As famosas "cantadas de ruas" fazem parte do dia a dia de grande parte das cidades brasileiras e isso não é novidade. Porém, Nereida Salette da Silveira, psicóloga e professora da Universidade Campinas, ressalta que tal comportamento que parece inofensivo pode carregar uma imensa carga de agressividade.
A psicóloga explica que o assédio de rua, diferentemente de um flerte, não tem como finalidade iniciar um relacionamento. Nereida diz que o objetivo cataliza-se no próprio ato e é por isso que é violento.
A especialista frisa que os assédios de rua podem ser caracterizados de diversas maneiras. Eles vão desde ações verbais ou gestos até a ações em lugares públicos, direcionados a uma pessoa com base nas relações de gêneros. O ato se faz por meio de assobios, insultos, palavras de baixo calão, pedido de número de telefone, agressão sexual, entre outros.
Vale ressaltar que ainda que muitos não reconheçam as “cantadas de rua”, típicas nos países latinos, como assédio, para a psicóloga o ato é considerado ilícito.
Alguns países como a Bélgica, também considera a pratica como um ato ilegal. Outros, como Alemanha, França, Espanha, Noruega, Suécia, embora não possuam uma legislação específica, possuem medidas severas, caso a vítima denuncie e diga que foi humilhada ou intimidada.
Com o crescimento da prática, países da América do Sul, como Peru e Argentina estão debatendo a criação de leis que coíbam as cantadas insultantes. No Brasil, o tema não tenha chegado à casa legisladora, já ganhou espaço nas redes sociais com a campanha contra o assédio sexual em espaços públicos, “Chega de Fiu Fiu”, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. A campanha identificou que 83% das mulheres não gosta de receber cantadas.
Algumas pessoas ainda acham que a cantada é inofensiva, mas estudos mostram que a exposição constante a este tipo de assédio pode ter diversos impactos psicológicos negativos sobre as mulheres, que incluem uma sensação persistente de insegurança, perda de autoestima, desenvolvimento de sintomas de depressão, além de ansiedade e estresse.
Com isso, muitas mulheres se veem privadas de realizar atividades tidas como naturais e são obrigadas a mudar seus trajetos e horários.
Nereida salienta ainda que por a cantada ser um comportamento cultural, mas do que discutir sua criminalização é necessário que se adote medidas educativas tanto no ambiente familiar, quanto na escola.