Ciência

Pesquisa associa o TDAH a alterações no sistema imunológico

Transtorno pode estar ligado a excesso de molécula produzida no corpo

Por Da Redação
Publicado em 01 de dezembro de 2018 | 03:00
 
 
Agitação. De difícil diagnóstico, o TDAH pode demorar anos até ser identificado Foto: Freepik/reprodução

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma doença cuja origem permanece desconhecida para a ciência. Um novo estudo mostra, no entanto, que seu desenvolvimento pode estar associado a alterações do sistema imunológico, mais especificamente a níveis elevados de uma molécula produzida pelo organismo: a interleucina-6 (IL-6). A pesquisa foi conduzida por neurologistas e psiquiatras da Faculdade de Medicina de Tanta, no Egito.

Segundo o neuropsicólogo Guilherme Hosken, a interleucina-6, além de estimular a resposta imune do corpo, por exemplo, durante a infecção e depois do trauma, é fundamental para o pleno funcionamento do sistema nervoso. “Ela também está ligada ao desenvolvimento saudável dos neurônios e das células da glia, que auxiliam e dão suporte para o funcionamento do sistema nervoso”, afirma.

Nesse caso, o problema estaria na produção em excesso dessa substância, que pode afetar o desenvolvimento cerebral ainda na infância. “A interleucina-6, em muita quantidade, também pode diminuir a frequência de ondas cerebrais presentes no córtex pré-frontal. Elas são responsáveis pela capacidade de concentração e pelo raciocínio mais forte e coeso, o que levaria a uma das principais características do transtorno: desatenção e impulsividade”, explica Hosken.

O especialista esclarece ainda que excesso da substância no cérebro também pode afetar a liberação de alguns neurotransmissores, aumentando o efeito excitatório e diminuindo o controle sobre o efeito inibitório. “Esse é um mecanismo que pode explicar a hiperatividade e o comportamentos inadequados do portador sob determinada circunstância. Ainda pode haver influência no tempo de reação e a memória de trabalho (que permite o armazenamento temporário de informação com capacidade limitada)”, diz Hosken.

Procedimento

O objetivo da pesquisa era medir o nível da interleucina-6 no sangue e estudar a sua correlação com a gravidade dos sintomas no TDAH. O experimento envolveu 60 crianças com diagnóstico de TDAH e 60 crianças sem a doença (grupo controle). O nível da interleucina-6 nas crianças com TDAH foi de 22,35. Já no grupo de controle, foi de 5,44 – quase cinco vezes mais.

Para o neuropsicólogo, os resultados podem ajudar, principalmente, na produção de um medicamento que controle a produção de interleucina-6. “Uma vez que a quantidade possa ser manuseada, vamos poder restabelecer a normalidade no funcionamento do sistema nervoso.

 

Consumo de ômega-3 é alternativa

A saúde do cérebro humano, principalmente nos primeiros anos de vida – período de maior diagnóstico do TDAH –, está ligada, também, à alimentação. “O que as crianças comem afeta as suas habilidades cognitivas, aprendizagem, exploração e desenvolvimento do senso criativo”, explica o neuropsicólogo Guilherme Hosken.

Além de melhorar a alimentação, uma das alternativas é o suplemento de ômega-3. “Melhora sintomas como desatenção e hiperatividade em crianças e adultos. O ômega-3 atua na inibição da produção da interleucina-6”, orienta o especialista.

Flash

Números. Deacordo com dados da Organização Mundial de Saúde, o TDAH afeta de 3% a 5% das crianças no mundo.