Quem não conhece alguém que já terminou um relacionamento sob o argumento de que era muito diferente do(a) parceiro(a)? Para descobrir se essa é ou não apenas uma desculpa esfarrapada, psicólogos da Universidade de Amsterdã, na Holanda, avaliaram 4.464 casais.

Em busca de respostas, os cientistas usaram a abordagem chamada de “Big Five” ou “teoria dos cinco grandes fatores”, mais sofisticada do que aquelas usadas em estudos anteriores. Trata-se de um método famoso na psicologia que divide a personalidade humana em cinco características gerais: neuroticismo (instabilidade emocional), extroversão, sociabilidade (afabilidade), escrupulosidade (que mede a autodisciplina) e a abertura para novas experiências.

Segundo a psicóloga Manon van Scheppingen, principal autora do estudo, o maior erro dos trabalhos anteriores foi abordar o Big Five de forma extrema, na qual as respostas se limitavam apenas a “é melhor os parceiros serem parecidos” ou “é melhor serem diferentes”.

Em Amsterdã, os pesquisadores optaram por uma investigação autônoma e sutil dos cinco traços de personalidade – e como eles se relacionavam para o sucesso da relação. E descobriram que, de longe, ter uma combinação perfeita pode não ser o mais indicado. O mais importante para o bem-estar dos parceiros, concluíram, é que suas personalidades se complementem.

Nada muito igual

No estudo foi constatado, por exemplo, que ter o mesmo nível de extroversão causa mais problemas: é melhor que um dos parceiros seja mais desinibido. Além disso, é preferível que ambos tenham níveis parecidos de sociabilidade (não importando se alto ou baixo), mas, se houver diferença, o ideal é que esse fator sobressaia em um deles.

Ainda segundo os psicólogos, os indivíduos tendem a ser mais felizes se eles e/ou seus parceiros tiverem personalidades mais agradáveis, mais conscientes e menos neuróticas – o que é consistente com o que se sabe até hoje sobre as ligações entre esses traços e o conceito de felicidade. “A similaridade levaria a menos conflitos entre visões e ações do casal, o que poderia estar ligado à experiência de níveis mais elevados de bem-estar relacional”, escreveu Van Scheppingen na pesquisa.

No geral, é mais seguro concluir que não existe uma regra única que se aplique a todas as pessoas e que a semelhança entre parceiros é, de fato, importante para os relacionamentos.

Satisfação

Polônia. Um estudo da Universidade de Varsóvia mostrou que ambos os gêneros se satisfazem mais sexualmente quando compartilham a preferência do momento ideal do dia para ter relações.

 

Para especialista, “harmonia do casal é a palavra-chave”

Conseguir criar e manter um relacionamento saudável e feliz pode ser considerado uma verdadeira arte. “Harmonia do casal é a palavra-chave da relação”, diz a psicóloga Gabriela Freitas.

Duas pessoas com personalidades idênticas se relacionando poderia ser uma tragédia comparada à lenda de Narciso, da mitologia grega. “Ambos se apaixonariam pelos próprios reflexos no espelho”, afirma.

Segundo a especialista, é necessário haver um equilíbrio entre diferenças e semelhanças, ou seja, nada de “8 ou 80”. “Elas precisam ter o que chamamos de “pontos de contato”: interesses em comum, ideias similares, sonhos e objetivos alinhados. Se isso não acontecer, a relação tende a não durar muito graças às diferenças, que acabam sobressaindo quando há desequilíbrio”, explica.

De acordo com a especialista, o meio-termo pode definir o fracasso e o sucesso de um relacionamento. E a prática dele reside, basicamente, na comunicação. “Partimos de caminhos, histórias, contextos e pressuposições distintos. Nesse sentido, podemos dizer que o maior problema em qualquer relacionamento é a falta de comunicação ou a comunicação equivocada”, alerta.

Mas, como colocar isso em prática? “Conversar e conversar. Precisamos expressar para o outro o que sentimos, o que pensamos, para que sejamos entendidos, para que nos façamos entender. A comunicação une justamente diferenças e semelhanças. Até porque ninguém é obrigado a ter uma bola de cristal”, diz Gabriela.

Flash

Natureza. Para os pesquisadores da Universidade de Amsterdã, na maioria das espécies monogâmicas do planeta, os opostos não se atraem muito. Pares semelhantes, seja de peixes, de pássaros, ou mamíferos, têm muito mais chance de passar sua linhagem para a frente.