Ciência

Centro de Microscopia da UFMG é referência para pesquisadores

Análise de objetos na ordem de poucos mícrons é fundamental para a impulsionar a indústria; aparelhos são usados por mais de 90 empresas e mil cientistas

Por Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2019 | 06:00
 
 
A microscopia é essencial para pesquisas da universidade e para a indústria, explica o diretor do centro Wagner Nunes Foto: João Leus

No chão de uma sala, abaixo do piso, uma caixa de concreto é sustentada por pilastras assentadas a 30 metros de profundidade e cercada por areia seca. Em vez de usar ar-condicionados tradicionais, o ar é refrigerado por água gelada que corre no teto. À primeira vista, pode parecer a descrição de uma fortaleza para suportar um objeto pesado. Mas, na verdade, é o contrário: a estrutura existe para comportar algo menor que um grão de areia.

Assim é uma das salas do Centro de Microscopia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No ambiente descrito, um microscópio é capaz de gerar imagens de alta resolução de objetos com nanômetros de tamanho (ou seja, pelo menos um bilhão de vezes menores que um metro). Por isso, a estrutura precisa ser firme o bastante para evitar qualquer vibração.

“A microscopia é uma maneira de enxergar o que é muito pequeno. A partir de microscópios convencionais, que usam luz, você consegue ver objetos na ordem de poucos mícrons, que são milionésimos do metro. Mas a gente quer ver menor ainda”, explica o físico Wagner Nunes Rodrigues, diretor do centro.

Não é questão de mera curiosidade: a microscopia é essencial para pesquisas da universidade e para a indústria. Cerca de mil pesquisadores brasileiros e de outros lugares da América Latina utilizam o centro regularmente para desenvolver estudos.

Uma delas é a estudante de mestrado Ana Luisa Simões, 24, que analisa catalisadores, materiais capazes de acelerar processos de fabricação de produtos industriais. A pesquisa dela, que está no começo, foca em um material para produção de tijolos e concreto. “Ele é mais resistente e menos poluidor que o cimento tradicional. E pode ser feito com rejeito de mineração”, diz.

Até chegar à produção em larga escala, é preciso que ela avalie microscopicamente os processos envolvidos.

Não à toa, empresas como a Vale, a Nexa e a Cemig são algumas das cerca de 90 que já utilizaram alguns dos 11 microscópios eletrônicos do centro. Com eles, é possível analisar de forma precisa a mais sutil presença de metais preciosos em determinada amostra de solo, por exemplo.

“A empresa precisa saber o processo para extrair o material e se ele existe no ponto onde está explorando”, explica Rodrigues.

Elas podem utilizar o centro mediante pagamento, que é o principal recurso para manter o lugar funcionando – a UFMG arca com 10% das despesas. Pesquisadores universitários também pagam, mas um valor bem menor, subsidiado pela universidade.

Em tempos de contingenciamento de recursos para a instituição, Rodrigues nota efeitos colaterais: menos pesquisadores têm procurado o centro e o ar-condicionado tem sido desligado nas salas onde não é essencial para manter os equipamentos funcionando.

Imagens reconhecidas

Em 2018, uma imagem produzida no Centro de Microscopia da UFMG apareceu na lista das mais relevantes do ano feita pela revista “Nature”, umas das principais publicações científicas do mundo.

Trata-se de uma imagem do tupanvírus, o maior e mais complexo vírus já descoberto. Para Rodrigues, é um dos exemplos do objetivo do centro: “Para que a universidade seja de alto nível, é importante estar na fronteira do conhecimento, ser um lugar que o produz, onde existe pesquisa científica e tecnológica nas suas diferentes áreas”, destaca. 

O centro também é fundamental na produção de grafeno em Minas. O material, que chega a valer mais que ouro, pode ser utilizado na produção de chips e baterias mais rápidas, por exemplo, e já está em produção no campus da UFMG, na empresa MGgrafeno, a primeira a fabricar grafeno no Brasil.

“A gente tem uma parceria muito grande com o Centro de Microscopia, porque é preciso caracterizar o grafeno no começo, meio e fim da produção”, diz Flávio Plentz, um dos pesquisadores à frente do projeto. É a partir das imagens de microscopia que a equipe atesta a qualidade do produto – contando exatamente quantas fileiras de átomos de carbono as amostras têm.