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Comprar curtidas é apenas uma das formas de ‘mentir’

‘Opiniões’ patrocinadas e alteração de imagens são comuns; Instagram diz que faz ‘faxina diária’ em perfis falsos

Por Da Redação
Publicado em 22 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
Sem informar o consumidor, blogueiros recebem dinheiro para falar bem de produtos Foto: Pixabay/divulgação

Ter muitos seguidores no mundo virtual é sinônimo de popularidade na vida real. Para esse tipo de perfil, foi até atribuído um novo nome: os “influencers”, ou influenciadores digitais. São pessoas – celebridades ou blogueiros – que se popularizam no YouTube, Instagram, Snapchat, Twitter, Facebook, entre outros, e que usam a influência sobre seus seguidores para fazer negócios, ou seja, conseguir parceiros e anunciantes, lançar tendências e divulgar produtos. Mas alguns, na sede pela fama virtual, buscam acelerar esse processo comprando mais seguidores e curtidas.

No ano passado, o Instagram resolveu fazer uma verdadeira “faxina”, removendo perfis falsos e spammers, e fez blogueiras e famosos perderem milhares de seguidores. Na época, o cantor Justin Biber deixou de ter 3,5 milhões de amigos virtuais. A modelo norte-americana Kim Kardashian, perdeu 1,3 milhão, e a cantora norte-americana Beyoncé viu seu perfil diminuir em 830 mil fãs. No Brasil, a “faxina” atingiu principalmente as influenciadoras digitais. Na época, a musa fitness Gabriela Pugliesi perdeu quase 25 mil amigos virtuais, Lalá Rudge deixou de ter 29 mil fãs; Lalá Noleto e Lia Camargo perderam 19 mil cada uma.

De acordo com a assessoria de imprensa da rede social, essa limpeza não foi uma ação isolada. “Todos os dias o Instagram tira milhares de contas que são consideradas spams. É uma luta de sempre”, disse por telefone.

Além desse tipo de fraude, há também outras formas em que as redes sociais podem “mentir” para o mero usuário. Entre os outros tipos de manipulação estão a modificação de fotos, por meio de filtros e aplicativos de edição, e a publicidade velada; essa última é bastante utilizada pelo marketing sem que isso seja percebido pelo público. Para dar “opiniões” patrocinadas sobre produtos e serviços em seus perfis, por exemplo, algumas blogueiras chegam a receber de R$ 6.000 a R$ 18 mil sem levantar qualquer suspeita.

No entanto, segundo o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), esses posts de fotos e vídeos promovendo produtos devem ser sempre sinalizados como conteúdo publicitário. O órgão chegou a notificar a blogueira fitness Gabriela Pugliesi depois de ela fazer uma publicação promovendo um produto de uma marca de cerveja. Apesar de a empresa ter argumentado que a postagem era espontânea, resultado do envio de produtos para a blogueira, o órgão entendeu que o post configurava-se como publicidade velada e exigiu mudanças no texto.

Segundo a professora do curso de comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Joana Ziller, é importante lembrar que as redes sociais são feitas por pessoas. “Há quem minta, quem não minta, quem minta mais, quem minta menos. As pessoas precisam fazer algum esforço para contextualizar. Então, se viu alguma notícia de que desconfie, pesquise mais”, orienta.

Notícias falsas

A indústria de notícias falsas tem levantado inúmeras suspeitas mundo a fora. Segundo analistas de inteligência dos EUA, agentes russos vazaram e-mails para prejudicar Hillary Clinton nas eleições de 2016. No mês passado, o Facebook revelou ter descoberto que centenas de perfis falsos compraram anúncios durante a campanha eleitoral. Os franceses também escolheram seu novo presidente numa campanha dominada por notícias falsas e escândalos. No Brasil, conforme levantamento da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas difundem notícias falsas sobre política no país.


Blogueiras dão um basta à vida virtual ‘fake’

A insatisfação com a necessidade de se mostrarem sempre perfeitas nas redes sociais fez algumas blogueiras se unirem num movimento contra a manipulação de fotos nas redes sociais. No lugar dos corpos considerados ideais, elas passaram a mostrar como é fácil modificar as imagens e passar outra impressão.

Vários truques foram desvendados: desde a escolha da roupa, do melhor ângulo, da postura, da iluminação, até os filtros e editores de imagens. A personal trainer australiana Sophie Allen compartilhou em seu Instagram duas fotos de si mesma, tiradas em momentos diferentes do dia, mostrando como seu corpo muda ao longo do tempo.

A blogueira fitness italiana Anna Victoria também mostrou como a diferença na luz poderia alterar a imagem. Um foto tirada embaixo da lâmpada do elevador revelou celulite no braço da moça; que alertou: “Sério, meninas, parem de pensar que vocês são as únicas que têm celulite e que isso é algum tipo de doença”.

Essena O’Neill tinha mais de 570 mil seguidores no Instagram quando, em 2015, decidiu revelar a vida que levava para passar outra imagem no mundo virtual e anunciou que iria abandonar as redes sociais. Nas legendas das fotografias ela explicou o que estava por trás de cada selfie e desabafou: “Por favor, alguém faça algo que não seja baseado em visualizações, likes e seguidores”.