Alimentação

Maioria dos brasileiros quer adotar hábitos mais saudáveis

Principal obstáculo para mudar a rotina, segundo pesquisa, é o fator financeiro (57%)

Ter, 22/08/17 - 03h00
Ângela começou um processo de reeducação alimentar e percebeu melhoras, como no sono | Foto: Fred Magno

Doze quilos a mais na balança fizeram com que a estudante de direito Ângela Dias, 25, começasse um processo de reeducação alimentar em 2014. A jovem notou que desde seu ingresso na universidade sua alimentação não estava saudável, com isso, vários aspectos do seu dia a dia eram afetados, a começar pela disposição. “A qualidade do meu sono melhorou, meu nível de estresse diminuiu. Acordo mais disposta e bem animada para fazer as coisas que tenho que fazer”, conta.

Assim como Ângela, 80% das pessoas possuem a consciência de que devem mudar os hábitos alimentares. Isso é o que mostra uma pesquisa realizada pela Proteste, Associação de Consumidores. O estudo entrevistou 2.406 pessoas de todo Brasil, de idades entre 17 e 74 anos, e questionou-as se mudaram os hábitos alimentares nos últimos dois anos. Apesar de a grande maioria se mostrar ciente da necessidade de adotar hábitos mais saudáveis, 73 % não passaram no teste.

Segundo a pesquisadora responsável pelo levantamento, Geraldine Araújo, os entrevistados apresentaram algumas barreiras para se começar uma alimentação saudável. A principal delas é a dificuldade financeira (57%), seguida pela falta de tempo (36%). Os entrevistados esbarraram, ainda, em questões como não resistir a alimentos pouco saudáveis (37%) e achar difícil demais mudar os hábitos alimentares (28%).

A nutricionista especialista em segurança alimentar e nutricional Beatriz Carvalho diz que há formas menos radicais para um primeiro passo na mudança de hábitos.

“Mudar não significa restringir ou adotar regimes radicais. São mudanças possíveis dentro da realidade de cada pessoa. E, para fazer essa escolha diante de tantas informações equivocadas que circulam, deve buscar orientação profissional”, ressalta.

“Um dos pontos principais é reduzir o consumo de alimentos processados e ultraprocessados e aumentar a ingestão de alimentos in natura ou minimamente processados. Isso significa, por exemplo, reduzir refrigerantes, refrescos em pó, biscoitos industrializados, principalmente com recheios e coberturas, e aumentar o consumo de frutas, sucos naturais, verduras, legumes, cereais e grãos”, diz a nutricionista.

Mudança de hábitos. Para atingir o objetivo, Ângela não radicalizou. Ela começou aos poucos e, hoje, passou a adotar a alimentação saudável como rotina. “Fui aos poucos cortando aquilo que sabia que fazia mal, sem muito radicalismo. Não quis dar ideia de algo ruim e difícil para algo que seria bom para mim”.

Da mesma forma fez a advogada Mariana Rosa, 24, que, em um ano, perdeu 20 kg, sendo 12 kg em apenas três meses. “Associei uma alimentação mais regrada e balanceada (com consumo maior de legumes, frutas e menos doce) com a prática de exercício físico”, relata Mariana. Ela diz que não precisou parar de comer alimentos de que gosta. “Nunca deixei de comer nada que gostasse, apenas diminuí, pois eu realmente gosto de comer, tenho prazer nisso, apenas diminuí a compulsão”, conclui.

Peso. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em abril deste ano, mostram que a prevalência da obesidade na população brasileira passou de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em 2016.

Falta política pública, diz nutricionista

O principal empecilho que leva à precarização da alimentação do brasileiro são as políticas públicas defasadas, avalia a nutricionista Beatriz Carvalho. “Nas últimas décadas, reduzimos significativamente os índices de desnutrição e saímos do mapa da fome. Por outro lado, aumentamos os índices de sobrepeso, obesidade e outras doenças relacionadas à alimentação inadequada”, lamenta.

“É necessário criar políticas públicas e outras medidas que apoiem a produção de alimentos locais e regionais saudáveis e que esse alimento chegue até os consumidores de todas as faixas de renda”, defende a nutricionista.

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