Ritos

Ano Novo pode ser oportunidade de reflexão sobre longevidade, carreira e futuro

Com aumento da expectativa de vida, especialistas recomendam planejamento a longo prazo

Por Da Redação
Publicado em 28 de dezembro de 2023 | 06:40
 
 
Especialistas estimulam que se comece a planejar a velhice ainda na juventude Foto: iStock/ Divulgação

Estamos na última semana do ano, já diante da iminência do réveillon. Nesse período, o corre-corre típico do mês de dezembro, com suas tantas confraternizações e eventos sociais, convive com a tendência a um movimento mais introspectivo: quando somos convidados a fazer um balanço de nossas vidas e traçar novas metas – que podem ir muito além daquelas tradicionais resoluções de fim de ano, como perder peso, economizar dinheiro ou viajar mais. Esse momento, afinal, pode ser também uma oportunidade para fazer reflexões mais profundas sobre o nosso futuro. 

E um futuro, diga-se, cada vez mais dilatado. Haja vista que de 1940 a 2022, a expectativa de vida da população brasileira aumentou em 30 anos, chegando a marca de 75,5 anos em 2022 – após queda na pandemia da Covid-19, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que, ao longo das últimas décadas, passamos a ter mais chances de viver mais tempo e, assim, começar ou recomeçar projetos, inventar novos sonhos e se abrir para os mais diversos interesses. Mas também significa que precisamos nos preparar para as novas etapas, cheias de desafios e descobertas que acompanham o envelhecimento.

Nesse sentido, alguns temas se destacam como estratégicos para quem quer planejar o seu futuro com mais estratégia e inteligência, podendo ser um foco de reflexão na véspera do Ano Novo – que, para tantos, aspira ser sinônimo de vida nova.

Para a treinadora, mentora e palestrante Leila Said, a ocasião pode ser encarada como uma ponte para o desenvolvimento do autoconhecimento – pois, para se imaginar no futuro, “você precisa saber o que te faz feliz, quais objetivos deseja alcançar e onde se sente bem, sabendo ainda quais os seus talentos, habilidades e competências”, afirma. É a partir desse autoexame – que também considera aquilo que não queremos para nós, nossos desconfortos e pontos fracos –, que vamos compreender que tipo de mudanças precisamos buscar para alcançar nossas aspirações.

Já a mentora Eliane Pessoa, especialista em desenvolvimento de pessoas, a longevidade é um tema que merece ser trabalhado, sendo algo central na vida moderna. Portanto, diz, é fundamental traçar planos para uma vida saudável e ativa a longo prazo. Ela afirma que “isso inclui adotar hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, exercícios físicos regulares e cuidados com a saúde mental”. Além disso, destaca que “a busca por um estilo de vida mais equilibrado se torna primordial para uma vida longeva e plena”. Por fim, ela indica que as pessoas busquem novos aprendizados, hobbies e atividades que lhes tragam prazer e propósito, acrescentando que a longevidade é uma oportunidade de viver mais e melhor, mas também exige uma maior responsabilidade e consciência financeira.

Leila concorda que, em um cenário de maior longevidade, o planejamento financeiro é de suma importância. Por isso, defende ser preciso que a nossa sociedade rompa com o mito de que se organizar economicamente seria algo complicado, trazendo o assunto para o dia a dia. Nesse sentido, a proximidade do Ano Novo também pode se mostrar, para muitos, um momento adequado para reflexões desse tipo, abrangendo ainda avaliações de nossos objetivos profissionais – que pode desengatilhar a busca de novas oportunidades no mercado de trabalho.

“Uma oportunidade não é um caminhão Scania, todo iluminado com LED, escrito sou uma oportunidade. Não é tão às claras assim, uma oportunidade é reconhecida quando você está preparado para ela”, situa a palestrante, sugerindo àqueles que pretendem mudar o rumo de suas carreiras ou empreender que façam uma pesquisa intensa de todo o cenário de mercado, das mudanças da sociedade, dos conhecimentos multidisciplinares que se tem e que se precisa desenvolver. Ela também recomenda que, na busca por novos horizonte, o profissional invista em educação continuada, faça networking e procure estar pronto a se adaptar a mudanças.

