Saúde

Seis em cada sete usuários de droga não recebem tratamento

ONU diz que 35 milhões que usam entorpecentes têm transtornos; consumo mata 585 mil por ano; maconha é a mais popular, mas os opioides são os que mais causam mortes

Por Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2019 | 06:00
 
 
Crianças caminham em campo de plantação de papoulas – matéria-prima do ópio – na Ásia Foto: PHYO HEIN KYAW / AFP - 5.3.2016

Em todo o mundo, 35 milhões de pessoas sofrem algum transtorno por uso de drogas e apenas uma em cada sete delas recebe tratamento. O consumo de entorpecentes matou, em 2017, 585 mil pessoas. Os dados fazem parte do mais recente Relatório Mundial sobre Drogas, divulgado ontem pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). 

O documento também estima o número de usuários de opioides em 53 milhões para o ano de 2017 – 56% acima das estimativas de 2016. A droga mais popular ainda é a maconha, com 188 milhões de consumidores, mas as mais letais são os opioides, responsáveis por dois terços das mortes atribuídas ao uso de entorpecentes.

As melhorias nas pesquisas, que permitiram dados mais precisos, revelam que as consequências adversas para a saúde do uso de drogas são mais graves do que o era difundido e se pensava antes, alerta o documento da ONU. 

As estimativas mais elevadas para 2017 são o resultado de um melhor conhecimento da extensão do uso de pesquisas realizadas na Índia e na Nigéria, dois dos dez países mais populosos do mundo.

O documento estima que 271 milhões de pessoas – 5,5% da população entre 15 e 64 anos – usaram entorpecentes em 2016. Globalmente, 11 milhões de pessoas injetaram drogas em 2017, das quais 1,4 milhão vive com HIV, o vírus da Aids, e 5,6 milhões, com hepatite C.

“As conclusões do Relatório Mundial sobre Drogas deste ano complicam ainda mais o quadro global dos desafios das drogas, ressaltando a necessidade de uma cooperação internacional mais ampla para avançar nas respostas integradas de saúde e na justiça criminal para a oferta e demanda”, disse Yury Fedotov, diretor executivo do UNODC.

Mercado ilegal

Quanto à produção, o relatório alerta que tanto o ópio quanto a cocaína bateram recordes, enquanto as drogas sintéticas continuam em expansão. A produção mundial de cocaína em 2017 atingiu um nível histórico, com 1.976 toneladas, 25% a mais do que no ano anterior, sendo que 70% da produção com 100% de pureza vem da Colômbia.

A quantidade de cocaína confiscada pelas forças de segurança também é a maior da história, 1.275 toneladas, um aumento de 13% com relação ao ano anterior, um dado que parece apontar para uma melhora da cooperação internacional entre as polícias.

Segundo o UNODC, a quantidade de cocaína disponível para o consumo aumentou mais lentamente do que a produção. “Enquanto as apreensões de cocaína aumentaram 74% na última década, a produção cresceu 50%”, aponta.

Líder

O Afeganistão é o maior produtor de ópio do mundo, seguido pelo México, com 586 toneladas, que superou Myanmar. Os cultivos de papoila-dormideira no México subiram progressivamente na última década e passaram a ocupar 30.600 hectares em 2017, quando dez anos antes as plantações correspondiam a 6.900 hectares.

O aumento também foi notado no caso das drogas sintéticas. A crise de overdose de opiáceos sintéticos da América do Norte também alcançou novos patamares em 2017, com mais de 47 mil mortes por overdose de opioides registradas nos Estados Unidos, um aumento de 13% em relação ao ano anterior, e 4.000 mortes relacionadas a opiáceos no Canadá, um aumento de 33% em relação a 2016.

Na Ásia, o continente mais habitado, elas são as mais consumidas. A ONU reconhece ser difícil fazer estimativas desse tipo de substância, mas o aumento das apreensões e a diminuição dos preços apontam para um mercado em contínua expansão.

Nova epidemia

A ONU alerta sobre uma nova epidemia invisível de opioides na África, causada por um analgésico chamado tramadol. O relatório indica que 
o mercado desse produto está se ampliando rapidamente, não só pelas Áfricas Ocidental e Central, mas também pelo Oriente Médio. As apreensões dessa substância no mundo todo passaram de 10 kg, em 2010, para 13 toneladas
em 2013 e 125 toneladas, em 2017, e a ONU alerta para o seu impacto na saúde em uma região 
do planeta com poucos recursos.

Em Minas

Um estudo realizado pela Ong Defesa Social em Minas Gerais mostrou que a estratégia de redução de danos (trocar uma droga por outra de menos poder ofensivo) é reprovada por 57,5% das pessoas, enquanto 37% confiam nas comunidades terapêuticas. Os dados da Pesquisa Estadual sobre Drogas e Álcool (Pedra) 2019, foram baseados em entrevistas com 356 pessoas de todas as regiões do Estado.

O estudo mostrou ainda dados alarmantes: 70,8% conhecem alguma criança ou adolescente que usa drogas. Entre esses, 65,3% fazem uso de maconha e 34,7% de álcool.

Para tentar auxiliar familiares e dependentes químicos no Brasil todo a Defesa Social lançou o aplicativo “Contra Drogas” em que as pessoas podem buscar e pedir ajuda para si, ou para alguém que queiram ajudar. A ferramenta também conta com campos de busca por serviços e localizar grupos e associações de apoio.