Marcas de diversos segmentos mundo afora estão criando iniciativas solidárias e usando a estrutura industrial para a produção de máscaras e outros itens que são doados para suprir a escassez de materiais na luta contra o coronavírus. Sejam para marcas de alto luxo mundiais ou para empresas pequenas e independentes, a moda, de forma geral, tem agido de forma significativa no combate à pandemia.

Após a constatação de que o uso da máscaras pode ajudar na prevenção e melhorar o controle do índice de contaminação comunitária, cerca de 65 empresas, marcas e profissionais da moda mineira declararam seu engajamento na causa e se voluntariaram no movimento chamado “Um Milhão de Máscaras” (“1MM”), uma rede de apoio que visa à produção do item de proteção e, claro, à conscientização da população para o uso.

Cada marca oferece ajuda de todo tipo e como pode. Há aquelas que estão propriamente fabricando as máscaras, enquanto outras fazem o corte ou reúnem costureiras. Há também empresas que doam materiais para confecção do acessório, como tecidos e elástico. 

A marca mineira Márcia Morais disponibilizou a estrutura da sua fábrica para a produção das máscaras, que estão sendo feitas por uma equipe reduzida no local para manter o distanciamento entre as pessoas. A finalização é feita pelas costureiras em suas próprias casas. “A indústria da moda precisa se reinventar, mais do que qualquer outra, principalmente as formas de produção e o consumo consciente. São questões que ficarão muito evidenciadas após a pandemia. Mas, neste momento, precisamos pensar no papel social da moda. É um momento de solidariedade, união e muita força para que possamos dar nossa contribuição e focar a preservação da vida e a saúde das pessoas”, avalia Alice Correa, gerente de desenvolvimento de produto da marca Márcia Morais.

Outras ações
O mineiro Virgilio Andrade, estilista por trás da Virgilio Couture, faz máscaras para suas clientes usando refugo dos tecidos de suas peças. “Fui arrumar o meu ateliê durante a quarentena e me deparei com vários pedaços de tecido que estavam sobrando de produções. Resolvi fazer máscaras e tenho dado de presente para clientes da marca”, revelou Virgilio, que entrega o acessório para os clientes explicando sobre os processos de higienização. 

As máscaras são feitas com estampas exclusivas. “Usar uma máscara com uma linguagem de moda faz com que a gente se sinta melhor do que usar aquela que remete ao hospital e à doença”, opina ele.

Marcas de luxo se unem na luta

A Louis Vuitton (foto acima) é uma das grifes mundiais do mercado de luxo que passaram a produzir máscaras não cirúrgicas como apoio no combate à Covid-19. Cerca de 300 artesãos foram mobilizados para a produção nas oficinas francesas. “Penso que vivíamos uma certa indigestão, um excesso de produção, de consumo, de tudo. A moda já não vinha bem há tempos. Esta pausa obrigatória leva o setor como um todo a refletir e repensar todo o sistema”, opina Natalie Oliffson, consultora em negócios de moda e projetos criativos.

A grife italiana Prada também iniciou, no mês passado, a produção de 80 mil macacões médicos e 110 mil máscaras para serem doados aos profissionais de saúde da região da Toscana, uma das mais afetadas na Itália. Além dela, Saint Laurent e Balenciaga e a italiana Gucci também já fabricam máscaras para suprir a escassez.

A jornalista, mestre e doutora em comunicação e moda Carla Mendonça explica que essas produções significativas mobilizadas pelo mercado de luxo colocam as labels em um posicionamento assertivo no mercado. "Essas empresas melhoram a suas imagens significadamente e possuem recursos para fazerem isso pois são grandes marcas", analisa. 

Vale dizer que o mercado de luxo está sendo um dos mais atingidos na produção. Carla cita, como exemplo, a reabertura da grife  Hermès na China, neste mês, em que as vendas pós-coronavírus atingiu recorde e vende US$ 2,7 milhões em um dia. "A preocupação mesmo é com as marcas pequenas e como elas poderão sobreviver após o reflexo econômico da pandemia. Acredito que a compra online irá se consolidar mais, mas isso também requer investimento para se sobressair dentro desse universo", opina.

CONTRIBUA:

Financiamento. O movimento “1MM” criou um financiamento coletivo para a contribuição da produção das máscaras. As doações podem ser feitas em qualquer quantia, e o dinheiro arrecadado será utilizado para acelerar o movimento de produção, com a compra de materiais e remuneração do trabalho das costureiras.

Participe. O site para doação é evoe.cc/um- milhao-de-mascaras.