O passo a passo da mudança

Lembrando que seis em cada 10 brasileiros pensam em mudar de emprego, segundo a mais recente pesquisa realizada pela rede social profissional LinkedIn sobre o mercado de trabalho no país, divulgada em fevereiro deste ano, Eliane Pessoa pontua que existem alguns sinais comuns que indicam que é hora de se considerar essa transição. Ela cita como exemplo uma reincidente sensação de desânimo em relação ao trabalho, que surge geralmente no início da semana, o fato de se sentir entendiado e pouco desafiado naquele ambiente ou, ainda, ter impressão de estar sendo desvalorizado, ganhando menos do que mereceria.

Além destes sinais, a especialista lembra haver outros a serem considerados e que podem indicar que é hora de agir, como ter uma paixão ou um talento que gostaria de explorar mais, um propósito ou uma causa que quer apoiar ou contribuir ou um sonho ou um projeto que quer realizar ou participar.

Ao escolher mudar de trabalho ou carreira, Eliane lembra existirem riscos que devem ser considerados. Segundo ela, deve-se atentar, por exemplo, à possível perda de estabilidade, conforto, a perda de contatos profissionais de pessoas conhecidas e adaptação rápida a uma nova cultura organizacional; dificuldade de encontrar uma nova colocação, enfrentar concorrência, lidar com rejeição e frustração; necessidade de investir em qualificação, atualização, capacitação e certificação; e possibilidade de arrependimento, insatisfação, insegurança e estresse.

Por outro lado, a especialista lembra que as oportunidades também devem ser sopesadas. Entre elas estão as chances de crescimento pessoal, novos desafios, aprendizado constante, construção de novas redes de conhecimento, de apoio e ampliação do alcance profissional; maior autonomia, liberdade, criatividade, inovação e realização; melhor qualidade de vida, saúde, bem-estar, equilíbrio e felicidade; e maior impacto, valor, reconhecimento, satisfação e sucesso.

Para aqueles que sonham em empreender, Eliane Pessoa diz que a transição pode ser emocionante, mas também muito desafiante. “Eu mesmo sonhei em empreender por vinte anos e enfrentei muitos desafios”, diz, emendando que não existir uma maneira única de empreender, de forma que cada um precisa escolher seu próprio caminho. “Duas coisas são importantes: a decisão se vai começar lentamente ou em paralelo ao trabalho que a pessoa já executa, e a reflexão sobre algumas questões importantes”, argumenta, ressaltando que é necessário fazer uma análise e um planejamento cuidadosos, considerando questões como capital inicial, impacto financeiro, rede de apoio, motivação e plano de negócios.
Ao considerar mudanças de carreira ou emprego, por fim, é vital realizar uma análise constante, reconhecendo que a decisão envolve o equilíbrio delicado entre riscos e oportunidades, e estar preparado para a possibilidade de mudanças não planejadas como uma demissão e ser flexível diante dos novos desafios para uma transição bem sucedida.

Aposentadoria planejada

A mentora Eliane Pessoa pontua que outro aspecto importante, que deveria ser mais bem-planejado, é a aposentadoria. Afinal, com o aumento da longevidade, as pessoas precisam se preparar para uma vida pós-trabalho, buscando informações sobre previdência, investimentos e outras formas de garantir uma renda futura. “Se olhamos para esta questão mais cedo, os desafios serão menores”, argumenta.

“O investimento na aposentadoria deve se iniciar com investimento de contribuições privadas nas fases iniciais da carreira. É o ideal. Dessa forma, haverá a acumulação gradual de recursos, cujos rendimentos serão melhores se a pessoa tiver a orientação de um profissional especializado”, sugere. “Além disso, a pessoa deve ter uma reserva de emergência, um orçamento equilibrado, uma diversificação de fontes de renda e uma revisão periódica dos seus objetivos e expectativas”, complementa, arrematando que a longevidade é uma oportunidade de viver mais e melhor, mas também exige uma maior responsabilidade e consciência financeira.