Foram duas edições 100% digitais. Nada de fila A e seus cobiçados press kits, backstages lotados, salas cheias, disputa de convite na porta e desfiles sequenciais. Nada de close e, também, nada de corre. Roupas, tendências e passarelas migraram para o ambiente virtual durante a pandemia do coronavírus.
 
Mas, aos poucos, a São Paulo Fashion Week (SPFW) parece retomar aos velhos tempos. Entre os dias 17 e 21 de novembro, na capital paulistana, aconteceu mais uma edição do evento, desta vez em formato híbrido, como todo o conteúdo de 52 desfiles presenciais e digitais transmitidos em tempo real.  
De um lado, os poucos desfiles presenciais fizeram com que estilistas saíssem do estado de letargia forçada dos últimos dois anos. Embora seja cedo para dizer se o choque do isolamento mudou as entranhas da criação de moda do lado de cá do Atlântico, os primeiros dias da semana deixaram evidente o quanto os criadores andam reflexivos.  
 
O mineiro Ronaldo Fraga é um deles. Bem antes da pandemia, o estilista já defendia que “o desfile não era presencial havia muito tempo”. “A grande maioria das pessoas acompanhava as apresentações nas redes sociais. Com o exercício dessas duas edições da SPFW passadas, vi que é possível levar as pessoas para passear por todo o Brasil. De certa forma, foi o que eu sempre procurei fazer”, disse. Fraga apresentou a coleção
 
“Entre Tramas e Beijos”, que reflete sobre a moda em um cenário pós-pandêmico: “Em um mundo com tantas urgências e buracos, sendo a moda um vetor que intimamente estabelece um diálogo com o tempo, espero que a roupa traga aquilo que esse tempo precisa: olhar para o diverso, para o indivíduo e a fantasia de moda”, disse ele, otimista.  
 
Paulo Borges, fundador e diretor criativo do SPFW, engrossa o coro sobre a necessidade de abordar cada vez mais sobre pessoas do que sobre tendência propriamente dita. “Em poucos dias, a moda brasileira estará novamente com toda sua potência, resiliência e com a certeza de novos aprendizados, que nos servirão de guia para os próximos anos. Como já disse anteriormente, não se trata de roupas, se trata de pessoas. A SPFW é um ato coletivo”, diz. 
 
André Boffano, diretor criativo da marca Modem, concorda. Sua apresentação, também organizada para o ambiente virtual, foi focada em peças que conversam com o momento atual, em que clientes anseiam por roupas atemporais com design e sem abrir mão do conforto. 
 
“Desfile também tem o seu valor, é uma forma muito importante de se apresentar a coleção e falar de todo o universo da marca, além do produto. Mas eu prefiro que a retomada ao presencial seja aos poucos, com cautela”, planeja o diretor criativo que, nesta edição, estreou uma linha com itens unissex, para atender de forma sofisticada e atemporal o crescente público masculino da marca. 
 
Explorar novas fronteiras, talvez, seria o caminho para atingir o cliente que, agora, sonha com roupa para sair da toca. O mineiro Célio Dias, mente criativa por trás da LED, segue fazendo apresentações digitais nesse momento, integrado ao line-up da SPFW. “Estou ansioso para voltar para os desfiles presenciais, mas confesso que essa apresentação tem um gosto de volta pra casa, e é uma delícia poder estar em dois lugares ao mesmo tempo, o que de fato o evento no formato original não permite”, disse ele, que inaugurou na semana passada o primeiro ponto físico em BH – a Casa LED, localizada no Mercado Novo.