Há exatos 40 anos, na Inglaterra, nascia Louise Joy Brown, a primeira criança concebida por meio de fertilização in vitro no mundo, fruto da técnica de reprodução assistida desenvolvida pelo médico Robert Edwards (ganhador do Prêmio Nobel). Atualmente, Louise leva uma vida normal com o marido e os dois filhos, de 11 e 4 anos – concebidos naturalmente.
Nessas quatro décadas, a fertilização in vitro (que durante muito tempo ficou conhecida como “bebê de proveta”) foi aperfeiçoada e tornou-se popular no mundo todo. Estima-se que mais de 8 milhões de bebês tenham nascido graças ao método. Nesse período, o índice de sucesso passou dos 10% para os 50%, deixando o termo “proveta” apenas como recordação.
Segundo o ginecologista Ricardo Marinho, especialista em reprodução humana da clínica Pró-Criar, a mudança no recipiente usado na reprodução assistida é apenas um dos avanços. O aumento da quantidade de óvulos obtidos no processo é um deles.
A ginecologista Hitomi Nakagawa, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), explica que, no início, as fertilizações in vitro eram feitas por meio dos ciclos espontâneos da mulher, conseguindo-se apenas um óvulo por mês. “Com a criação de novos medicamentos indutores da ovulação, passamos a recolher vários óvulos em cada tratamento, o que aumenta significativamente as chances de sucesso”, afirma.
Além disso, o processo de retirada desse óvulo era incerto. “Muitas vezes, quando os instrumentos cirúrgicos chegavam para capturar o óvulo, ele já havia se perdido”, pontua a médica.
Para Marinho, outro ponto positivo é a diminuição do risco de hiperestimulação ovariana. “Antes, não dava para prever quantos óvulos a mais a mulher produziria naquele mês”, explica o médico. Ele ressalta que esse excesso trazia riscos de trombose, derrame no pulmão, líquido no abdômen e torção ovariana.
Excesso. Um dos fatores que mais preocupavam médicos e famílias era a possibilidade de a mulher ter dois ou mais filhos de uma só vez no procedimento, o que geralmente não estava planejado. Mas isso ficou no passado. “A taxa de gravidez múltipla diminuiu, uma vez que é possível manter os embriões fora do útero materno por alguns dias e implantar somente o que está vingando”, aponta Hitomi.
De acordo com os especialistas, antigamente, o costume era implantar até oito embriões de uma vez. Se pelo menos quatro deles vingassem, a mulher seria mãe de quadrigêmeos, o que aumentava o risco da gestação tanto para a mãe quanto para os bebês.
Congresso
Ciência. Brasília recebe, entre os dias 1º e 4 de agosto, o XXII Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida (XXII CBRA), que traz os avanços da reprodução assistida e suas alternativas.
Números no Brasil
65.689 embriões foram implantados em 2017.
Minas Gerais é o segundo Estado, com 8.289.embriões.
O Sudeste tem 65% dos embriões congelados.
166 clínicas estão cadastradas pela Anvisa.
Minientrevista
Louise Brown
Primeiro bebê de proveta do mundo
Como é chegar aos 40 anos?
Meu aniversário individual não é importante, mas é fantástico para a fertilização in vitro atingir esse marco.
Durante sua vida, como você lidou com isso?
Nunca me senti diferente. Tem havido aspectos bons e ruins ao longo dos anos, mas fico feliz de saber do crescente número de pessoas que trabalham com a fertilização in vitro, além das famílias e dos bebês.
Você tem dois filhos concebidos naturalmente. Em algum momento teve receio durante as duas gestações?
Eu sou exatamente como todos os outros seres humanos, então nunca houve um momento em que eu me preocupasse com isso.
Você tem contato com mulheres que escolheram passar pelo procedimento?
Conheci e ainda conheço muitas mulheres em clínicas de fertilização in vitro que eu visito pelo mundo.