Febre mundial

Óleos não emagrecem e ainda trazem riscos, dizem médicos

Coco, cártamo, chia ou gergelim: falta de estudos e uso indiscriminado preocupam

Por Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2016 | 03:00
 
 
Óleos Foto: reprodução

O óleo de coco é apenas um entre os vários tipos de “gordura” que tiveram, nos últimos anos, propriedades emagrecedoras divulgadas como quase milagrosas. Uma rápida pesquisa na internet permite comprovar que o produto caiu nas graças da povo, especialmente das mulheres. Porém, basta também uma rápida busca para perceber que a pílula não é tão dourada como pintam.

Preocupada com o consumo cada vez maior da iguaria, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) divulgaram um alerta para que as pessoas não consumam o óleo de coco com objetivo de emagrecer. As duas entidades também recomendam que o produto não seja utilizado para cozinhar, em substituição aos óleos convencionais de soja, canola e oliva, por exemplo.

“Considerando que não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico de que o óleo de coco leve à perda de peso; e considerando que o uso do óleo de coco pode ser deletério para os pacientes devido à sua elevada concentração de ácidos graxos saturados, como ácido láurico e mirístico, a SBEM e a Abeso posicionam-se frontalmente contra a utilização terapêutica do óleo de coco com a finalidade de emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde”, diz documento divulgado pelas instituições.

Ainda segundo a nota, o uso do óleo de coco na cozinha também oferece riscos à saúde “devido ao seu alto teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias”. “O uso de óleos vegetais com maior teor de gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação, é preferível para redução de risco cardiovascular”, conclui a nota.

O presidente da SBEM, Alexandre Hohl, diz que outro grande problema é que as pessoas, pensando se tratar de um óleo mais saudável, acabam consumindo em excesso. “A questão é a seguinte: é uma gordura. Quando se propaga que gordura pode ser usada livremente é um perigo. É importante entender que, apesar de haver alguns benefícios, não deve ser usado sem limites, como qualquer gordura”.

Ele é taxativo ao afirmar que não há qualquer pesquisa randômica feita em seres humanos que comprove propriedade emagrecedora nem do óleo de coco nem de outros óleos, como o de cártamo, de chia, entre outros.

A presidente da Abeso, endocrinologista Cintia Cercato, bate na mesma tecla: “Não tem nenhuma evidência cientifica de que os óleos tenham algum efeito no emagrecimento, na saciedade ou que acelerem o metabolismo. Não devem ser recomendados com essa finalidade”, afirma.

O consumo desenfreado desses óleos preocupa, diz a médica. “Essas substâncias estão na moda. Se falar que emagrece, todo mundo vai atrás. As pessoas têm que buscar informações em fontes seguras, como sociedades médicas, antes de consumir”, diz.

Fuja das fórmulas mágicas

Especialistas são unânimes em pelo uma questão sobre obesidade: em vez de ir atrás de fórmulas mágicas para emagrecer, as pessoas devem entender que a obesidade é uma doença crônica e deve ser tratada por toda a vida.

Monica Beyruti e Renata Bressan, nutricionistas da Abeso, ensinam que o tratamento começa com mudança de estilo de vida. “As pessoas que precisam emagrecer devem seguir não uma dieta restritiva, mas fazer uma reeducação alimentar, corrigindo os hábitos errados”, afirmam. No dia a dia, consumir frutas, verduras, legumes, grãos integrais, castanhas, carnes magras, leites e derivados magros. Doces, frituras e guloseimas também podem fazer parte da alimentação, desde que consumidos com moderação, dizem elas. (Da redação)

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Análise

A população mundial vem aumentando de peso nas ultimas décadas, e as estatísticas mostram que, se não tivermos uma mudança radical de comportamento alimentar atrelada a um maior entendimento hormonal e metabólico, talvez em 2025 cerca de 100% da população mundial esteja acima do peso.

Como as soluções médicas para o tratamento da obesidade são, na maioria das vezes, ineficazes, pois dependem muito de comportamento, foco e empenho dos pacientes, nos vemos hoje diante de uma explosão de tratamentos e terapias voltadas para o emagrecimento. A maioria delas sem qualquer respaldo científico ou comprovação de eficácia.

Não podemos nos tornar cobaias e testar terapias sem antes termos uma comprovação científica de que sejam seguras antes de serem eficazes. O consumo excessivo de óleos vegetais de todos os tipos pode ser, sim, prejudicial à saúde, pelo tal devem ser usados com cautela e sempre sob orientação de um médico, pois somente ele saberá dizer se o consumo será adequado para cada tipo de paciente. A maioria das informações a cerca dos benefícios desses óleos não vem de uma literatura confiável, o que sobremaneira nos preocupa muito. Nós, endocrinologistas, abordamos a obesidade como uma doença que vai muito além de um problema alimentar.

Existem fatores genéticos, hormonais e metabólicos envolvidos nesse contexto, e somente o médico poderá interpreta-los. Infelizmente, nosso arsenal terapêutico para tratar a obesidade é escasso, principalmente após a Anvisa erroneamente restringir e ate banir diversos medicamentos usados para tal.

Hamilton Junqueira
Endocrinologia e Metabologia