‘Joy of missing out’

‘Jomo’: alegria de ficar de fora das redes é tendência global

Ganha força movimento mundial que ajuda a reduzir ansiedade e aumentar satisfação

Por Da Redação
Publicado em 08 de julho de 2019 | 03:00
 
 
Substituição. O estudante de engenharia Matheus Fernandes é adepto: “Me afastei de coisas que acabavam com a minha saúde” Foto: Alexandre Mota

Quem se sente mal por estar em casa quando vê fotos de viagens de conhecidos no Instagram ou acha que está desatualizado se fica offline pode estar sob os efeitos do Fomo (“fear of missing out”, ou “medo de ficar de fora”). É um fenômeno que surgiu na internet e caracteriza a ansiedade causada pela impressão de estar perdendo algo. Seu oposto é o Jomo (“joy of missing out”, ou “alegria em ficar de fora”), comportamento que tem ganhado força entre quem tenta dar um tempo na correria online para cuidar mais de si mesmo.

Christina Crook, autora do livro “The Joy of Missing Out: Finding Balance in a Wired World” (“A Alegria de Ficar de Fora: Encontrando Equilíbrio em um Mundo Conectado”, sem edição brasileira) é uma das adeptas. “As mensagens do Fomo são: não faço, tenho ou sou o bastante. Já o movimento Jomo é sobre empoderar as pessoas para elas dizerem ‘sim’ ao que realmente querem, sem achar que o caminho para a felicidade é algo que se compra”, diz, em entrevista a O TEMPO.

Um relatório da Euromonitor International, consultoria internacional de pesquisa de mercado, indica que o Jomo é uma das tendências globais para 2019 – seja em países ricos ou emergentes. Assim como o Fomo, o Jomo surgiu com o fortalecimento das redes sociais e, embora não se restrinja a isso, têm muito a ver com o uso delas.

Afastar-se das redes tem sido uma das estratégias da estudante Hanna França, 23. Ao se mudar para os Estados Unidos para estudar inglês, começou a registrar no Instagram e no YouTube tudo o que fazia. “Se em 30 minutos eu não tivesse tantas curtidas, excluía o conteúdo e planejava outro horário para postar”, diz.

A ansiedade a levou a estabelecer períodos determinados para ficar completamente sem internet – neste ano, já foram dois períodos de 21 dias cada, e ela planeja o próximo. No lugar de rolar o “feed”, conta que passa mais tempo com o cachorro, lê e tenta se aprimorar espiritualmente.

Jomo e consumo

Desconectar-se do Instagram também foi uma peça fundamental para o bem-estar do estudante de engenharia Matheus Fernandes, 24. Desde o ano passado, ele vinha excluindo o aplicativo do celular algumas vezes, mas, neste ano, decidiu desativar a conta de vez. “É uma rede que faz a gente se comparar aos outros o tempo inteiro. Parece que todo mundo está bem e só você está mal. Você está em casa, e fulano, na Tailândia. Isso me fazia até ter raiva de certas pessoas”, diz. Além de sair da rede social, ele aderiu à terapia e à academia.

Para o psicólogo norueguês Svend Brinkmann, autor do livro “The Joy of Missing Out: The Art of Self-Restraint in an Age of Excess” (“A Alegria de Ficar de Fora: A Arte do Autodomínio em uma Era de Excesso”, sem edição brasileira), o Jomo também é um antídoto contra o consumismo.

“Nossa cultura depende que desejemos, compremos e façamos cada vez mais. Ficar satisfeito hoje em dia é visto como quase um defeito, porque significa que você está contente com o que tem e, entã,o não precisa ir atrás da próxima coisa”, diz, em entrevista ao site norte-americano Vox.

‘Faz menos falta do que dizem’

Não é só a vontade de viver mais experiências “offline” que faz com as que pessoas se afastem das redes sociais. Um relatório da Euromonitor International indica que um dos motores por trás do Jomo é a desconfiança sobre a coleta de dados das redes.

A designer Bárbara de Paula, 35, explica que essa foi uma de suas motivações para sair de todas há mais de um ano. “As redes sociais são grandes ferramentas de pesquisa de mercado. As pessoas têm a impressão de que são um serviço para nos conectarmos, mas não se trata disso”, diz.

Um levantamento feito pelo jornal inglês “The Guardian” no último mês sugere que o número de interações no Facebook caiu cerca de 20% desde abril de 2018, um mês depois do escândalo envolvendo a coleta de dados na rede para a campanha de Donald Trump.

Hoje, Bárbara prefere se comunicar por ligação, SMS e cara a cara, inclusive para falar de política. “Sair das redes faz muito menos falta do que as pessoas dizem. É engraçado que eu tinha medo de me livrar delas, até me preparei por um ano antes disso”, diz.

Governo lança “detox digital”

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos lançou o programa Reconecte neste mês. O objetivo, segundo o órgão, é estimular o uso moderado de tecnologias.

Uma das ações do programa é a campanha Desafio Detox Brasil, que vai ser realizada em outubro em São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Paraná. Ela propõe que os participantes deixem de utilizar a internet por um dia.