 | 06:00
 
 
Zizi e Luiza Possi sobem juntas ao palco com “O Show” e apresentam sucessos de Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil e Caetano Veloso Foto: Mattheus Brunette/Divulgação

Zizi Possi não ouviu ninguém. Nem a própria filha. “Lembro que falei para minha mãe: ‘Não grava disco em italiano, preciso estudar, comer, isso não vai dar certo’”, confessa Luiza Possi. Felizmente, a matriarca seguiu o próprio instinto e, com “Per Amore”, de 1997, faturou o cobiçado disco duplo de platina, graças às mais de 800 mil cópias vendidas, feito que só havia tangenciado com “Asa Morena”, quando, na década de 1980, levou para casa um disco de ouro.  

“Ela fez 250 shows em um ano e meio, foi uma loucura, nossa vida mudou, conseguimos comprar um apartamento”, recorda Luiza ao discorrer sobre a ascensão social que o sucesso apoteótico da mãe proporcionou à família, puxado pela música que virou tema de novela da Globo. Neste sábado (23), as duas se apresentam juntas no Palácio das Artes, em espetáculo que recebeu o protocolar nome de “O Show”. 

Encontro

A relação em cima do palco, embora “mágica”, expõe também os conflitos entre mãe e filha. “Ao mesmo tempo em que temos coisas em comum, somos muito diferentes, a gente discorda em vários aspectos”, afirma Luiza. Essa convivência íntima e intensa é transposta para a plateia. “Durante o show, uma rebate o que a outra tenta falar, colocamos tudo em pratos limpos, a relação familiar fica acima da profissional”, salienta Luiza, garantindo que a interação agrega um toque de humor ao espetáculo.  

Outra característica é a beleza atemporal das canções. O repertório privilegia músicas que se impregnaram no imaginário popular, tanto na voz de Luiza quanto na de Zizi, dotadas de incontestável lirismo, como “Folhetim”, “Pedaço de Mim”, “Meu Pobre Blues”, “Me Faz Bem”, e as já citadas “Per Amore” e “Asa Morena”.

“De todas as maneiras, me toca quando a música não é óbvia, quando melodia e harmonia são lindas e quando a poesia expressa alguma verdade, daquelas em que eu poderia assinar embaixo”, comenta Zizi, que prossegue: “Há uma linha fina de percepção que me mostra aquilo que me toca e eu ‘preciso’ cantar, e o que me toca, mas eu prefiro ouvir”.  

Raiz

A escolha das composições foi feita em conjunto, congregando compositores constantes na carreira de ambas, pertencentes ao cânone nacional, como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil, com “algumas em italiano que falam da nossa raiz, de onde viemos”, sublinha Luiza.

“É um show com muita história”. Lançada por Gal Costa em 1978, no LP “Água Viva”, a música “Folhetim”, que versa sobre a vida de uma prostituta, ganhou uma versão de Luiza em 2007, quando integrou a trilha da novela “Duas Caras”, da Rede Globo, e teve seu sucesso renovado. “Foi um acontecimento na minha carreira, tocou muito no rádio. Já estava eternizada pela Gal e acabou chegando com vigor para toda uma nova geração”, destaca Luiza.

Quando Gal faleceu, em novembro de 2022, mãe e filha estavam na estrada com a atual turnê e perceberam a forte presença da cantora no repertório. “Gal é um ícone. Nós, cantoras, temos todo um trabalho a ser feito para que sua obra não seja esquecida. Quanto mais a gente puder celebrar a Gal, melhor”, conclama Luiza.  

Escola

O principal ensinamento que Luiza recebeu de Zizi, a quem considera “uma verdadeira escola musical”, foi não ter “vaidade em cena”. “Não pensar muito se as pessoas estão gostando, se estou cantando bem, mas me concentrar na conexão direta com Deus, ser uma ponte entre o divino e o povo”, sustenta. Além da mãe, ela cita Maria Bethânia, Marisa Monte, Mariah Carey e Whitney Houston como referências.

“Sempre escutei muita música boa, desde pequena, de Barbra Streisand a Chico Buarque, algo que os meus pais me incentivaram e que tento repetir com meus filhos”. No próximo dia 19, Luiza coloca na praça o seu novo álbum, em parceria com o DJ Lucas Borchardt, com releituras de dance e house music para hits de Adriana Calcanhotto, Marina Lima e da música norte-americana.

“Estou muito entusiasmada com esse trabalho”, entrega. Para quem não escolheu, mas se diz “escolhida pela música”, Luiza, que completa 40 anos em junho, tem uma invejável memória musical. Ainda na barriga da mãe, ela sentia o calor do público. Mas, quando Luiza tinha apenas 3 meses, Zizi enfrentou um drama: foi obrigada a tomar injeção para secar o leite do peito.  

Família

“Ao contrário do que as pessoas pensam, não nasci em berço de ouro. Minha mãe precisava trabalhar, inclusive porque meu pai tocava na banda dela e, se ela não fizesse show, nenhum dos dois ganhava dinheiro”, conta. Filha do músico Líber Gadelha, que morreu em 2021, aos 64 anos, vítima de Covid-19, Luiza afirma que suas primeiras lembranças musicais “são mais sentidas do que pensadas”.

Ela, no entanto, guarda com carinho um episódio particular. Aos 6 anos, morando em São Paulo, ao chegar da escola, a cantora teve que “pular os instrumentos espalhados pela sala” enquanto o pai e a mãe ensaiavam uma ciranda. “Era para estar estudando no quarto, mas fiquei dançando enquanto eles tocavam. Nunca me esqueço disso”, admite. De outra feita, Luiza ligou para o dono do Canecão, tradicional casa de shows no Rio de Janeiro. A intenção era conseguir um passe livre para assistir a uma apresentação da mãe.

Como Luiza tinha somente 5 anos, teve o pedido negado. “Ele falou que o show era muito tarde e eu deveria estar dormindo, mas eu repliquei que só dormia depois que minha mãe chegava em casa, os argumentos dele eram muito fracos”, diverte-se ela, que cansou de tomar leite em mamadeira nas portas de estúdio de gravadoras como a Polygram, atual Universal.

A música também a aproximou do pai. A contragosto, porque não queria ser acusado de nepotismo, ele produziu o primeiro disco da filha, permanecendo junto até o sétimo lançamento. “Depois, abri meu selo e minha própria gravadora”, orgulha-se Luiza.  

Serviço 

O quê. “O Show”, com Zizi e Luiza Possi 

Quando. Neste sábado (23), às 21h 

Onde. Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro) 

Quanto. De R$115 (meia) a R$ 380 (inteira) na bilheteria do teatro ou pelo site www.eventim.com.br