Dieta

Moda do ‘clean eating’ coloca em risco a saúde dos jovens

‘Comer limpo’ prega comida natural, sem processamento, e pode excluir até laticínios em casos extremos

Por Da Redação
Publicado em 20 de abril de 2017 | 03:00
 
 
Conectados. Jovens acompanham blogueiras que pregam dietas variadas, levantando alerta sobre influências perigosas na alimentação Foto: Pixabay

LONDRES, REINO UNIDO. O termo ainda não é tão conhecido, mas seus efeitos e suas polêmicas já são discutidos pelos especialistas. O chamado “clean eating” – “comer limpo” – está nos pratos das famosas, como a atriz norte-americana Gwyneth Paltrow, e das blogueiras, e ganha cada vez mais adeptos, principalmente por causa das redes sociais. Mas alguns riscos desse comportamento alimentar já geram alerta no Reino Unido.

A Sociedade Nacional de Osteoporose (NOS, na sigla em inglês) descobriu que um quinto dos jovens com menos de 25 anos do país cortou ou reduziu da dieta o consumo de derivados do leite, o que pode levar a danos aos ossos. E uma dieta que, em sua forma extremista, recomenda evitar esses produtos é o clean eating, destacou recentemente um artigo da rede BBC.

Comer limpo ganhou diversas interpretações nos últimos tempos, mas, basicamente, caracteriza-se pela ênfase à alimentação sem qualquer tipo de processamento ou refinamento. A ideia é incluir no cardápio apenas comida “limpa” – isso significa dar atenção até mesmo ao trajeto da comida até o prato –, cozinhando do zero, escolhendo os alimentos em seu estado natural, além de eliminar o açúcar refinado, os corantes e os conservantes. Há versões que podem excluir glúten, grãos e até incentivar o consumo de alimentos crus.

Como pessoas de até 25 anos tendem a seguir blogueiras de saúde e dieta que divulgam o clean eating, o Reino Unido lançou campanhas para fazer com que os jovens aumentem a ingestão de produtos que contenham cálcio e sejam fontes de vitamina D.

Origem. O clean eating começou a ganhar popularidade há cerca de uma década, segundo a especialista em nutrição Catherine Collins. Ela aponta ainda que trata-se mais de um estilo de vida do que de uma dieta, algo que tem atraído adolescentes e mulheres na casa dos 20 anos. Por isso a necessidade de alerta – não se veem mães de 40 anos com filhos aderindo, ressalta a especialista.

A pesquisadora Pippa Selby, 29, começou a “limpar” a dieta após sofrer com dores nas articulações e episódios de tontura depois do nascimento da filha. Ela afirma que foi caro mudar o cardápio, mas acredita que fez diferença. Ela confessa, porém, que houve um momento em que precisou se afastar do modismo. “É fácil se tornar obcecada por isso. Pode ser tão restritivo, e há tanto disso nas redes sociais que você pode se sentir sendo atacada se não comer os alimentos corretos”, conta.

Catherine Collins destaca que, sendo clean eating uma referência para uma alimentação baseada em vegetais, ele levará ao emagrecimento e à satisfação com o corpo. Mas ela demonstra preocupação quando blogueiras recomendam o corte ou a restrição de grupos alimentares, como os derivados do leite e do trigo, sem sugerir alternativas.

“Se você não se parece com (a modelo australiana) Miranda Kerr, provavelmente isso não vai mudar para você – o visual dela se deve a bons genes, dieta restritiva e exercícios”, afirma a especialista. “Por fora, você pode parecer vibrante e linda, mas, por dentro, seu corpo pode estar implorando por nutrientes”, alerta.


Alerta aos ossos

Atriz. Em entrevista à rede BBC, a especialista em nutrição Catherine Collins lembrou que a atriz Gwyneth Paltrow afirmou, em entrevista em 2010, ter tido princípio de um quadro chamado “osteopenia”, uma perda óssea que pode levar à osteoporose, doença que acomete os ossos, comumente associada a mulheres após a menopausa.

Falta. Segundo Catherine Collins, a osteopenia pode ocorrer nas pessoas que cortam da dieta grupos alimentares como os derivados do leite, principalmente se for um hábito de muito tempo.


Depressão

Nutrientes impactam as funções cerebrais

NOVA YORK, EUA. A depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Já no Brasil, 5,8% da população sofre com esse problema. Enquanto uma série de fatores analisa as causas dessa condição da sociedade moderna, a psiquiatria nutricional avalia como a dieta está afetando a saúde mental. “Talvez o psiquiatra deveria estar perguntando o que estava no prato de jantar ontem à noite”, afirmou em entrevista à CBS News a médica Tara Narula.

O alimento desempenha um papel essencial na saúde mental, assim como nas doenças cardiovasculares e no controle de açúcar no sangue, por exemplo.

Ela aponta que pesquisas nos últimos anos mostram que uma dieta saudável está ligada a um risco reduzido de condições de transtornos mentais como depressão e ansiedade. “O cérebro é um órgão altamente metabólico. Ele usa muita energia, muitos nutrientes. Está sempre ligado e depende de combustível, mas não qualquer combustível”, disse.